quarta-feira, 22 de agosto de 2012

E se nacionalizássemos as discotecas?


Em vez de seguranças corpulentos em todos os cantos, teríamos uma polícia pública mais amigável, com a devida percentagem de agentes do sexo feminino como bem manda a moda progressista das quotas. Afinal, quem quer contar com uma força bruta e intransigente, em cima do acontecimento, sempre pronta a socorrer-nos? Estamos todos prontos a trocar essa hostilidade por uma força policial de acção sensibilizadora, de preferência desarmada, que compreenda os traumas e motivos dos agressores. Certo?

Poderiam existir multas nesses espaços com o objectivo de moderar o consumo de bebidas alcoólicas e minimizar comportamentos de risco. Além de instruir os indivíduos, seria uma promissora fonte de receita pública.

A música passaria a ser seleccionada por uma entidade especializada que promoveria a diversidade de ritmos e estilos de forma aleatória, mas rigorosamente repartida, com espaço para jazz, kizomba, reggae, clássica e por aí adiante…Quem quer escolher uma discoteca em função do estilo de música ou das companhias que o frequentam, quando pode ter o próprio Estado a “girar do disco” e a acabar com esse flagelo que é a discriminação e rejeição de pessoas à porta do estabelecimento? Assim, deixava também de haver preocupação permanente com a aparência, reputação e com aquilo que a conduta poderia indiciar porque já ninguém precisaria de defender-se sozinho nem conquistar confiança. Não era agradável?

Não existiria cartão de consumo obrigatório com os acertos finais consoante o consumo individual. Em lugar disso, seriam feitas estimativas para dividir a despesa de todos os clientes da noite em contas mais justas, com uma progressividade em função dos rendimentos. Isto, sem contar ainda com a percentagem incluída na factura da electricidade de todos os cidadãos, para suportar o digno investimento cultural.

Já conhecemos a técnica de esconder dinheiro de reserva em sítios estratégicos como o interior do sapato. Que cautela mais arcaica e poupadinha face ao risco! Não seria melhor contar com indemnizações do estabelecimento cada vez que a descontracção abrisse oportunidade a um assalto ou perda?

Se repararmos nos critérios que orientam as nossas escolhas numa simples saída à noite, talvez fique evidente que afinal tendemos a privilegiar espaços privados de entrada controlada, com preferências homogéneas, onde cada um tem atenção redobrada ao seu corpo e bens, valoriza a segurança inflexível, desperta reacções instintivas face ao perigo, acciona o radar de preconceitos em terreno desconhecido, desespera quando não encontra um rosto familiar e segue os hábitos que lhe dão conforto. Com dinheiro para ir e regressar vivo a casa, sem esperar o milagre de um táxi grátis pelo caminho.

Publicado inicialmente no Movimento Libertário.

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