sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

sábado, 15 de janeiro de 2011

Just another false alarm


Quando precisarem de explicar a qualquer indivíduo que não fale português, comecem por dizer que se trata de um quase inexplicável sentimento (isto vai facultar-vos uma ligeira margem de fracasso entre as limitações da vossa criatividade vocabular e a total ignorância dos que vos questionam perante o termo sem correspondente tradução). E prossigam:
Trata-se de um engenhoso desencontro incontrolável, um destoado destino tão pessoalmente arquitectado como agonizante é o desejo de o querer reverter. É uma ausência em nome de uma prioridade que se sobrepõe e corrompe a ingenuidade da expectativa. É um Nunca Mais que grita ao Para Sempre. Um silêncio esmagador no meio da mais turbulenta multidão. É andar na ansiedade do amanhã, num incipiente desenrasque diário, numa sincera espera pelo regresso despreocupado e sentido, pelo regresso perante todas as barreiras. Uma procura infrutífera num terreno saqueado, é o isolamento acompanhado. Um obstinado revirar dos despojos que se converte em sistemático e agudo desfecho contrário aos intentos marcados como indispensáveis no mais íntimo juízo das necessidades próprias. Sente-se um adiar da própria respiração que estrangula a vida quando ela tem de prosseguir. Um esbater contra os arranjos da vida, contra os projectos longínquos, contra a deslealdade dessas esperanças que embalaram e atraiçoaram o mais pragmático dos seres. Sensação, mais ou menos verdadeira, imaginária ou ampliada, de exclusão irreversível. Não conseguir atingir o estado de conformação com o irrecuperável e ansiar sondar-lhe o rasto. É sentir a dureza da distância com toda a fatal marginalização que ela comporta. É um aperceber constante de quão irreparáveis são os males advindos do sonho insustentável, da confiança desmesuradamente sustida, do encanto tão particularizado num desperdício de deslumbramentos sem retoma. É não querer mais nada e querê-la agora, apartando-se do restante que é apenas e somente isso; o resto. É uma miséria de arrastamento a que a alma se acostuma a saborear numa vã deslocação sem sair do mesmo ponto, de um desejo de pensamento simultâneo em silêncio e não acusado, por cobardia ou barreira intransponível.

Presumo que seja a isto que em português se atribui o termo “saudade”.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Na Na Na Na Naa - Kaiser Chiefs

E isto pode ser a banda sonora das presidenciais:



Ooh, it does not move me (it does not move me)
It does not get me going at all
It does not shift me (it does not shift me)
It's not the kind of thing that I like

It does not move me
It's not the kind of thing that I like
Na na na na naa
Na na na na naa
Na na na na naa
Na na na na naa

Não Escolher

Nos últimos dias tenho observado diferentes posturas diante das eleições presidenciais que se aproximam. Será muito preocupante admitir que não consigo encontrar a mais pequena motivação para participar no referido acto? Começando logo pelo simples repúdio dessa obrigação moral que é transmitida por muito boa gente que se estreia nestas andanças e que esperneia de preocupação e ansiedade perante a abstenção. Essa cidadania que se roga a mobilizadora da própria e das dos outros num desespero de principiante e que fica histérica quando orgulhosamente dá conta de que anda com mais vontade de assistir aos tempos de antena do que antigamente. Para estes, tão aplicados pelo bem maior, a abstenção reduz-se a motivações muito simples: ignorância, desinteresse ou outra espécie abominável de analfabrutismo (que será uma junção das duas primeiras); nada bonita, esta superioridade que subestima a capacidade reflexiva dos companheiros, simplesmente porque estes não conseguem engolir tão facilmente o leque de escolhas. Não digo que não esteja parcialmente integrada no grupo dos remediados que engolem sapos e que se acostumam às ideias mas não há humilhação para quem não desperdiça actos sem uma prévia reflexão pessoal e mude de ideias no decurso que é destinado a essa mesma reflexão.

Tendo a presunção de afirmar que na verdade o meu voto nas presidenciais não vai influenciar absolutamente nada da minha vida nos próximos 5 anos, atentando às tristes individualidade que se candidatam, às competências do cargo em questão e às condições que o país atravessa, sinto-me no direito pessoal de me dar ao luxo de não votar porque defendo (estúpida e tacanhamente, chamem-lhe o que entenderem) que a abstenção é uma das maiores chapadas que os candidatos podem levar. Mesmo vencendo, fica um sabor amargo, uma hostilidade latente e um engolir em seco. Mesmo ficando em casa, posso respirar de alívio por não ter agido em função de uma utilidade que alguém convencionou ser maior, ou por ter empenhado forças em algo a que os meus ideias não eram totalmente receptivos e satisfeitos.

Um jogo de entretenimento focado em questões de seriedade, sobre quem tem a "maçã de Adão" e as rugas mais salientes, quem é mais nobre e austero, quem foi mais justo na vida privada e na gestão das suas economias, quem foi mais valente em cenários de guerra, quem fugiu e quem salvou, uma luta de carácteres fortes ou meigos, luta pelo detentor da seriedade, quem consegue pregar com mais credibilidade as larachas do justo e do integro, de quem instrumentaliza os sentimentos mais primitivos e perigosamente apaixonantes da fraternidade e da pátria, de quem se distingue destes facilmente identificáveis mas ataca pela subtileza da tecnocracia competente e objectiva.

Quando um debate político se digladia em torno de questões de integridade, honestidade e vida privada, quando esta confusa e volátil construção de acusações morais vs exultações de personalidade, quando há quem tenha muita forma e conteúdo inexistente e cometa erros crassos, ou forma com conteúdo inútil, (ou até quem não tenha nem uma coisa nem outra, cada comunicação é uma humilhação) é legitimo, sim, afirmar que não há motivação para o acto eleitoral. Em vez de desresponsabilização ou comodismo, muito pelo contrário, é uma liberdade de não querer pactuar com a encenação e a aglomeração irracional em torno de determinado produto. Será possível manifestar as razões que levam a repudiar, em particular, esta ocasião eleitoral sem levar com tomates atirados pelas beatas da cidadania responsável?

Com o tempo aprendemos a gerir os impulsos e a distinguir um raciocínio próprio de uma estimulação exterior. Quando reconhecemos que aquela tomada de posição que assumimos numa primeira fase e da qual até, no intimo, nos orgulhávamos como se fosse uma defesa distinta de algo que valesse empenhar forças e que nos diferenciava de outros; quando percebemos que fomos objecto de simples contraposições de males ou de uma propaganda subliminar que vagamente interiorizámos, é sempre tempo de travar essa atitude pessoal.

Quando nos assustamos com a nossa súbita adesão a um candidato ou grupo organizado (não propriamente acérrima, mas mais entusiasta do que seria de esperar) que não corresponde ao que defendemos e até retarda o avanço dos nossos projectos, o melhor será cessar a empreitada e não temer acusações que nos possam lançar porque a indecisão revela também maturidade. Quando nem o mais alto cargo de um Estado merece a ambição de ocupação competente de não mais do que as figuras gastas das últimas décadas, figuras que em vez de denegadas pelo corpo que indiciaria exaustão, mas antes pelo contrário, são mantidas e acolhidas numa inacção confortável ao corpo, perante tudo isto eu vos digo: não há que desconfiar das figuras eternamente estabelecidas pela intromissão na chefia desse corpo mas do próprio corpo que esbarra mais uma vez com as insuficiências que essa abstracção inútil carrega consigo. Estamos sempre a tempo de mudar de trajecto sem receio de sermos julgados pelos nossos próximos pois cada um sabe de si e há muitos que ainda não sabem que não sabem deles próprios porque temem acabar por contradizer a sua consciência às causas a que aderem e a que não têm coragem de se desvincular. Isto não pretende ser um hino à abstenção mas uma justificação pessoal. Não tenho de me justificar mas é um descargo de consciência, uma forma de ninguém me aproveitar um momento vulnerável que me faça sentir uma odiável analfabruta, repudiável pela sociedade só porque não votei na minha estreia em eleições presidenciais, mas preferi exercer o direito de ficar em casa ou de ir votar em branco, (bem mais digno este último).

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Apoiam-se mutuamente os que geram e mantêm a ilusão como meio de credibilidade e os que sacrificam a verdade em nome da sustentação da regularidade.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

One more time with feeling - Regina Spektor



and the pride inside their eyes
is synchronised to a love you'll never know
so much more than you can show

hold on
one more time with feeling
try it again, breathing's just a rhythm
say it in your mind, until you know that the

words are right

this is why we fight
this is why we fight

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Na escola


"Fase 1 - Os colegas
Na escola existem muitos meninos que nem os consigo contar. Claro que há alguns amigos mas o melhor é o Diogo.
Chegando mais ao concreto fiz todas as análises de qualidade dos amigos e descobri que alguns afinal não são bons amigos. Falando nisso, os mal educados são tão maus que daqui a pouco querem rebentar comigo.

Fase 2 - A aprendizagem
Se não fosse à escola ficava sem ler até ter 100 anos. Gosto do horário das actividades, da música, etc. A escola é um espaço de aprendizagem extraordinária. Gosto dos dias em que fico dentro da sala no intervalo. Às vezes até quando é para ficar só dez minutos na sala, pergunto à professora:
- Posso ficar cá dentro a ajudar-te?

Fase 3 - O intervalo
No intervalo das aulas cada um brinca como quer mas com regras. Até parece que há alguns que não sabem isso.
Alguns problemas acontecem no recreio como perseguições, batidas, lutas, partidas e quedas. Certamente existem alguns meninos pouco educados que às vezes brincam e portam-se bem mas quando voltam a reunir-se para ataque afasto-me logo. Um dia tinha tocado a campainha e os mal educados foram para o seu local rally de carros. Sempre que me aproximava deles, eles começavam a sua perseguição. Mas a escola até é um sítio bom."

João Gabriel, 7 anos, irmão da Daniela

The Thrills - I'm So Sorry



you'll make a name for yourself
you'll make a life somewhere else far from this great town
I'll return like a river running home
i'm so sorry, I'm so sorry, I'm so sorry.
But you'll never be just another river that runs into the sea
you'll be more something more

...já hoje, mas de longe

As expectativas têm permanecido tão altas, capazes de lhe criar vertiginosa ansiedade naquela insípida demora de lhe contar o que pensava. Quanto mais estimulada pelas características únicas, mais confundida fica numa certeza que se engana e gosta, satisfeita por reunir empenhados retratos de compensação. Quando mantidos em sigilo deixam pendentes a possível apreciação estupefacta do seu modelo e da resposta de volta. Tecer-lhe-ia elogios a que ninguém lembraria de engendrar com a mesma honestidade e atenção indeclinável e imperativamente demorada. Elogios que não pertenceriam alternativamente a alguém, tal é a singularidade indesmentível de quem é admirado, separado de todos os outros. A capacidade se ser sublime é directamente proporcional à habilidade e autonomia em conseguir ser autêntico. Partindo da sua autenticidade, o que tinha para lhe dizer era tão genuinamente impenetrável como os mistérios que o envolvem e árdua era a tarefa de elogiar com suficiente autenticidade, pois a pobreza das palavras a atraiçoa.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Rubber Ring



The passing of time
And of all its crimes
Is making me sad again
The passing of time
And all of its sickening crimes
Is making me sad again
But don't forget the songs
That made you cry
And the songs that saved your life
Yes, you're older now
And you're a clever swine
But they were the only ones who ever stood by you

sábado, 1 de janeiro de 2011

martha wainwright - far away

Doves - There Goes the Fear



Close your brown eyes
And lay down next to me
Close your eyes, lay down
'Cos there goes the fear
Let it go

Why Honorable People Avoid Politics

Para estrear 2011, excertos do artigo: Donald J. Boudreaux Why Honorable People Avoid Politics. Para ir apimentando o ambiente e dentro de 23 dias cumprirmos mais um ritual eleitoral perante o variadíssimo e prestigiado leque de alternativas disponíveis à ocupação da Presidência.

First and least importantly, describing politicians as public servants is inaccurate. Does anyone really believe that the typical politician seeks office, not to enjoy the fame and career opportunities afforded by elected office, but mainly to help the public? Call me cynical...

Second, politicians don’t beg for money; they sell a service namely, use of government’s coercive power to achieve for interest groups what these groups cannot or will not achieve peacefully on the market.

Politicians, however, don’t make their livings in the market. They are in the coercion business and, as such, are unaccustomed to the voluntary nature of peaceful market relationships. Their salaries are paid out of funds forcibly extracted from taxpayers, and their careers are spent drafting and debating prospective statutes that diminish the freedoms of innocent people.

Any class of people accustomed to issuing commands that are enforced with threats of coercion is a class of people who regard as degrading any need on their part to resort to persuasion rather than force as a means of getting what they want.

More likely, honorable people steer clear of politics for the following two reasons. The first is that honorable people have no taste for minding other people’s business or for living off of the fruits of other people’s earnings. Nor do honorable people enjoy the kinds of public attention given to politicians.

The second reason that honorable people avoid politics is that they could not stomach having to utter all that politicians must utter to win office. Judging from modern American practice, successful pursuit and maintenance of political office require the utterance of an unending stream of statements that are silly, vapid, or false. No honorable man or woman would say to an audience of millions “I feel your pain” or “I didn’t inhale” or any of the countless other lunacies that spew daily from the mouths of politicians of every party.

Honorable people avoid political careers not because of the need to raise funds. Rather, honorable people avoid politics because they are revolted by the prospect of behaving indecently.