terça-feira, 26 de julho de 2011

Desresponsabilizados e Indomáveis

A desresponsabilização individual tem as suas aparições diárias em toda a parte. Pensemos em alguns exemplos vulgares. Se a máquina do café na empresa avariou enquanto eu a usava, melhor fugir e não assumir a culpa. Se já tinha prestado atenção naquela fuga de água que andava a apodrecer os alicerces do prédio mas tolerei porque o senhorio me propôs um desconto para contar com a minha confiança e discrição. Se um projecto foi chumbado à conta da minha completa incompetência e desleixo mas, curiosamente, o avaliador não goza de grande empatia junto da maior parte das pessoas, posso maximizar a inimizade em torno dele para desfocalizar dos meus insucessos. Se tenho um eucaliptal que pouco, ou nada, significa para mim e do qual não extraio quaisquer benefícios mas, por acaso, foi consumido por um incêndio que deixei alastrar, não procurei travar para que os danos causados correspondessem a alguma futura compensação.


Bem…em todos estes casos compreende-se a ânsia pela fuga à responsabilidade, a tentação de não ser inteiramente honesto, o vislumbre de ganhos à custa de terceiros, a atribuição de culpas a um inimigo imaginário, despreocupação em relação ao esforço que os outros terão de mobilizar para pagar pelos nossos erros, a justificação à custa de agentes alheios à ocorrência, omissão de fracassos pessoais e a beatificação da falta de escrúpulos.

Surge então o contentamento em virtude daquele desenrasque forjado e o indivíduo em causa, o designado estúpido, congratula-se por conseguir fintar os outros e falsear a realidade. Esta espécie empenha-se também em assumir uma postura convicente no contexto da ocorrência e chega a convencer-se a ele próprio. Pode ser bastante doloroso observar esta mal disfarçada estupidez tão à descarada mas o cenário pode ficar ainda pior. Se estas atitudes são insuportáveis quando observadas num só indivídio, imaginemos agora isto multiplicado por muitos…centenas, milhares. Todo um agregado de gente puramente estúpida, fielmente desinteressada em compreender a orgânica dos problemas, especialistas da abstracção , num escape esturpecedor, por vezes patriota, extasiante das emoções que atropela a razão, a responsabilidade e qualquer código de conduta própria.

Este grupo de estúpidos vai actuar ao ritmo do plano intencional de desresponsabilização unida e coordenada pela propaganda que lhe apela à sensação de excepcionalidade e intocabilidade, ao patriotismo inabalável em posição de eterna vítima das forças externas. O ideal seria a agressividade desta imagem ficar reservada ao imaginário mas conviver com uma maioria normalizada segundo este padrão é um pesadelo sem aparente retrocesso à vista. Quanto mais estúpido é o indivíduo, mas entusista se revela por alguma massa falaciosa que lhe remata as lacunas mentais. Como se não bastasse a dor de ver o ser humano ser estúpido, que é uma coisa que desperta algum misto de sentimento nos poucos que não alinham na estupidez, a grande desvantagem disto tudo é ter de pagar a conta no fim da festa.

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