quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Entrevista a Hans-Hermann Hoppe, na sua recente visita à Roménia. Excelentes comentários que passam, nomeadamente, por welfare state, elites e bancos centrais, integração europeia, centralização vs unidades políticas de pequena escala, identidade e conflitos étnicos.

History, Natural Elites, and State Elites. An Interview with Hans-Hermann Hoppe from Mises Romania on Vimeo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Too Big to Fail

Quando somos privados de uma certa coisa, tendemos a reconhecer o seu inteiro valor, neste caso como representando certo benefício que perdemos. Fica a falha por colmatar, associada a alguma necessidade. Num efeito inverso, quando abdicamos de um conjunto enorme de coisas que tínhamos confortavelmente como garantidas, e o fazemos em favor de uma só, mesmo que de forma temporária, o empenho adicional e sacrifícios que envolvem tornam-na muito maior do que realmente é. Sobrevalorizamos porque ocupa toda a nossa acção e atenção. Os custos de um fracasso perante isto são tão imensos, de tirar o fôlego até receber um sinal, por tímido que seja, a meio do caminho.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sindicatos: os Persuasores da Ineficiência

Sucedem-se greves, essa arma de último recurso tão pronta e indiscriminadamente usada. Manifestamos, então, as reacções típicas de alguém que vê os projectos do dia frustrados, não só pelas incontroláveis incertezas, como se estas não bastassem, mas ainda pela acção deliberada de um certo grupo de interesses que arrasta poderes nocivos, sob uma permanente intocabilidade legal. Enquanto exteriorizamos alguma insatisfação, será comum obtermos a resposta: “Se a greve não prejudicasse os outros não tinha razão de ser; é preciso que transtorne senão não tem efeito”. É esse o ponto essencial. A greve não esconde que é realizada com o propósito de causar danos a terceiros como meio de atingir o impacto ambicionado, favorável aos seus interesses.
É inculcado na opinião dominante, de forma a torná-la subserviente e tolerante, que a luta sindical é a luta pelo emprego e que é à luta sindical que se ficam a dever as melhorias de remuneração e de consequente bem-estar geral da população, ao longo dos anos. Porém, esta versão está longe de corresponder à realidade e numa posição libertária não parece concebível pactuar com esta forma de iniciação de violência. Trata-se de uma clara intromissão na liberdade de outros indivíduos, desde o próprio empregador, ao trabalhador não sindicalizado, até ao não menos negligenciável cidadão/consumidor. Ao coagir outros trabalhadores a alinhar nas estratégias colectivistas pela quebra de compromissos contratuais, ao intimidar os colegas de profissão que insistem em trabalhar, ao forçar no sentido de uma decisão ineficiente por parte do empregador e, não menos importante, ao afectar a rotina diária dos indivíduos exteriores à reivindicação e à causa que ganha protagonismo, provocam atrasos, falhas em compromissos inadiáveis e até despesas adicionais (meios de transporte, emergências médicas, alternativas para ocupar os filhos, etc), os agitadores estão a invadir a propriedade e a constranger as liberdades de um número muito superior de indivíduos, quando comparando com o número dos potenciais beneficiários.

São, invariavelmente, lutas que visam pura e descaradamente extrair mais recursos aos contribuintes, no caso dos serviços públicos, ou aos consumidores, no caso de outros bens e serviços de iniciativa empresarial privada. A nível profissional, são de facto os trabalhadores numa situação mais frágil que sofrem em primeiro lugar com a ingerência dos inflexíveis e desinformados sindicatos na relação contratual entre as partes. Desinformados porque estão longe de deter uma informação menos imperfeita do que aquela que pode ser garantida pela negociação individual e pelas forças de equilíbrio de mercado. As exigências são arbitrárias e pouco pensadas, assentes em justificações ambíguas como “salário digno”, ignorando as possibilidades e a verdadeira margem de lucro do empregador, nos casos em que ele existe.
Para além das implicações identificáveis pelo mais elementar senso comum, a acção orquestrada dos sindicatos tem consequências mais profundas na economia que não deixam de ser bem perceptíveis a todos aqueles que se predispuserem entendê-las. Ninguém contesta, num olhar retrospectivo, que a União Soviética foi uma completo exemplo do declínio económico pela permanência numa deficiente alocação de recursos que resultou do método despótico de interacção entre agentes. O sindicalismo não entra na equação dos incentivos espontâneos pois contraria o natural declínio de indústrias e serviços inviáveis (veja-se o caso da CP, em Portugal) e, por outro lado, torna mais nebulosos os sinais a nível de preços por parte de novas empresas promissoras que ofereçam, naturalmente, salários mais elevados, como reflexo do seu valor. O efeito mais nefasto para a economia é a distorção do preço do trabalho e é deste prejuízo que derivam, mais cedo ou mais tarde, todos os outros problemas. A chantagem que pressiona por salários acima do preço de equilíbrio de mercado (recta WW') levará sempre a uma diminuição do número de trabalhadores pois o empregador já não tem vantagem em empregar trabalhadores cujo trabalho tem valor inferior ao do salário mínimo exigido pelas forças sindicais.


Conforme depreendido pela figura (post anterior), verifica-se um inevitável recuo do número de trabalhadores contratados (ponto C), no seguimento da fixação do salário mínimo acima do equilíbrio de mercado (ponto B). Ao diminuir o número de contratações, aumentará o número de indivíduos à procura de emprego e dispostos a trabalhar por preço mais baixo. As “conquistas” orgulhosas dos sindicatos engrossaram as fileiras de desempregados, baixaram os salários em outras actividades ou empresas e desvalorizaram o trabalho pela abundância de oferta de trabalhadores face às possibilidades de absorção pelo mercado de trabalho. É um efeito incontornável, tal como qualquer outro aumento de preços implica sempre menor volume de compras por existirem menos interessados em sacrificar uma quantia elevada por determinada troca. O favorecimento nesta lógica é, geralmente, em favor dos trabalhadores com emprego mais assegurado e dos mais produtivos. Os sindicatos também tendem a ter mais força em actividades que por si mesmas já são bem remuneradas na situação inicial. O aumento dos salários destes será feito à custa dos trabalhadores numa situação mais susceptível.
Estamos diante uma força colectiva que paralisa as forças voluntárias do mercado e pressiona o poder político, numa óbvia acção de rent-seeking, para almejar a regulação favorável aos seus interesses, tão egoístas quanto quaisquer outros. Está muito longe de defender um bem comum a que tanto se arroga mas contribui directamente, isso sim, para restringir a oferta de trabalho, quebrar a produtividade de dada actividade, elevar os custos de produção, limitar as possibilidades de poupança do empresário e, consequentemente, criar barreiras a novos investimentos e à expansão da indústria.

Por princípio libertário o homem define-se como merecedor dos frutos do seu trabalho e a força que aplica no trabalho em que se envolve deriva somente de si mesmo, da sua vontade, do benefício que calcula obter, sendo responsável por empenhar nesse esforço os custos que considera racionais, em pleno exercício da sua self-ownership. É pela troca de benefícios em reciprocidade numa negociação individual que é mais eficiente encontrar um acordo mútuo vantajoso, contornado as dificuldades da informação dispersa. É a esta dispersão de informação que a negociação colectiva, presidida pelos sindicatos, jamais terá capacidade de dar resposta, reduzindo-se a rude substituta artificial do funcionamento harmonioso do mercado. Forçar vínculos e rigidez de mercado em favor de alguns privilegiados, incutir perdas até a outra parte ceder (invadindo a sua propriedade e escolhas) e impedir a agilidade das respostas em adaptação ao mercado são os principias legados que a acção sindical, consubstanciada nas greves constantes, tem a oferecer aos membros da sociedade. Maximizar a vantagem do trabalhador às custas do produtor, dos trabalhadores não sindicalizados, de outros trabalhadores que perdem emprego, dos consumidores que enfrentam uma possível subida dos preços (devido ao aumento dos custos para as empresas) ou dos contribuintes que terão de sustentar a avidez dos que encontram no Estado uma fonte, aparentemente inesgotável.

Importa lembrar, quando alguém se sentir moralmente culpado por contrariar a defesa do “emprego” e do “padrão de vida digno” dos trabalhadores, que se um sindicato consegue fixar um salário mais elevado do que aquele que seria resultante nas negociações espontâneas, outros indivíduos estarão a ser sacrificados. Quanto maior o alcance do sindicalismo, tendencialmente crescente será a porção desempregados e mais fracos e desviados serão os investimentos que o empresário conseguirá promover, levando a perdas de eficiência e perpetuação legalmente consentida de fenómenos que nunca se arrastariam na saudável premiação e punição em ambiente concorrencial.

HAYEK, Friedrich, The Constitution of Liberty. The University of Chicago, 1960.
ROTHBARD, Murray, Man, Economy and State: A Treatise on Economic Principles. Ludwig von Mises Institute, Scholar’s Edition, 2004.