terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

One Of Us Cannot Be Wrong

I lit a thin green candle
to make you jealous of me
but the room just filled with mosquitos
they heard that my body was free
then I took the dus from a long sleepless night
and I put it in your little shoe
then I confess that I tortured the dress
that you wore for the world to see through.

(...)

I heard of a saint who had loved you
so I studied all night in his school
He taught us the duty of lovers
was to tarnish the golden rule
And just when I was sure that his teachings were pure
he drowned himself in a pool
His body is gone but back here on the lawn
his spirit continues to drool.

Leonard Cohen

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

vai dando para remediar

Poucas coisas são mais desanimadoras do que procurar exemplos completos, numa realidade tão teimosamente corrompida e que anda sempre com muitos passos de atraso em relação à nossa expectativa. Esgotados os países, concluo que este mundo é feio demais para ser investigado. Na impossibilidade de aplicar os critérios ao contexto de Marte ou da Lua, resta descer o patamar de exigência, ser muito pessimista para tentar ser surpreendido de vez em quando e meter algum "idealismo" na gaveta, a mero título provisório. Já tenho o Top do Index of Economic Freedom todo riscado. É um grande chapadão novo todos os dias... mas vamos lá tentar dar a outra face, outra vez.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A SIC Mulher encadeia-me os olhos


Ninguém é excepcionalmente inteligente ou louco solitário quando afirma, no meio da manada, não suportar programas de canais generalistas ou temáticos – estes últimos que permitem dividir por categorias o tipo de trampa que estamos mais predispostos a ver em dado momento para rentabilizar melhor o tempo (embora ninguém que se amarfanhe no sofá, estilo alforreca, apresente sinais convincentes de ter amor ao tempo útil).

Sendo uma idiotice batida, ainda assim eu insisto em falar em mediocridade televisiva porque há um programa, em particular, que sempre me incomodou. A maioria deixa-me indiferente e consigo mudar mas aquele desperta-me desespero e vontade de partir paredes falsas e chamar o MacGyver para engendrar uma bomba com velinhas de cheiro e incenso nos bastidores.

A consistência que alimenta a coisa é: existe alguém que tem uma casa que não lhe agrada porque se cansou do estilo, ou não teve condições de investir na manutenção, ou era uma casa enorme e acima das possibilidades/necessidades, ou a casa da vizinha e da novela é “tããoo mais linda que a minha”, ou ainda (neste caso seria eu a solicitar) porque quer pregar um susto de morte a um familiar ou amigo e entrega a residência a um bando de gays e trintonas loucas, especializadas em revestimento delicodoce de madeira palha. O investimento fica a cargo das marcas que têm os seus minutos de fama, as pessoas “ganham” uma nova decoração e o canal televisivo ganha programação para encher muitas horas.

O programa pode ensinar-nos então algumas das manias que as pessoas têm, entre as quais: convicção de que alguma entidade externa e desconhecida consegue revolucionar o nosso bem-estar muito melhor do que nós próprios; ilusão de que um capricho ou mudança de humor, ou mesmo uma necessidade, pode ser respondida no imediato e sem grandes custos; ideia de que existirá sempre, algures, alguém desinteressado que nos paga almoços porque nos quer melhorar a vida, só porque sim; e mania de gerir a vida a toque de entusiasmos rápidos sem capacidade de ponderar desvantagens e desconfortos a longo prazo. Visto isto, diríamos que o programa até é bom porque nos ajuda a pôr em evidência estas tendências que se aplicam a outras áreas. Mas assistir a isto em bruto…

Como digo, todos ganham mas os indivíduos que são servidos no programa ganham entre aspas. Ganham a intromissão de gente em casa que teve aulas práticas em casas de bonecas com mestrado em bibelôs. Eles agarram nas grades mais inúteis que já tivemos na nossa vida, ao fundo do quintal, e pincelam a rosa choque; rapidamente aquela grade ferrugenta onde a nossa cadela sempre entalava o pescoço, ganha mais cor e isso surpreende-nos muito. Abrem um furo para pendurar um expositor de talheres na cozinha mas rebentam-nos os canos mas – “Rápido, tragam-me um quadro do Mário Cesariny! Fabuloso, olhe, mal se nota”.

Acho que isto basta para deixar bem representado o cenário de improvisos almofadados, durabilidade de ikea, ambientadores inibidores da podridão, células mortas envernizadas, sobreposição forçada de elementos exóticos e padrões afeminados que nos dão vontade de enfiar a cabeça no primeiro abajour que aparecer à frente. Até os cenários do cinema western conseguem parecer mais consistentes que aquela fragilidade pintada a verde alface, flores de plástico e os cristais Vista Alegre que ninguém usa para comer os cornflakes ao pequeno almoço. Ou os sofás de jardim que se enchem de húmus no Inverno enquanto as barraquinhas voam para o quintal da vizinha.

A obsessão com a mudança radical à responsabilidade de terceiros, o investimento (nem que seja a crédito) sem questionar a verdadeira utilidade e a indiferença perante o risco iminente de desmoronamento são sinais que estão no "Querido Mudei a Casa" e em todo o lado. Simplesmente, a maioria das pessoas não pensa duas vezes antes de delegar funções ao primeiro larilas que se diz especialista mas nunca teve de aspirar a desviar-se dos emplastros ou que não tem miúdos em casa que levem com o Buda na mona depois de tropeçar no candeeiro em forma de papoila gigante. A megalomania e os papéis de parede coloridos só tapam as paredes de terra batida entre pessoas que não percebem que depois do programa, depois de dispensar o acessório e as distracções – vidrinhos, espanta espíritos, gaiolas vazias e velinhas – deixaram que lhes construíssem um lar à base de prateleiras padronizadas e baratas. Ninguém dá nada a ninguém e ninguém sabe melhor gerir e decorar a vida do que nós próprios. Até nisto, as lições começam em casa.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

If I only could, I'd be running up that hill


And if I only could,
I'd make a deal with God,
And I'd get him to swap our places,
Be running up that road,
Be running up that hill,
With no problems.

repetem-se e renovam-se

Os observadores tácitos somavam à hesitação, a falta de apetite. Os grandes movimentos iam cheios de desperdício, cambaleando e enchendo e reenchendo o copo a tapar a vergonha com a gargalhada torpe, repetindo trivialidade e em fuga dos embaraços cerebrais. Não se percebia se a ostentação descansava nos intervalos ou se a normalidade pesava na actividade teatral e expunha os embustes. Mas não faz mal porque mal se nota. Notavam os observadores; a observação de tão exagerada e perspicaz sentia náuseas dos sucessos desses anónimos que tudo abraçam. Só a ideia, de tão remoída, bastava para repudiar a experiência de vender a alma e aumentar a actividade. Observar era uma actividade mais contínua e de acréscimo do que a abrupta sede dos mais vistosos mas subitamente declinados. Apunhalados às escondidas por escolha própria, desprevenidos no próprio alvoroço. Apunhalados de olhos abertos nunca conseguiam ver tanto como os que, desde sempre os observaram, silenciados à margem do delírio. Não sobra nada para além das frames registadas a olho nu e o retrato derrotista que a ninguém aproveita. Os apunhalados eram repetições, as sistematizações completas do que não desejar. Entre a falta de apetite e a repugnância diante dos apunhalados, só há desperdício mas por existirem eles e os punhais, há desgaste a mais aqui. Se deixarem de existir os apunhalados, os que esvaziam o copo cedo demais para não o entornar, o desgaste estará entre os observadores e será ainda mais técnico e pesado.