Em 1912 :
- Filho, estás um homem feito! Queres vir comigo para a carpintaria?
- Ena, é para já!
Em 2012:
- Filho, a professora diz que andas com um ar desanimado. Queres vir comigo para a carpintaria?
- Criminoso! Destruidor de sonhos. Não sei… Esta semana tenho reunião com a psicóloga.
Algumas opiniões fazem questão de perpetuar a ideia de que as profissões mais práticas correspondem sempre ao beco dos eternos enjeitados e pobrezinhos. Este discurso da segmentação social simplista aparece quando se fala em valorizar o ensino profissional. Quem se horroriza com o ensino profissional tem horror a quem lhe repara a máquina de lavar, a quem lhe faz os sapatos, a quem lhe monta a estante da sala. Não concebem a ideia de um soldador alcançar remuneração superior a um engenheiro civil, com base no ser mérito, nem a possibilidade de um jovem escolher uma profissão destas por autêntica motivação e talento para a coisa. Na mente dos benfeitores do costume, até o Bob Constructor deve ter sido vítima de um contexto familiar problemático e foi parar às engenhocas devido ao pesado background social. Aquilo que testemunhei foi diferente. Vi colegas abastados a chumbarem e “patinarem” graças à torneira financeira e paciência incansável dos pais e vi alunos de origens mais modestas com resultados de excelência. Estes últimos percebem melhor quanto custa andar com indecisões, ser calão ou confiar demasiado na sorte. Mas o meu testemunho vale o que vale.
Os missionários das soluções estatizantes gostam de cultivar pessoas débeis sem capacidade de decisão sobre a própria vida. Passam um atestado de negligência e de ignorância aos alunos e às famílias e até accionam o alarme se as crianças que não entram no infantário – porque os petizes poderão sofrer de exclusão e retrocessos na opressora companhia dos pais.
Desta vez o governo vem defender o aumento de alunos no ensino profissional. Eis que se apressa o bastonário da ordem dos psicólogos a agarrar biscates para todos os colegas para que não seja descurado o acompanhamento dos jovens. Não é estranha a atracção pelos psicólogos que ganham hoje o estatuto que era reservado ao padre da aldeia. Se a criancinha difere dos colegas, em alguns meses, na capacidade de pronunciar na perfeição todas as sílabas, chama-se a psicóloga. Se o colega matulão do recreio lhe gamou os biscoitos e o empurrou para a caixa de areia…chama-se a psicóloga. O estado é incansável ao “ensinar a criança no caminho em que deve andar” porque o mundo está repleto de perigos e a obrigação dos contribuintes é andar a pagar para manter os indivíduos numa bolha gigante almofadada de imunidades.
O resultado é o raquitismo dos alunos, ilusão de que um país somente de doutores é viável e esquecemos que o ensino profissional é uma prioridade em qualquer economia decente que busca interacção entre oportunidades empresariais e oferta lectiva local (de preferência privada, financiada por quem está interessado na competência e não nas estatísticas).
O governo não pode impingir a ninguém um percurso académico e profissional. Talvez isto seja óbvio para todos. As pessoas ignoram é a outra face da moeda: acham positivo deitar dinheiro à rua com o ensino obrigatório estandardizado e ad eternun. Podemos andar aqui a desfrutar o momento sem que a vida nos chame à responsabilidade porque a vida ainda é uma criança. Desperdiçam-se os recursos nos caprichos igualitários que querem manter os alunos muito tempo no sistema, ninguém pensa muito no que visa atingir e andam a “patinar” como se fossem todos filhos de pai rico. Se algo correr mal no nivelamento dos novatos, chamamos a psicóloga.
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