Libertarianismo e belicismo: uma óbvia incompatibilidade It is in war that the State really comes into its own: swelling in power, in number, in pride, in absolute dominion over the economy and the society. Society becomes a herd, seeking to kill its alleged enemies, rooting out and suppressing all dissent from the official war effort, happily betraying truth for the supposed public interest. Society becomes an armed camp, with the values and the morale – as Albert Jay Nock once phrased it – of an "army on the march.
Murray N. Rothbard
A oposição inflexível face ao tom de inevitabilidade de combates indiscriminados, promovidos pelo Estado, é uma necessidade decorrente da coerência a preservar dentro do pensamento libertário. Os custos de uma guerra são evidentes e facilmente enumeráveis por qualquer pessoa, porém , não poucas vezes, são tolerados como males necessários, beneficiando de estatuto de excepção. Caso não estejam bem presentes na memória de todos, relembre-se que a guerra corresponde à forma mais robusta e rápida de depredação de riqueza e de ataque à estabilidade da sociedade, implicando uma ruptura desordenada das actividades económicas, desequilíbrios demográficos, incitamento à desordem social, prejuízos avultados, frustração de expectativas e de percursos de vida interrompidos. A estratégia de vitimização por parte do Estado serve de base a um oportuno sentimento de coesão entre os cidadãos, à medida que a classe dirigente fica empossada de maior legitimidade e diâmetro de ingerência nas liberdades individuais.
Perante as seduções que partem sempre do mesmo orador, pouco confiável - o Estado – o cepticismo deve ser uma constante, tendo em conta que a guerra constitui a expressão máxima da violência estatal ao aliar a manutenção de acções intencionais de agressão, por meio do monopólio da força, com o financiamento insaciado que parte das receitas fiscais. O Estado, inerentemente agressivo, consegue realizar a lamentável proeza de direccionar recursos originários de cidadãos oponentes do belicismo para agredir estrangeiros inocente, decidindo onde, como, porquê e com que magnitude empreende essa intervenção. Vislumbra-se, assim, a total oposição aos princípios defendidos por Rothbard no que toca a auto-defesa fundamentada na proporcionalidade da punição daquele que atenta contra as nossas liberdades, privando-se também, ele próprio, da sua liberdade na mesma proporção em que nos agride. A forma operacionalizada de enunciação de danos colaterais revela a mais rude indiferença, e o direccionar da violência somente aos criminosos e na dose exacta que é merecida, poupando a vida de terceiros, alheios aos conflitos, é algo pouco ou nada exequível, tanto porque o Estado não tem qualquer preocupação em ser selectivo nos seus alvos, como porque não o consegue fazer, dado o impacto implacável do seu apetrechamento militar. Todos estes aspectos são ignorados se estiver generalizado o dualismo necessário para suportar a guerra, numa consideração bastante linear e simplista das partes envolvidas, que descamba em efectivo colectivismo de oposição entre nações…uma conveniente abstracção e assimilação do “medo”, da “ameaça” e duma consequente “necessidade”. Contrariamente às forças que interagem espontaneamente, o Estado distingue-se por concentrar-se em falsas necessidades e forçar os tributados a financiar as suas ruínas ad eternum. Distancia-se dos indivíduos, consegue baixar o nível de exigência e consegue encobrir o despesismo e a crescente desconexão entre interesses dos governados e acção governamental, nomeadamente com enunciados que se reduzem a simples chantagem securitária. Como Hans-Hermann Hoppe enunciou, de forma inequívoca e acertiva: Rather than dynastic property disputes which could be resolved through conquest and occupation, democratic wars became ideological battles: clashes of civilizations, which could only be resolved through cultural, linguistic, or religious domination, subjugation and, if necessary, extermination. It became increasingly difficult for members of the public to extricate themselves from personal involvement in war.
Nas guerras contemporâneas, mais do que nunca, é perceptível a ausência de ponderação da utilidade dos sacrifícios de guerra, cada vez mais numerosos e incutidos nas necessidades e despesas nacionais. A própria noção de guerra preventiva reflecte a despreocupação em verificar sinais claros de iniciação de uma agressão que ameace a liberdade e propriedade de alguém. Posto isto, poucas são as barreiras às ambições expansionistas dos Estados, como é símbolo máximo disso, a presunção messiânica norte-americana que se reanima na recuperação do ideal wilsoniano, tão raras vezes dirigido a ameaças directas, respeitantes aos EUA.
Se uma pessoa, a título individual, por sua conta e responsabilidade, decide arriscar-se em infligir uma vingança em alguém por meio de violência, (independentemente de se justificar ou não, neste caso) é evidente que todos os prejuízos que possam decorrer de uma contenda, recaem sobre ela mesma, no seu corpo, em possíveis danos materiais, despesas com a saúde, etc. Se é racional atentar ao próprio bem-estar e envolver-se num conflito evitável, é uma questão que recebe resposta subjectiva, já que depende somente de propósitos e valores pessoais. Se transpusermos uma semelhante situação para a esfera do Estado, percebemos que há uma entidade bem fortalecida, de responsabilidade de curto prazo, que anda a enfrentar perigos e multiplicar inimigos, instrumentalizando o corpo e a riqueza dos seus cidadãos. Quanto maior e mais centralizado conseguir ser o Estado, mais recursos tem à sua disposição e melhor os maneja, fora do alcance das apreciações e fiscalizações dos indivíduos. O fomento da guerra é a revitalização da natureza do Estado. Num Estado vasto, diminui o horizonte de tréguas porque é mais remoto o limite em que se esgotam as receitas destinadas à defesa e mais estranha a noção de justiça. Prolongar-se-á a agressão pela agressão, a tributação como agressão e a agressão graças à tributação.
War is never economically beneficial except fot those in position to profit from war expenditures.
Ron Paul
Compactuar com estes desproporcionais conflitos implica contornar as liberdades civis, os princípios basilares como o da preservação da vida, o direito à posse e defesa da propriedade privada, a igualdade perante a lei, a não agressão, a tolerância (não interferindo com a conduta de terceiros, independentemente de a aprovarmos ou não) e o favorecimento da paz como ambiente favorável a saudáveis interacções entre os indivíduos, na base do respeito mútuo e reciprocidade.
O vergar no sentido da desumanização está intimamente ligado à aceitação e defesa da escravidão militar, da escravidão fiscal, do colectivismo militar, da imoralidade associada ao assassinato em massa de inocentes e à tolerância perante tentativas de imposição de um modelo de governação igualmente tirano, semelhante aos que pretende remover. Resumindo, entregar a liberdade e a riqueza acumulada à máquina de guerra sem questionar intenções e efeitos que, se assumidos por conta própria, nos pesariam continuamente na consciência é ser vencido pela retórica irracional de guerra, pela arbitrariedades do Estado na provisão de protecção e moralização, e acima de tudo, é esquecer a diferença entre agressão e defesa – ponto de partida de todos os excessos e violações de direitos na matéria em causa.
A solução passa por rejeitar os pesados “cavalos de Tróia” que nos consomem as provisões em aplicações violentas e nos forçam a invadir e “incendiar” comunidades alheias. A resolução de qualquer conflito passa pela resolução próxima das partes envolvidas, numa lógica de compensação equiparada aos danos, rápida e satisfatória, flexível ao sentido de justiça da parte afectada e, sempre que possível, assente na capacidade de auto-defesa, livre de intermediações burocráticas que ampliam os prejuízos de parte a parte.
It is a wonder, then, that many who favor liberty, spontaneous order, voluntary human action, free trade and markets, and as little government as humanly and practically possible, do not see the full force of both the ethical and practical arguments against an interventionist foreign policy.
Anthony Gregory
Murray N. Rothbard
A oposição inflexível face ao tom de inevitabilidade de combates indiscriminados, promovidos pelo Estado, é uma necessidade decorrente da coerência a preservar dentro do pensamento libertário. Os custos de uma guerra são evidentes e facilmente enumeráveis por qualquer pessoa, porém , não poucas vezes, são tolerados como males necessários, beneficiando de estatuto de excepção. Caso não estejam bem presentes na memória de todos, relembre-se que a guerra corresponde à forma mais robusta e rápida de depredação de riqueza e de ataque à estabilidade da sociedade, implicando uma ruptura desordenada das actividades económicas, desequilíbrios demográficos, incitamento à desordem social, prejuízos avultados, frustração de expectativas e de percursos de vida interrompidos. A estratégia de vitimização por parte do Estado serve de base a um oportuno sentimento de coesão entre os cidadãos, à medida que a classe dirigente fica empossada de maior legitimidade e diâmetro de ingerência nas liberdades individuais.
Perante as seduções que partem sempre do mesmo orador, pouco confiável - o Estado – o cepticismo deve ser uma constante, tendo em conta que a guerra constitui a expressão máxima da violência estatal ao aliar a manutenção de acções intencionais de agressão, por meio do monopólio da força, com o financiamento insaciado que parte das receitas fiscais. O Estado, inerentemente agressivo, consegue realizar a lamentável proeza de direccionar recursos originários de cidadãos oponentes do belicismo para agredir estrangeiros inocente, decidindo onde, como, porquê e com que magnitude empreende essa intervenção. Vislumbra-se, assim, a total oposição aos princípios defendidos por Rothbard no que toca a auto-defesa fundamentada na proporcionalidade da punição daquele que atenta contra as nossas liberdades, privando-se também, ele próprio, da sua liberdade na mesma proporção em que nos agride. A forma operacionalizada de enunciação de danos colaterais revela a mais rude indiferença, e o direccionar da violência somente aos criminosos e na dose exacta que é merecida, poupando a vida de terceiros, alheios aos conflitos, é algo pouco ou nada exequível, tanto porque o Estado não tem qualquer preocupação em ser selectivo nos seus alvos, como porque não o consegue fazer, dado o impacto implacável do seu apetrechamento militar. Todos estes aspectos são ignorados se estiver generalizado o dualismo necessário para suportar a guerra, numa consideração bastante linear e simplista das partes envolvidas, que descamba em efectivo colectivismo de oposição entre nações…uma conveniente abstracção e assimilação do “medo”, da “ameaça” e duma consequente “necessidade”. Contrariamente às forças que interagem espontaneamente, o Estado distingue-se por concentrar-se em falsas necessidades e forçar os tributados a financiar as suas ruínas ad eternum. Distancia-se dos indivíduos, consegue baixar o nível de exigência e consegue encobrir o despesismo e a crescente desconexão entre interesses dos governados e acção governamental, nomeadamente com enunciados que se reduzem a simples chantagem securitária. Como Hans-Hermann Hoppe enunciou, de forma inequívoca e acertiva: Rather than dynastic property disputes which could be resolved through conquest and occupation, democratic wars became ideological battles: clashes of civilizations, which could only be resolved through cultural, linguistic, or religious domination, subjugation and, if necessary, extermination. It became increasingly difficult for members of the public to extricate themselves from personal involvement in war.
Nas guerras contemporâneas, mais do que nunca, é perceptível a ausência de ponderação da utilidade dos sacrifícios de guerra, cada vez mais numerosos e incutidos nas necessidades e despesas nacionais. A própria noção de guerra preventiva reflecte a despreocupação em verificar sinais claros de iniciação de uma agressão que ameace a liberdade e propriedade de alguém. Posto isto, poucas são as barreiras às ambições expansionistas dos Estados, como é símbolo máximo disso, a presunção messiânica norte-americana que se reanima na recuperação do ideal wilsoniano, tão raras vezes dirigido a ameaças directas, respeitantes aos EUA.
Se uma pessoa, a título individual, por sua conta e responsabilidade, decide arriscar-se em infligir uma vingança em alguém por meio de violência, (independentemente de se justificar ou não, neste caso) é evidente que todos os prejuízos que possam decorrer de uma contenda, recaem sobre ela mesma, no seu corpo, em possíveis danos materiais, despesas com a saúde, etc. Se é racional atentar ao próprio bem-estar e envolver-se num conflito evitável, é uma questão que recebe resposta subjectiva, já que depende somente de propósitos e valores pessoais. Se transpusermos uma semelhante situação para a esfera do Estado, percebemos que há uma entidade bem fortalecida, de responsabilidade de curto prazo, que anda a enfrentar perigos e multiplicar inimigos, instrumentalizando o corpo e a riqueza dos seus cidadãos. Quanto maior e mais centralizado conseguir ser o Estado, mais recursos tem à sua disposição e melhor os maneja, fora do alcance das apreciações e fiscalizações dos indivíduos. O fomento da guerra é a revitalização da natureza do Estado. Num Estado vasto, diminui o horizonte de tréguas porque é mais remoto o limite em que se esgotam as receitas destinadas à defesa e mais estranha a noção de justiça. Prolongar-se-á a agressão pela agressão, a tributação como agressão e a agressão graças à tributação.
War is never economically beneficial except fot those in position to profit from war expenditures.
Ron Paul
Compactuar com estes desproporcionais conflitos implica contornar as liberdades civis, os princípios basilares como o da preservação da vida, o direito à posse e defesa da propriedade privada, a igualdade perante a lei, a não agressão, a tolerância (não interferindo com a conduta de terceiros, independentemente de a aprovarmos ou não) e o favorecimento da paz como ambiente favorável a saudáveis interacções entre os indivíduos, na base do respeito mútuo e reciprocidade.
O vergar no sentido da desumanização está intimamente ligado à aceitação e defesa da escravidão militar, da escravidão fiscal, do colectivismo militar, da imoralidade associada ao assassinato em massa de inocentes e à tolerância perante tentativas de imposição de um modelo de governação igualmente tirano, semelhante aos que pretende remover. Resumindo, entregar a liberdade e a riqueza acumulada à máquina de guerra sem questionar intenções e efeitos que, se assumidos por conta própria, nos pesariam continuamente na consciência é ser vencido pela retórica irracional de guerra, pela arbitrariedades do Estado na provisão de protecção e moralização, e acima de tudo, é esquecer a diferença entre agressão e defesa – ponto de partida de todos os excessos e violações de direitos na matéria em causa.
A solução passa por rejeitar os pesados “cavalos de Tróia” que nos consomem as provisões em aplicações violentas e nos forçam a invadir e “incendiar” comunidades alheias. A resolução de qualquer conflito passa pela resolução próxima das partes envolvidas, numa lógica de compensação equiparada aos danos, rápida e satisfatória, flexível ao sentido de justiça da parte afectada e, sempre que possível, assente na capacidade de auto-defesa, livre de intermediações burocráticas que ampliam os prejuízos de parte a parte.
It is a wonder, then, that many who favor liberty, spontaneous order, voluntary human action, free trade and markets, and as little government as humanly and practically possible, do not see the full force of both the ethical and practical arguments against an interventionist foreign policy.
Anthony Gregory
GREGORY, Anthony, The Effects of War on Liberty, 2007.
HOPPE, Hans-Hermann, Reflections on State and War, 2006.
PAUL, Ron, The Crime of Conscription, 2003.
ROTHBARD, Murray N., War, Peace, and the State, 1963.
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