quinta-feira, 25 de março de 2010
PECa
...essa proposta de retirar todos os benefícios fiscais, quer seja na educação, quer seja na saúde, quer seja nos PPR's é apenas uma proposta demagógica que deve sofrer aquilo que deve ser a oposição de todo o país
Isto aqui é quê? Populismo de algum irresponsável face ao Plano de Estabilidade e Crescimento em Março de 2010? Será? Não, são mesmo palavras de José Sócrates em 2009, antes das eleições.
Depois de passar a tarde a assistir à discussão do PEC em pleno plenário e à sua consequente votação, já pouca coisa me espanta. Que estamos num país dominado, até certo ponto (não me obriguem a definir a delimitação desse tal ponto) pela mesquinhês de horizontes, hesitações em apostar forte, perdendo ou ganhando, incapaz de mover capital de inteligência individual para libertar um mais significativo potencial de iniciativa capaz de beneficiar todo o corpo por inerência, por arraste, tudo isto é certo, a meu ver. O arraste, aqui por estes lados, faz-se mais no sentido inverso.
Na bancada do PSD, dá-se "uma no cravo e outra na ferradura" ao alinhar com aquilo que abertamente abomina. Há que saber descredibilizar o governo socialista enquanto acaba por se facultar a obra do mesmo. A farsa que consegue ser engendrada por detrás de uma tão insinuada responsabilidade face ao interesse dos portugueses. Responsabilidade acima de tudo, mas "alheios" ao PEC porque quem fez a porcaria que a limpe; "terapia de choque" é permitida porque é "necessária", pois claro. Não gostamos, não queremos´, é péssimo e nós avisámos! E agora? Vá, mais uma oportunidade; muita compaixão na zona central.
Aprova-se um plano em que ninguém acredita, em que ninguém se revê,
que a todos desconforta
e corta corta corta!
Nos extremos parlamentares, esses cortes doeram "que se farta", ou seja, nesses extremos ouviu-se a voz sincera, a mente de todos os portugueses; esses extremos que têm margem de manobra para denunciar os podres presentes no PEC, todos os estrangulamentos e mais alguns, todas as contradições desse Primeiro-ministro ausente.
Mas o quê? Sócrates não estava lá? Que forma perspicaz de contornar o nervosismo e ainda atribuir de forma subliminar uma importância acessória ao que ali se discutiu.
É de crescimento e estabilidade mas só prevê o emagrecimento estrondoso de todos os bolsos, carteiras, cofres, mealheiros. Vamos crescer a poupar, é isso. Admitir que o endividamento é mais do que repercussão internacional, que é um efeito da escassa habilidade para gerir a coisa pública, admitir isso é que "tá quieto". Aparenta-se uma combinação de intervenção estatal essencial com a componente de privatizações estratégicas mas não passa de um golpe baixo para angariar dos dois lados e num momento de desespero revelam-se desajeitados para se livrarem dos embaraços públicos em que se aventuraram sem uma pura racionalidade.
Poderíamos hoje dormir sem ter isto aprovado? Até podíamos, mas entre ter uma descarga de consciência num grito de protesto indignado e a ver uma minimização do efeito tenebroso dos mercados e garantias de confiança em relação a este cantinho à beira mar plantado, sou forçada a preferir o segundo, por muitos pesadelos que me traga assumir essa evidência.
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