quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Abraçado ao muro, conheceu a vastidão em volta em ainda em pijama, mirados os campos em redor, o rio por explorar, as árvores tornadas voluptuosas, a montanha por escalar, o aglomerado habitacional que despertara ali bem perto e, ainda em pijama, sacudiu as mangas já vencido pelo muro, baixou-se para arrancar umas poucas ervas em volta, apertou com afinco o cinto do robe e voltou para casa. O banco de baloiço continuaria a servir o propósito de que não se apercebera ainda. Entreter o tempo, confortar um espaço de inércia com a impressão de movimento. Esperança é a insistência em esperar, a condição teimosa dos que esperam. Esperam num fundo de equívoco bem engendrado e fechado, culpando terceiros por não invadirem a sua propriedade, essa propriedade jamais revelada.
sábado, 25 de dezembro de 2010
But we define ourselves by the choices we have made. We are, in fact, the sum total of our choices. Events unfold so unpredictably, so unfairly, Human happiness does not seem to be included in the design of creation.
It is only we, with our capacity to love that give meaning to the indifferent universe. And yet, most human beings seem to have the ability to keep trying and even try to find joy from simple things, like their family, their work, and from the hope that future generations might understand more.
Professor Levy
Crimes and Misdemeanors, Woody Allen
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
na época mais "altruísta" do ano
-I feel it. I don't go by my head, but by my heart. You might be good at logic, but you're heartless.
- Madame, when we'll see men dying of starvation around us, your heart won't be of any earthly use to save them. And I'm heartless enough to say that when you'll scream, "but I didn't know it", you will not be forgiven.
Ayn Rand, Atlas Shrugged, 385
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
it's over
confusão
Fernando Pessoa
Let Down - Radiohead
Let down and hanging around
Crushed like a bug in the ground
Let down and hanging around
Shell smashed, juices flowing
Wings twitch, legs are going
Don't get sentimental
It always ends up drivel
One day I'm going to grow wings
A chemical reaction
Hysterical and useless
Hysterical and ...
Pausas Violentas
Silenciado
Amarrado na já vasta película de cenários na mente e auto-convencido pelo orgulho na sua racionalidade, raciona as palavras, esconde-as no domínio do inviável, fecha-as numa arca e sustem a fé na ausência de riscos. Conforta-se na sua convenção do aceitável, do recomendável e detêm-se de veredas onde alguém o aguarda encontrar. Criam vácuo de recíproca gestão de silêncios e perpetuam a aflição da pausa agitadora num rumo perceptível de desconforto em que o arrependimento se agudiza no eterno adiar.
Todos escondem o que alguém espera ouvir. Esperam todos o momento certo para acertar contas com o tempo mas são os momentos que marcam a traição dos que esperam. Ficam despojos do tempo e da luta assente em previsões desfavoráveis. Essa ficção, a percepção segura de uma reacção a evitar, engana-o com a força tal que lhe sussurra também a expectativa passada e arrastada de uma troca que ficou pendente em mútua abstinência e silenciada vontade.
Perdi os Meus Fantásticos Castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!
Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los?
– Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!
Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...
Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
The Smiths - Is It Really So Strange
I left the south
I travelled north
I got confused - I killed a horse
I can't help the way I feel
Oh yes, you can punch me
And you can hurt me
And you can break my spine
But you won't change the way I feel
'Cause i love you
And is it really so strange ?
Oh, is it really so strange ?
Oh, is it really so, really so strange ?
I say no, you say yes
(but you will change your mind)
Why is the last mile the hardest mile ?
My throat was dry, with the sun in my eyes
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
now my heart is full
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Please, please, please, let me get what I want
It's these cards and the movies and the pop songs, they're to blame for all lies and the heartache, everything. People buy cards 'cause they can't say how they feel, or they're afraid to. We provide the service that lets them off the hook.People should be able to say how they feel - how they really feel - not, you know, some words that some strangers put in their mouths. Tom, 500 Days of Summer
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
"Life isn't like in the movies. Life... is much harder."
Alfredo: Living here day by day, you think it's the center of the world. You believe nothing will ever change. Then you leave: a year, two years. When you come back, everything's changed. The thread's broken. What you came to find isn't there. What was yours is gone. You have to go away for a long time... many years... before you can come back and find your people. The land where you were born. But now, no. It's not possible. Right now you're blinder than I am.
domingo, 31 de outubro de 2010
fifteen minutes with you
Oh, people said that you were virtually dead
And they were so wrong
Fifteen minutes with you
Oh, well, I wouldn't say no
Oh, people said that you were easily led
And they were half-right
(...)
Fifteen minutes with you
Oh, I wouldn't say no
Oh, people see no worth in you
Oh, but I do.
Patti Smith - Privilege (Set me free)
Give me something.
Give me something to give.
Oh, god, give me something:
A reason to live.
My body is aching.
Don't want sympathy.
Come on. Come and love me.
Come on. Set me free.
Set me free.
The lord is my shepherd. I shall not want.
He maketh me to lie down in green pastures.
He leadeth me beside the still waters.
He restoreth my soul.
He leadeth me through the path of righteousness for his name's sake.
Yea, though I walk through the valley of the shadow of death,
I will fear no evil, for thou art with me.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
The Psychology of Pleasure
Pleasure (in the widest sense of the term) is a metaphysical concomitant of life, the reward and consequence of successful action—just as pain is the insignia of failure, destruction, death.
Through the state of enjoyment, man experiences the value of life, the sense that life is worth living, worth struggling to maintain. In order to live, man must act to achieve values. Pleasure or enjoyment is at once an emotional payment for successful action and an incentive to continue acting.
The Psychology of Pleasure
by Nathaniel Branden
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
sábado, 23 de outubro de 2010
we used to wait
Now our lives are changing fast
Now our lives are changing fast
Hope that something pure can last
Hope that something pure can last
It seems strange
How we used to wait for letters to arrive
But what's stranger still
Is how something so small can keep you alive
We used to wait
We used to waste hours just walking around
We used to wait
All those wasted lives in the wilderness downtown
oooo we used to wait
oooo we used to wait
oooo we used to wait
Sometimes it never came
Não há Tempo
Posso controlar o tempo porque sei que não há tempo, há sucessão de acções e inacções que consomem mais ou menos energia, que são vividas com maior ou menor entusiasmo e depois, existem longos intervalos de ansiedade que tardam a ver chegar a parte boa, a que se quer e que, por sua vez, quando vem, revela-se veloz e fugitiva. O tempo é doloroso porque impõem a ilusão de uma indesmentível perda daquilo que já foi, obrigação de gula no presente e tédio pela incerteza do sucesso correspondido no futuro. O tempo é doloroso porque se traz leveza pensar na chegada dos bons momentos, esse pensamento retarda o passar de cada minuto e pode tornar o anseio mais frustrado ou mais fortalecido, lembra-nos também que se nos tornamos servos da agenda laboral e ordinária, isso consumirá a margem de manobra dos nossos afazeres, embora nos livre mais depressa do seu peso e nos faça chegar ao tal bom momento que teria tardado mais se tivesse o pensamento fixo nele permanentemente.
______________________,,________________________,,______________________
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Alberto Caeiro
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Denúncias Intemporais
domingo, 17 de outubro de 2010
Neil Diamond - Girl, You'll Be A Woman Soon (1972)
I love you so much, can't count all the ways
I'd die for you girl, and all they can say is
"He's not your kind"
They never get tired of puttin' me down
And I never know when I come around
What I'm gonna find
Don't let them make up your mind
Don't you know
Girl, you'll be a woman soon
Please come take my hand
Girl, you'll be a woman soon
Soon you'll need a man
sábado, 16 de outubro de 2010
No dia da entrega da Pen Drive
terça-feira, 12 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Perpétua Regeneração
domingo, 10 de outubro de 2010
Hábitos e Segurança
Whiskeytown - Sit and Listen to the Rain
I’ll never understand this emptiness
I’ll never really try and understand, I guess
I’ll never understand this emptiness
I’ll never really try and understand,
Try and understand, I guess
Sit around, dream away the place I’m from
Used to feel so much, now I just feel dumb
Call a friend or two I don’t know anymore
Sit and listen to the rain
Sit and listen to the rain
domingo, 26 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
It's war
The closer I get
You're wasting your time
I bear more grudges
Than lonely high court judges
When you sleep
I will creep into your thoughts
Like a bad debt that you can't pay
Take the easy way
And give in
Yeah, and let me in
Oh, let me in
It's war
It's war
It's war...
Morrissey, The More You Ignore Me, The Closer I Get
terça-feira, 7 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Entre Aspas - O PERFUME
Queria agarrá-lo,
metê-lo no meu frasco,
fechá-lo bem p'ra não fugir... P'ra não fugir... p'ra não fugir...P'ra não fugir... p'ra não fugir...
Howard Roark Defense
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
A complexa arte de ser altruísta activo
Prefiro não revelar publicamente a interpretação que faço de certos arranjos de exibicionismo altruísta e de práticas de contestação que marcam a daily rotine de pessoas que conheço, e prefiro não alargar aqui os meus juízos porque não gosto que me julguem por não serem descritíveis os instintos mais apurados e pessoais que vamos criando face à realidade que vamos suportando (tal como visão 3D que detecta superficialidade, hipocrisia, idealismo de ocasião…). Nem é estranho fazer-se da contestação um modo de vida; uma pessoa acostuma-se, cria laços de amizade, cria hábitos, cria dependências e, acima de tudo, constrói uma imagem e consegue influência. Pode assemelhar-se, por exemplo à regularidade das reuniões de tappawares que preenchiam muito tempo de senhoras ocupadas ou às jantaradas entre caçadores, ou às congregações em torno das paróquias.
O mais mediatizado evento do género, recentemente tem sido a Manifestações em 100 cidades contra as lapidações no Irão . Ainda estou a tentar livrar-me do sentimento de culpa por não ter estado presente pois assim não contribui de forma alguma para impedir a condenação de uma mulher por crime de adultério. A integridade inquestionável que se destaca nos que organizaram e participaram é de tal forma distinta que nem pretendo lançar nenhum ataque assim muito directo para não me sentir de consciência pesada ou do lado do mal. Já me basta uma certa sensação de estar a pactuar (fruto do maniqueísmo que entorpece e embrutece todo o pensamento e acção) com a mentalidade jurídica iraniana e com aquela teocracia escravizante e abominável (não estou a ser irónica, agora expresso mesmo repulsa!).
Neste momento prefiro tentar descortinar a posição de muitos eurofóbicos ateístas que abominam as raízes judaico-cristãs mas que são sensíveis à intolerância religiosa face ao Islão mais teocrático e compadecem-se com todos os seus caprichos em estado puríssimo. Porém, têm de engolir em seco quando confrontados com a praxis dessas mesmas sociedades (que não podem jamais ser apelidadas de retrógradas, claro, são velocidades diferentes de evolução em conjunturas particulares). É uma ginástica incrível que alguns activistas têm de fazer para se livrarem da mancha de sujidade que segue o Islão tão protegido; uma ginástica assim parecida à que um português faz quando diz que é socialista mas não é apoiante deste líder, não querendo enfrentar e suportar o peso da fama socrática, no fundo a praxis que não querem ver (pequeno aparte descontextualizado e sacana, completamente estúpido, adiante). Não digam que estou de má vontade porque se há pessoa que não pensa duas vezes antes de condenar grande parte das práticas abusivas que Islamismo promove, essa pessoa sou eu. Entristece-me eu não estar errada quando, quase sem dúvida, desconfio de qualquer repercussão eficaz destas boas intenções apregoadas nestas ruas ocidentais contra os assuntos internos do Irão.
Eu sei que nestes momentos, o que menos devia importar seriam dependências partidárias ou ideológicas mas é precisamente por esses acontecimentos estarem minados delas que se revela o desinteresse de pessoas como eu que assistem a tudo no verdadeiro palco que lhes interessa a eles, a blogosfera. Foi na blogosfera que se evidenciaram as motivações dos empreendedores da manifestação (refiro-me ao caso português, claro está) porque pouco ou nada se falou da mulher em concreto ou de detalhes jurídicos em questão. Como os pormenores legais e os contextos culturais, nacionais, blá blá blá, vão interessando pouco nos tempos que correm, também a adesão às causas é regida pela sede consumista acelerada que ignora os pormenores; é nos pormenores que geralmente reside a diferença. Outro evento que se avizinha nestes moldes é uma Concentração, contra as expulsões de ciganos em França, junto à Embaixada de França, no próximo dia 4 de Setembro. Os entusiastas somarão pontos à medida que ignoram normas internas do Estado Francês e por cada frase mesclada com as seguintes expressões: multiculturalismo, livre circulação, ilegalidade, compaixão, igualdade, protecção e imunidade. No final as pontuações serão multiplicadas em função do nº de ciganos romenos que os manifestantes se proponham a acolher nas suas próprias casas.
2. A Roménia e a Bulgária ainda não são membros de pleno direito da União Europeia e por isso o tratado de Schengen não se aplica.
3. Qualquer cidadão Europeu pode ser expulso de qualquer outro país Europeu se não cumprir uma série de requisitos mínimos impostos por cada país. (via 31 da sarrafada) )
À parte destes frames que vão passando na ordem do dia, regozijando uns e desiludindo outros, prefiro deter-me a pensar numa frase de Ayn Rand (frequente e fanaticamente citada por mim):
There are two moral questions which altruism lumps together into one 'package-deal': (1) What are values? (2) Who should be the beneficiary of values? Altruism substitutes the second for the first; it evades the task of defining a code of moral values, thus leaving man, in fact, without moral guidance."
sábado, 28 de agosto de 2010
But please tell me who I am, who I am
Para que me fique bem claro e ninguém entenda
Acho insuficiente, pouco, nada, resquícios de tempo sumido.
Passa a sufocante, indescritível, um querer intransponível, inconfessável por previsível descrédito a receber, incipiente compreensão e negligente partilha…
Fora mal revelada, inacabada, uma desonestidade despretensiosa, verdade abatida, fugaz, perdida.
Ficara o insondável vazio no espaço, o perpétuo conforto ficcionado na sucessão das desistências. Maquinação cerebral devastadora. Intromissão orgânica subsistente, omnipresença ilegal, receptividade ao auto-engano que lhe furta a alma.
Não haverá regresso ao sítio certo que lhe fugiu. Culpa de quem o ergueu? Efémero vislumbre, mal de quem o perdeu. Não há retoma à rota dos não anunciados. Intempérie dos cerrados punhos e grilhões que incomodam como o não ver nada novo perante a face insaciada.
Ainda que incomodem, persistem. Os omitidos e acelerados mitos da mente. Um cárcere imaginário e regenerador de memórias venturosas, poucas, de recalcamentos tormentosos, muitos. A dose compensatória da imaginação, aliada à confissão consecutiva e exaustiva dos fracassos. Lamentável idealidade que repercute no devaneio de gueto. A repetida melodia que ecoa sozinha, sublimemente composta, e perfaz todo o resto que faltou, numa compensação incompleta mas árdua de sol a sol.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
The Go-Betweens - Finding you
Don't know where I'm going
Don't know where it's flowing
But I know it's finding you
But then the lightning finds us
Burns away our kindness
We can't find a place to hide
Come the rainy season
Surrender to our treasons
Can we even find our tears?
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Para os Tomés de Portugal
However, government weight (46.5% of GDP in 2008 and rising), imbalances, bureaucracy and tax policy, manifesting themselves in cumbersome labour laws, high taxes and lengthy cases, threaten any economic recovery, even when the European markets recover. Although some measures have been approved, and a major report was produced on the problems and respective solutions for the fiscal apparatus, the apparent lack of political will signals that a major plan to tackle the issues, though highly needed, is not likely in the immediate future. Portuguese best hope is that the crisis will force the government into action.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Véspera de Despertar
----
Foi-se hoje embora, diz-se que definitivamente, para a terra que é natal dele, o chamado moço do escritório, aquele mesmo homem que tenho estado habituado a considerar como parte desta casa humana, e, portanto, como parte de mim e do mundo que é meu. Foi-se hoje embora. No corredor, encontrando-nos casuais para a surpresa esperada da despedida, dei-lhe eu um abraço timidamente retribuído, e tive contra-alma bastante para não chorar, como, em meu coração, desejavam sem mim meus olhos quentes.
Cada coisa que foi nossa, ainda que só pelos acidentes do convívio ou da visão, porque foi nossa se torna nós. O que se partiu hoje, pois, para uma terra galega que ignoro, não foi, para mim, o moço do escritório: foi uma parte vital, porque visual e humana, da substância da minha vida. Fui hoje diminuído.
Já não sou bem o mesmo. O moço do escritório foi-se embora. Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se passa. Tudo que cessa no que vemos é em nós que cessa. Tudo que foi, se o vimos quando era, é de nós que foi tirado quando se partiu. O moço do escritório foi-se embora.
Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Motivações Coerentes de Alguma Esquerda
As proposições que se seguem são uma lista avulsa de algumas das «posições» que são muito comuns aos entes de esquerda à entrada da segunda década do século XXI. Não precisa de as subscrever todas; mesmo porque, verá, se subscrever uma multiplazinha (duas seguidas, por exemplo), é muito provável que subscreva uma grande quantidade, talvez mesmo a maioria, senão a totalidade. Isto não é um sistema, como disse, mas tem um pouco a estrutura do cacho: puxa uma e caem várias. A partir da segunda pode estar quase certo e comunicar ao seu ente mais querido: «sou um ente (estou a evitar a armadilha do género) de esquerda».
- Diabolizo os mercados financeiros;
- Advogo um Estado que vive estruturalmente da emissão de dívida;
- Sou contra a discriminação dos gays;
- Flirto com o islamismo (que criminaliza os de cima);
- Sou absolutamente relativista;
- Julgo que a cultura europeia é irremediavelmente branca, falocêntrica e, portanto, racista, sexista (não sobrevive à desconstrução);
- Sou feminista sem concessões;
- Defendo a burka e o niqab;
- Tenho uma visão da história completamente a-histórica: o pecado irremissível do homem branco, para resumir;
- Considero que o comunismo cometeu alguns excessos, mas é preciso contextualizá-los (no fundo, sou um comunista hormonal);
- Tenho pavor a qualquer veleidade de existência pública de vida religiosa;
- Oponho-me a qualquer limitação da prática do islamismo (islamofobia!);
- Sou pela autodeterminação dos povos;
- Oponho-me (mesmo que muitas vezes evite dizê-lo, é uma questão táctica...) à existência de Israel (os judeus nunca existiram e, portanto, não têm nada que se autodeterminar);
- Sou, em geral, pacifista;
- Compreendo o terrorismo (é preciso estudar as suas causas profundas);
- Converti-me à democracia (liberal? Burguesa?), mas sem exageros;
- Chavez, Morales, Lula e as suas amizades com torcionários são tudo casos que se «compreendem» muito bem;
- Gosto de Obama; de Paul Krugman (é um bloguer fantástico!), de Stieglitz (alternativamente: de Michael Moore, Noam Chomsky e outros génios assim);
- Só a menção da palavra «América» dá-me brotoeja;
E, por fim,- Sou a favor da liberalização das drogas;- Oponho-me ao sal no pão, às bolas de Berlim na praia, à ginginha no Rossio, e outras javardices populares do género.
Cavalo à Solta - Mafalda Arnauth
Minha laranja amarga e doce
Meu poema feito de gomos de saudade
Minha pena pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve
Breve instante da loucura
Minha ousadia, meu galope, minha rédia,
Meu potro doido, minha chama,
Minha réstia de luz intensa, de voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa
Em ti respiro, em ti eu provo
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro
Cavalo à solta pela margem do teu corpo
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha laranja amarga e doce
Minha espada, meu poema feito de dois gumes
Tudo ou nada
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sussego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Por isso canto, por isso digo
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo
Minha alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha ousadia, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Berradeiro desactualizado
Imigração ou Turismo?
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Pump Up The Volume
----
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Morrissey - Let Me Kiss You
My daily dose of delightful songs...how I could survive without music?
There's a place in the sun for anyone
Who has the will
Chase one and I think I found mine
Yes I do believe I have found mine.
So, close your eyes
And think of someone you physically admire
And let me kiss you, oh.
Let me kiss you, oh.
Quem sabe o que é para si-mesmo
Durei horas incógnitas, momentos sucessivos sem relação, no passeio em que fui, de noite, à beira sozinha do mar. Todos os pensamentos, que têm feito viver homens, todas as emoções, que os homens têm deixado de viver, passaram por minha mente, como um resumo escuro da história, nessa minha meditação andada à beira-mar.
Sofri em mim, comigo, as aspirações de todas as eras, e comigo passearam, à beira ouvida do mar, os desassossegos de todos os tempos. O que os homens quiseram e não fizeram, o que mataram fazendo-o, o que as almas foram e ninguém disse – de tudo isto se formou a alma sensível com que passeei de noite à beira-mar. E o que os amantes estranharam no outro amante, o que a mulher ocultou sempre ao marido de quem é, o que a mãe pensa do filho que não teve, o que teve forma só num sorriso ou numa oportunidade, num tempo que não foi esse ou numa emoção que falta – tudo isso, no meu passeio à beira-mar, foi comigo e voltou comigo, e as ondas estorciam magnamente o acompanhamento que me fazia dormi-lo.
Somos quem não somos, e a vida é pronta e triste. O som das ondas à noite é um som da noite; e quantos o ouviram na própria alma, como a esperança constante que se desfaz no escuro com um som surdo de espuma funda! Que lágrimas choraram os que obtiveram, que lágrimas perderam os que conseguiram! E tudo isto, no passeio à beira-mar, se me tornou o segredo da noite e da confidência do abismo. Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amamos e perdemos e, depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o que julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que era uma memória e críamos que era uma emoção; e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à beira-mar...
Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo? Quantas coisas a música sugere e nos sabe bem que não possam ser! Quantas a noite recorda e choramos e não foram nunca! Como uma voz solta da paz deitada ao comprido, a enrolação da onda estoura e esfria e há um salivar audível pela praia invisível fora. Quanto morro se sinto por tudo! Quanto sinto se assim vagueio, incorpóreo e humano, com o coração parado como uma praia, e todo o mar de tudo, na noite em que vivemos, batendo alto, chasco, e esfriase, no meu eterno passeio nocturno à beira-mar!
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Lost and Found
Se ela me permite, fica aqui dedicado a todos os que andam neste mundo a deixar escapar coisas valiosas e assim moldam o futuro diariamente porque não existem destinos fatais e as correspondências e satisfações próprias e recíprocas dependem da habilidade de cada um, em função das suas escolhas, mais ou menos criteriosas.
E por falar em coisas que se perdem e outras que poderão, quiçá, ser recuperáveis; aqui fica o excerto mais sintetizador do filme Les Uns et les Autres, filme excepcional ao seu jeito, que só tive oportunidade de assistir, finalmente, na noite passada. Diria que é um filme que tem o distinto mérito de, sem comovedores e arrepiantes adornos, nos confrontar com um retrato pragmático do curso da vida que é transformada por factores externos e inesperados sem que os seus actores tenham tempo sequer de se insurgir diante da arbitrariedade do futuro.
Utilidade
(A gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores.)
François La Rochefoucauld
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
IF - Rudyard Kipling
If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;
If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";
If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!
Inconvenientes de Dar a Voz ao Povo
Como tudo na vida, este instrumento omnipreseimnte na vida das pessoas trará os seus pioneiros benefícios e algures, os danos, mais ou menos previsíveis. No caso aqui destacado será claramente identificável onde reside o problema. São apenas 3 exemplos representativos da dolorosa experiência que é ler as contribuições mais diversificadas que podem causar riso ou, às pessoas mais sensíveis, perplexida e desespero. Quem vai à guerra dá e leva e quem tem facebook estreita laços de dependência com quem lhe interessa e ainda é desprestigiado e humilhado pelos fãs mais caricatos.
Vou tentar, porém, acabar o meu comentário com uma tentativa de raciocínio que me permita concluir se é bom ou mau um partido político ter a página aberta aos militantes, simpatizantes, indiferentes, opositores e carniceiros: Se eu passo a conhecer melhor as bases de apoio de um partido, sem mistificações eleitoralistas e me deparo com a realidade bem mais desagradável do que eu poderia imaginar (ou queria/preferia ignorar), esse efeito vai ter repercussões nas motivações e firmeza de apoio de parte do eleitorado mais coerente mais esperançoso ou, genericamente, mais incauto. Neste caso sai o tiro pela colatra ao administrador de tamanha iniciativa ciberneutica. Por outro lado, é desenvolvido um mecanismo eficiente no sondar das inquietações/desejos da sociedade civil, canalizando todas as reações de imediato por toda a rede de membros o que poderá resultar numa aplicação de sugestões directas ou, por exemplo, permitir que cada um de nós fique bem ciente da natureza de gente em que se alicerça a fantochada toda. Neste último caso, incluo-me a mim mesma porque não há nada melhor que agarrar o touro pelos cornos, ridicularizar a pobreza de espírito porque não vale a pena medir todos pela mesmo bitola.
Não diga que não se nota. Clique em cima e veja maior. E clique na lupa! A qualidade da imagem original foi notoriamente corrompida pelo processo de upload mas como me têm obrigado a aprender, o que interessa é a intenção. Gracias.