quarta-feira, 10 de agosto de 2011

da espontânea e pacífica convivência multicultural

Considerações a reter depois de uma longa e perturbadora exposição a imagens de violência animalesca, empreendida em total alheamento por qualquer norma social de convivência e por um mínimo de contenção e sensibilidade face à violação das liberdades de outros indivíduos.

Há exemplares da raça humana que após ultrapassarem a fase destinada ao acatamento de códigos de conduta e do desenvolvimento de uma estima pela razão e pela maturidade das decisões, já pouco conseguem reter, ficando à mercê da tão indesejável mas inevitável coerção como forma de manter intacta a construção pessoal de cada um dos outros elementos independentes da comunidade. Em grande parte, evidencia-se um legado genético, que acredito ser muito mais determinante a nível dos instintos do que a educação que raramente altera de forma drástica e permanente as tendências naturais de cada indivíduo. Esses instintos não encontram nenhuma repulsa pessoal ou sentimento de culpa como punição que actue como factor dissuasão do próprio, podendo passar pela sensação de domínio e invencibilidade, concentração de atenções e constrangimento da normalidade através do inculcamento de medo nos outros. A sensação de poder exigir as resoluções a uma fonte externa, inesgotável e geradora de riqueza a partir do nada; o instinto parasitário. Uma chantagem social e criminosa que exige direitos sem precisar de assumir responsabilidades. O descompromisso total na própria conservação e o empenho no depauperamento dos outros é da mais genuína despersonalização. É intuitivo que participação em acções criminosas revela-se prejudicial tanto para as vítimas como para o criminoso; algo não tão intuitivo e que poucos reconhecem é o facto do prejuízo que recaí sobre o criminoso derivar da traiçoeira clarificação da soberania individual empossada. A delimitação entre a fase de dependente, sob tutela dos responsáveis, e a fase do assumir da responsabilidade efectiva pelas consequências dos próprios actos fica marcada no momento em que se assumem com autonomia da escolha e a inflexibilidade dos propósitos.

Enquanto se alastra a reprodução destes comportamentos fáceis e proveitosos à satisfação dos anseios mais básicos e efémeros de qualquer sujeito, jamais preocupados com a realização pessoal, com a aceitação dos factos, conquista de soluções pela via da espontaneidade e esforço pessoal…a preocupação, lamentavelmente, não tem sido extinguir as ilusões e os incentivos à sua perpetuação mas antes a total abordagem ao lado do problema. Ignoram-se nichos de criminalidade, tolera-se a formação de guetos, reprimem-se discussões abertas sobre a integração da imigração, cede-se à pressão mediática de apoiar os fracos, adia-se o confronto com a força das cisões identitárias. A comunidade fica refém da delicadeza eleitoral, do projecto irresponsável de amalgamar diversidades e à inoperacionalidade da resposta soma-se a ausência de meios de auto-defesa. Admitir que os indivíduos têm pleno direito à propriedade é vão e contraditório se não estiver reconhecido e garantido o direito de a defender contra invasões. A forma mais proporcional de retaliar as violações de propriedade e da totalidade da vítima, é ser a própria a apontar a dimensão dos seus prejuízos e a tentar minimizar de imediato, cessando a ameaça na proximidade e com maior eficiência na alocação de meios. Inclui-se, logicamente, a possibilidade de cada um conferir a sua capacidade de protecção à agência de protecção que preferir, passando também pelas forças de segurança estatais, desde que esteja sempre presente a noção de proporcionalidade direccionada apenas aos criminosos, os que rejeitam eles mesmos, parte da sua liberdade. Ficaram destituídos da parte da liberdade que despojaram às suas vítimas.

There is all the world of distinction in kind between aggressive violence assault or theft-against another, and the use of violence to defend oneself and one's property against such aggression. Aggressive violence is criminal and unjust; defensive violence is perfectly just and proper; the former invades the rights of person and property, the latter defends against such invasion. - Rothbard

Após dialogar com várias e de ler outras tantas, estou seriamente a ponderar dividir as pessoas em duas categorias. Em primeiro reservo a categoria de 1ª às pessoas que reagem com choque sincero à violação das liberdades individuais e ao apedrejamento tão súbito e cruel das materializações daqueles que souberam mobilizar as forças para erguer o que outrora idealizaram. Em 2ª categoria incluirei: os complacentes com a violência; os criativamente distantes que instrumentalizam o pânico como objecto de estudos e que têm tanto de inúteis como de originais e insolentes; os engenhocas de novos planos de prevenção e reabilitação que custam, invariavelmente, os olhos da cara às vítimas; os sociólogos que fazem da conservação da espécie delinquente o seu “ganha pão”; os unicamente parvinhos que absorvem o entusiasmo e reproduzem os actos pela imitação; os bélicos que aproveitam a desordem para inflamar ainda mais o desejo de retaliação e de pulso forte do monopólio da força indiscriminado; os jornalistas que pactuam com todos os referidos por falta de discernimento e pressa na apresentação do produto; os silenciosos que desejam intimamente não ter de emitir opinião pois sabem que alimentaram as sementes do problema com a mesma indiferença com que agora se calam; os incendiários; os voluntariamente analfabetos; os revolucionários de beco; os revolucionários de sofá; os extremistas de direita e de esquerda e das diagonais que se aproveitam superficialmente destas ocorrências para fazerem valer os seus enunciados bacocos…

O que impressiona mais? Assistir à fria, rudimentar e descarada forma de incursão e roubo ou perceber que uma parte significativa da opinião pública reage com alguma benevolência e que o choque que deveria repelir estas demonstrações de desumanização é substituído por uma nebulosa argumentação no sentido de posicionar estas ocorrências assentes num suposto alicerce plausível em que os culpados serão as vítimas e vice-versa. Tudo isto deve ter sido um enorme equívoco. Às tantas nem existem ódios latentes, nem invejas sociais, nem ânsia de saque da riqueza alheia, nem insensibilidade pelo espaço dos outros, nem carência de moralidade própria, nem projectos públicos a criar um efeito tampão para escamotear antagonismos, assim como também não existem adolescentes independentes conscientes dos danos que causam., pois devem ser frágeis criaturas, vítimas de políticas de austeridade, sem noção das repercussões dos seus actos e como tal, precisam de tolerância, meiguice, perdão e reabilitação.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Defense

David: We draw a magic circle and shut out everything that doesn't agree with our secret games. Each time life breaks the circle, the games turn grey and ridiculous. Then we draw a new circle and build a new defense.

Karin
: Poor little daddy.

David
: Yes, poor little daddy, forced to live in reality.

Såsom i en spegel (1961), Bergman