sexta-feira, 23 de julho de 2010

Hierarquia constitucionalmente fundada

Não devemos ficar surpreendidos por os portugueses serem socialistas. Os portugueses adaptaram-se a uma sociedade socialista e politizada em que o que conta é o poder. Os portugueses estão habituados a relações hierárquicas. Relações verticais com os superiores e os inferiores em vez de relações horizontais com os seus pares.
(...)
Regras constitucionais como o “tendenciamente gratuito” e a obrigação do Estado de manter uma rede pública de saúde servem para manter coesa a coligação de interesses que sustenta o socialismo. Estas regras politizam a sociedade, criam incentivos ao status quo, dificultam a vida aos dissidentes que poderiam existir dentro do próprio sistema público. A esquerda percebe isto muito bem. Eles são contra qualquer alteração destas regras, mesmo que se continue a garantir as necessidades dos mais desfavorecidos doutra forma, porque sabem que elas dificultam a liberdade de escolha e o opting out. O maior inimigo do socialismo em Portugal é o opting out. Com opting out o sistema público desfaz-se.

A eliminação das regras constitucionais que suportam o actual sistema público abre um conjunto de possibilidade que poderão desestabilizá-lo: concorrência entre instituições públicas e entre estas e as privadas, spin off de instituições públicas, salários diferenciados no sector público, mais atenção às necessidades dos clientes e menos atenção aos desejos da hierarquia.


João Miranda, Blasfémias

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