I - Os que fazem da carreira profissional uma "corrida de estafetas",concedida pelo costume ou desejo da família, hesitam pouco. Limitam-se a passar um testemunho que significa pouco ou nada. Há um cumprimento escrupuloso de alvos sucessivos e irrelevantes e o sucesso que daí vem consome-se numa simples aprovação pelos seus próximos numa glória tão pouco merecida porque foi mal e porcamente conquistada e valorizada.
II - Num segundo patamar estão os indecisos com a confiança e vontade própria vergadas. Estes lançam a rede a um indefinido mar de possibilidades e evitam todas as que possam criar atritos, resistência, inimizade. Nada que os canse muito, portanto. Quando as oportunidades começam a escassear e os lugares a serem ocupados num jogo de cadeiras mais sério, o desprezo pelos mais audazes e autónomos transforma-se num desespero que tenta agarrar alguma coisa como sua e fingir agrado. Dar crédito à opinião e censura de pessoas como estas - quando ainda falam em idade de folga e fraca experiência - é entregar a vida às fileiras da fraca sabedoria e das aparências. A eficácia em convencerem-se a si próprios é débil, mas o esforço visto de fora, então...chega a ser cómico.
III - Em terceiro, estão aqueles que devem rejeitar os conselhos dos dois primeiros. Arriscar a pele compensa nem que seja preciso mudar várias vezes de pele conforme mudam as incertezas, inquietações e desejos próprios. É muito fácil ser coerente ao decorar coreografias que não são interpretadas e questionadas. Mais fácil ainda é repetir graves e descaradas incoerências que são assimiladas pela maioria, aprovadas e aplaudidas. O complicado, sim, é montar uma coerência própria, mas é isso mesmo que este terceiro grupo persegue; para ele, a honestidade de cada afirmação é a condição para um sono descansado. E que consideração recebem os indivíduos do terceiro grupo, diante dos outros?
Aos olhos dos profissionais de “corrida de estafetas”, passam ao lado ou são olhadas com desconfiança e espanto porque, enfim, existirão formas mais seguras de ter um currículo e levar o pão para a mesa.
Aos olhos dos segundos - indecisos, vendidos, falsos neutros - são uma eterna "pedra no sapato". Invejam que a capacidade de teimar em remar contra maré possa lograr mais respeito do que uma vida de vénias e de fuga ao confronto.
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