Enquanto ele falava no que viria a ser feito, um dia, vagamente confiante na palavra dada, ia dando azo à perpétua planificação dos sonhos vagos e descomprometidos. Faltava-lhe cálculo e discernimento, não lhe faltava fantasia nem efemeridade de compromissos para com a sua própria consciência.
E dizia-o a todos em conversas de preâmbulo à vida activa, porque todos diziam alguma coisa que desse género. Ou não necessariamente desse género mas mais exuberante porque não é poupada a imaginação na hora de impressionar semelhantes ou de compensar fracassos ou mediocridade discreta no presente.
Mas atenção. Aquilo a que se poderiam chamar colóquios do engano não devem encara-se como tal numa abordagem purista desonesta de julgamento rápido ao próximo como sendo ele um ser ingénuo ou vaidoso que se vangloria com o que nunca há-de fazer ou com o que faz que não calhou a outros fazer, por acaso da vida. São casos que inflamam quando observados mas que se banalizam nas personagens que cada assume na sua odisseia pessoal.
Porque como tantos, também ele fez tudo e deixou tudo por fazer nunca pensando na fatal trégua à sua fronte, não temia o tempo, não atendia ao vento nem ao intento. O tempo de espera entre os sons do apogeu dos seus mais próximos, do deflagrar da vaidade e das gargalhadas dos que tudo mostram porque nada têm. E nos dias que não têm fim e que delapidam o espírito pela noção de insuficiência, ele está agora, sentado, vítima da demora e do tédio, da época passada das aventuras e da já esgotada oportunidade de embarque.
Outros mais tímidos já o tinham subjugado e desmereciam agora do pouco que ele tinha reunido. Pior do que ser insensato medidor de sonhos, é sucumbir na cilada da normalidade institucionalizada e do jogo ingrato das aparências. Esqueceu de ser insubmisso e perdeu-se em honra da sistematização dos gostos e das emoções. Compartimentou-se na acção e esqueceu de ser ele, por cada sopro de vida que lhe foi confiado. Tardavam as vontades e a insatisfação que move o empreendimento íntimo, esgotava-se a margem de erro, as alternativas inesgotáveis que não oferecem mais redenção. E mente, mente agora por orgulho...declara nunca ter desejado semelhante coisa que os outros, lembram, ele outrora ter idealizado em devaneios conjuntos que a vida dissociou por obra de alguns.
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