domingo, 18 de julho de 2010

Da terra dos optimistas


A postura que uma pessoa adopta perante as variadas peripécias do dia-a-dia é determinante para os resultados que visa obter e para o próprio decorrer de todas as suas acções. Quando uma acção é feita por vontade própria, com gosto, aptidão, dedicação e consciência de uma vantagem daí decorrente, a actividade será mais “rentável” (chamemos-lhe assim) do que quando a atitude face a ela é já de retracção, rejeição, inadaptação e descrença num bom resultado. Esta evidência já foi compreendida por muitos indivíduos por esse mundo fora e pô-la a render não exigirá porém nenhum caderno de regras obsessivas de conduta optimista. Basta reconhecer a natural tendência para o sucesso (palavra que preferia evitar, já que abunda suficientemente nas prateleiras de pseudo-gestão empresarial, auto-ajuda…)

Há dias em que não suporto ouvir palavras como: “confiança, futuro, esperança, encorajamento, incentivo, estabilidade” pela simples razão de tais palavras, no contexto em que são pronunciadas, patentearem uma espécie de subestimação da consciência/inteligência de cada pessoa que as tem de ouvir em persistência ensurdecedora. É como se eu acreditasse, por exemplo, que um determinado livro me vai acrescentar conhecimento apenas por ficar, dias e dias, a olhar para a capa, excentricamente animada com muita “força de vontade” ou como querer semear arroz no deserto quando já estou farta de saber, à partida, que o arroz precisa de abundância de água e que não é por um tipo me vir dizer que eu tenho que persistir nessa aventura com grande confiança que me vou estagnar nessa idiotice. O que aqui se passa chega a atingir o comportamento paranormal e se não fosse suficientemente assustador eu não reagiria desta forma. Quando alguém assume a gravidade real da situação económica portuguesa, muitos, (e não são poucos) levantam-se para acusar esse alguém de ser pessimista, oportunista, Velho do Restelo, renegando-o e condenando-o à irrelevância enquanto as gentes concordam em uníssono à inevitabilidade. A imagem que tento aqui transcrever é digna daqueles filmes tipicamente cinzentos que nos fazem parar para entender onde chega o comportamento descontrolado de cada um.

A sociedade civil exige cada vez menos, aceita o Nada acreditando que é Tudo e iludido de que é O Mais acertado, enquanto a qualidade e a responsabilidade da classe política vai acompanhando essa mediocridade da sacrossanta democracia a que todo o bom cidadão se sagrou.
Iludidos pela ideia de que alguém muito competente estará na frente de batalha e terá discernimento divino e incontestável, não haverá resignação quando um governo corta na receita a aplicar mas não corta nas despesas da sua própria máquina administrativa e burocrática; quando um governo é incompetente na gestão de dinheiros comunitários que teria de limitar-se a distribuir pelos projectos que lhe apresentam fruto da livre-iniciativa, cortada pela raiz, na maior parte das vezes; quando um governo (ou desgoverno) se perpetua no poder fingindo transpirar e pensar em prol da resolução dos problemas do país e quando as únicas ideias que apresenta são aumentos sucessivos de impostos, esses remendos diários que amputam a pouca capacidade de gerar riqueza, ainda sobrevivente e que deslocam os problemas do ponto A até ao ponto B, sugerindo melhorias temporárias.

Quando sabemos que o nosso país tem um dívida externa que ronda os 500 mil milhões de euros e que as subidas de impostos que sufocam o futuro próximo prometem amealhar uns míseros 400 milhões, aí eu pergunto, o que significa ser optimista? Não, não estamos a crescer, nem vamos crescer tão depressa, ao contrário do que um certo senhor vem afirmar no debate do Estado da Nação, neste mês de Julho. Portugal não tem sido produtivo em bens transaccionáveis e não é pelo caminho que estamos a seguir que vai passar a ser tão cedo, precisamente pelos problemas estruturais que o governo se recusa a conhecer e a corrigir; não faz nem deixa fazer quem ainda reúne valoroso engenho e criatividade humana. Eu disse bens transaccionáveis, sim! Pequenas? Pequenas são as pontes por onde passam todos os dias nos vossos automóveis. Portanto...é fazerem as contas.
Se a desconfiança dos mercados internacionais não anda nos seus dias e relação a Portugal, também não é com ingerências ilegais do Estado a travar negócios entre países da UE que tal credibilidade vai crescer nem com entrevistas superficiais ao Financial Times. O que tenta ser passado como verdade hoje é negado nas práticas do Amanhã e o europeísta de hoje, usa argumentos salazarentos contra esses ultraliberais que se vão conseguindo ver em todo o lado, sempre que os socialistas os conseguem detectar; e vão ver-se Gregos para deixar de os ver.
Ser optimista não é para todos: é para os bem instalados/dependentes da rede clientelar que vai mantendo a água morna e não a deixa entornar; é para os ignorantes que acham que é de bom tom dizer-se optimista e que não se cansam de levar pancada; e é para alguns geneticamente bem intencionados mas mal informados que ainda não tomaram consciência ou preferem ignorar com medo de espreitar, não vá a desgraça exceder as expectativas (Quem não vê é como quem não sente).

Ânsia de poder? Não imagino quem a poderá ter nos próximos anos. Só poderá ser um sujeito muito responsável, munido de coragem e "esperança" e com a certeza de que reúna respostas mais eficazes e profundas do que meras subidas de impostos, único escape que os Indigitados de Poder cá vão encontrando para se livrarem das aflições embaraçosas a que as suas boas intenções socialistas os delegaram. Optimista? Optimista céptica, como cantava O OUTRO.

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