segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Silenciado


Gere o silêncio, certifica-se de que o ganho em calar compensa. Sustenta a segurança falseada por um atalho de inacção. O valor das palavras, transfere-o para o plano da imaginação, criatividade vã e solitária. Descapitaliza a força das emoções, perde o ímpeto do que fica por mencionar. As palavras omitidas, transfere-as para a abstracção inútil e fechada que ele instrumentaliza para, por fim, tornar-se o instrumento do próprio medo da reacção externa. A reacção como efeito da interacção detida pela teimosia mental em ousar prever a reacção por sua vez detida

Amarrado na já vasta película de cenários na mente e auto-convencido pelo orgulho na sua racionalidade, raciona as palavras, esconde-as no domínio do inviável, fecha-as numa arca e sustem a fé na ausência de riscos. Conforta-se na sua convenção do aceitável, do recomendável e detêm-se de veredas onde alguém o aguarda encontrar. Criam vácuo de recíproca gestão de silêncios e perpetuam a aflição da pausa agitadora num rumo perceptível de desconforto em que o arrependimento se agudiza no eterno adiar.

Todos escondem o que alguém espera ouvir. Esperam todos o momento certo para acertar contas com o tempo mas são os momentos que marcam a traição dos que esperam. Ficam despojos do tempo e da luta assente em previsões desfavoráveis. Essa ficção, a percepção segura de uma reacção a evitar, engana-o com a força tal que lhe sussurra também a expectativa passada e arrastada de uma troca que ficou pendente em mútua abstinência e silenciada vontade.


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