quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Juventudes Partidárias: O Caminho para a Má Vida


Valerá a pena um jovem liberal filiar-se num partido político? E quem tem tédio e completo cepticismo face a partidos, deve sentir-se culpado? Aquele tipo de culpa que nos atiram se dizemos que somos o gangue dos “abstencionistas, brancos ou nulos”.
É muito frequente o dilema: mantenho-me inteiramente honesto e fico à margem dos partidos ou vou ceder um bocadinho e apostar na via partidária porque “vamos lá ver se faço a diferença”. Bem, para a generalidade da população, a militância em partidos resume-se à romaria e ao amiguismo que se mantém num nível mais próximo porque lá na freguesia sempre foram “laranjas” ou sempre foram “rosas”. Depois em partidos de dimensão mais tímida, ou temos a paixão ferrenha comunista ou temos os restantes partidos cujos encontros são quase tão estimulantes como uma reunião da tupperware.
Este quadro tosco pintado à pressa pode dar-nos jeito para entender que num país centralizado como o nosso, a pasmaceira das sedes partidárias ao longo do território é um reflexo valioso, semelhante ao comportamento abstencionista, e que a fraca vontade de um liberal participar é racional e até desejável. Já tivemos oportunidade de falar da relação do liberal com o estado.[1] Não é meu propósito fazer aqui um auto de fé a ninguém para dar um prémio a quem conseguir apartar-se mais do Estado; também tenho um cartão de militante sem que daí venha grande mal ao mundo.
Em contraste com o cepticismo da população, temos uma certa militância de jovens que descobriram a política e funciona como a vaidade da vizinha que escolhe o melhor vestido para ir às urnas e escarnece de quem fica em casa porque não percebe a sabedoria da abstenção. Dizem que quem se recusa a meter a mão na massa não tem moral para se pronunciar porque são inexperientes e não se preocupam com o mundo que os rodeia.
Poderá ser útil elucidar alguns desses jovens – e muita gente madura, igualmente iludida – para a racionalidade de não investir tempo na militância de partidos:
- Não há diferença substancial para a comunidade. O mais produtivo que pode acontecer é um militante inteirar-se mais dos assuntos regionais em que actua e advir daí experiência pessoal e competências práticas (quiçá alguns desgostos e calos);
- A forma de financiamento deixa-o encurralado porque, ou começa a olear bem a máquina para aprender a captar receitas públicas e a dar cotoveladas aos vizinhos, ou conserva a honestidade e percebe que “sem ovos não se fazem omeletes”;
- É tão producente e atractivo a um alentejano comparecer numa reunião do CDS da sua concelhia (mero exemplo), como é atractivo ao eleitor vulgar ir ler o contracto de concessão do projecto do TGV (não aquece, nem arrefece);
- Assiste-se à invariável ascensão dos menos capazes a altos cargos com real poder de decisão;
- A superficialidade das discussões em reuniões de partidos da oposição é quase um dado adquirido, dada a obscuridade das informações concedidas por quem está em funções;
- Só investe num partido quem tem a eleição garantida e quem espera tirar vantagem do Presidente da Câmara – é a mesma lógica evidente do nível nacional. Os interesses mais dispersos vão desperdiçar tempo, por muita realização pessoal que esse activismo proporcione: discutir a forma mais poupadinha de alcatroar a estrada, enquanto o President faculta terrenos na zona industrial ao amigalhaço.
Tudo isto incentiva a aprender, desde pequenino, a sujar as mãos e a abraçar o endividamento para finalidades que os contribuintes desconhecem – porque a fonte que jorra de Lisboa não incentiva ninguém a procurar financiamento alternativo. Nada aqui é novidade para aquele militante que se envolve por mero interesse carreirista. Mas quanto ao jovem liberal que não se queira conspurcar com algumas rotinas mais sujas, fica este breve alerta. Porque o tempo é precioso e não merece ser desperdiçado em vias sem poder vinculativo que estão viciadas à partida.
[1] O Liberal e o Estado

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