Era uma vez uma menina que só saía à rua na companhia do Estado. Estamos prestes a assistir a mais uma modalidade de legislação e punição assente na retórica de vitimização feminina. Desta vez o exemplo parte da Bélgica e vem no seguimento de um pequeno documentário [1] realizado por uma estudante belga, nas ruas de Bruxelas. No vídeo que está a lançar debate e alarmismo, Sofia Peeters testemunha como as mulheres são abordadas com muita frequência naquilo que as queixosas denominam “ataque sexista”.
Sendo uma realidade que incomoda muitas mulheres, parece uma iniciativa interessante e pertinente. Mas como seria de esperar, o documentário converteu-se rapidamente num apelo político. A autarquia aprovou que a partir de Setembro, quem lançar “piropos” fica sujeito a multas que podem ir até 250€ [2].
Ao que parece as mulheres emancipadas estão dispostas a abdicar de formas típicas de protecção e reacção às peripécias sociais mais constrangedoras mas só se o Estado vier com elas. Se fosse o pai, irmão, namorado, marido ou amigo do sexo masculino a lançarem-se em sua defesa, isso jamais! Seria uma afronta à igualdade de géneros. A realidade acaba por provar às mulheres que há humilhações maiores a que não sabem resistir sozinhas – quiçá uma injecção de testosterona pudesse ajudá-las a dar uma sova aos tais malandros.
Pela boa receptividade da opinião pública a este tipo de medidas e tendo em conta a orientação dos políticos em busca de popularidade, isto promete ser um antecedente muito “inspirador” para outros governos copiarem. Porque os governos – e aqui as mulheres – têm aversão ao comportamento rebelde e imprevisível dos seres humanos de carne e osso. O tempo será testemunha desta ânsia de controlar.
Não querendo subestimar o fenómeno em Bruxelas (que parece destacar-se pela especial incidência destes comportamentos), não sejamos ingénuos quanto às intenções; um exemplo extremo é o ingrediente muito pertinente que funciona como rampa de lançamento para a perseguição à liberdade de expressão. Multiplicam-se as punições para tudo e mais alguma coisa e as supostas vítimas ficam com margem para queixas e até para uso abusivo da lei – até vinganças pessoais. Mas afinal, como se define um “piropo”? Quais os limites para aplicar as várias sanções? Vai-se pela agradabilidade do galanteio?
Um das particularidades que também fica evidente no documentário – mas que a estudante depressa procura desmistificar para não ofender susceptibilidades – é que a grande maioria dos homens que actua de forma mais intimidatória e insinuante é de origem marroquina e outras comunidades imigrantes na zona. [3]
Estarão estas moças a atacar o inimigo errado? Se estão sempre prontas a denunciar “sexismo” e a manchar o prestígio aos homens, porque evitam tanto referir minorias étnicas se essas as incomodam com mais frequência? É mais um daqueles paradoxos do marxismo cultural que arremessa legislação em favor daqueles que define como “vítimas” e contra os que define como “opressores”, graças a muita acrobacia argumentativa.
Elas até confessam que iam tomando providências na forma de vestir, nos percursos escolhidos, etc…Mas a interacção social, cedências e cautelas que sempre fizeram parte da convivência continuam a incomodá-las porque não podem parar a realidade e deixar tudo constante.
Por fim, percebemos que o costume milenar do piropo pode estar em declínio. Prevemos que esta seja mais uma intervenção estatal a produzir as distorções de mercado do costume, pois vão ser perdidos muitos “piropos” à excelência e os que existirem tenderão a ser mais indiferenciados, falseando a percepção das qualidades.
1 http://www.youtube.com/watch?v=ESdZDwcA5iM&feature=player_embedded
2 http://www.euronews.com/2012/08/24/belgium-responds-to-sexual-harrassment-film/
3 http://www.guardian.co.uk/world/2012/aug/03/belgium-film-street-harassment-sofie-peeters
Publicado no Movimento Libertário
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