segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Complexo

(Simulação) Contributos valiosos de alguns investigadores das relações internacionais nos noticiários; ou velhos ressentimentos com colegas de ciências da comunicação porque eu percebo de tudo em geral e de nada em particular:

- Ouçaaa…eu sei que vocês jornalistas gostam de encontrar uma resposta linear para tudo mas eu não posso dar-lhe isso aqui. Não quero cometer imprecisões e avançar com cenários futuros porque tudo é muito incerto e existem muitas tensões entre agentes e blocos e massas. O que lhe posso dizer é que é preciso ter cuidado com os preconceitos quando avaliamos cenários destes; o futuro é nebuloso e está tudo em aberto. Até tenho algumas possibilidades que podia aqui partilhar convosco mas não é o lugar apropriado porque as pessoas lá em casa não vão perceber. Nunca estiveram num observatório político; nunca viram os acontecimentos com olhos de ver, está a ver? A minha opinião também não a posso dar porque a minha profissão é guiada pela isenção e rigor. Mas estamos a viver tempos interessantes, sem dúvida. Vamos aguardar. 

Não é para parecer arrogante porque Relações Internacionais nunca foram bem a minha praia. Mas é por isso mesmo que fico na expectativa de uma luz orientadora. Mas “sai sempre mais confuso do que o que entrou”, como dizia o artista. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Barroso, muda-me o pneu!


Sempre pioneira na divulgação das notícias mais frescas que nos chegam de Bruxelas, a imprensa britânica deu a conhecer, na primeira semana de Setembro, a intenção da Comissão Europeia submeter veículos clássicos e modificados ao teste de licenciamento nos vários Estados-membros para manter as estradas mais seguras e proteger o ambiente. [1]

Esta uniformização das regras de licenciamento vem pesar sobretudo, ao que parece, nas viaturas que são definidas pela UE como “veículos históricos”. Um “veículo histórico” segundo a definição da FIVA (Fédération Internationale des Véhicules Anciens) é um veículo rodoviário de propulsão mecânica fabricado há pelo menos 30 anos, preservado e mantido em estado historicamente correcto, que não é utilizado como meio de transporte diário, e que faz parte do nosso património técnico e cultural (ou conforme consta na proposta: «vehicle of historic interest’ means any vehicle which fulfils all the following conditions : It was manufactured at least 30 years ago; It is maintained by use of replacement parts which reproduce the historic components of the vehicle; It has not sustained any change in the technical characteristics of its main components such as engine, brakes, steering or suspension and It has not been changed in its appearance.» [2]) Comovam-se todos, a UE está preocupada com a conservação do seu património cultural - talvez esteja a tentar redimir-se dos domínios em que o destrói. 

Dentro dos referidos parâmetros, percebemos que muitos carros deixarão de estar isentos dos testes e haverá ampla possibilidade das viaturas serem chumbadas devido à panóplia de justificações e complicações, no momento do teste, que decorrem da introdução de componentes distintos dos originais e da impossibilidade de ter acesso aos dados detalhados de origem.

Em especial no caso inglês (onde o alarme eurocéptico depressa disparou), a ser aprovada como lei, esta mudança irá incidir nas regras da inspecção nacional dos transportes, MOT (Ministry of Transport) test, acrescendo-se à já rigorosa exigência que tem aumentado ao longo dos anos, tanto na regularidade temporal das inspecções, como nos aspectos técnicos verificados. A indústria dos “carros históricos” emprega 28 mil pessoas e contribui com 4,3 mil milhões de libras no Reino Unido. [3] Os especialistas nestas lides garantem que as modificações aplicadas aos veículos não afectam a sua segurança, contudo, é impossível demover a ávida actividade legislativa de normas supérfluas que consomem tempo e dinheiro. 

Quem tem carinho especial pela sua relíquia automóvel, estima-a tanto que quase não sai com ela à rua; prefere puxar-lhe o lustro do que propriamente acelerar. Se o automobilista sabe que está a conduzir um carro novo com o máximo de conforto e segurança garantidos, mesmo inconscientemente é levado a arriscar e a dar-se a um maior desleixo que pode levar, paradoxalmente, a uma maior probabilidade de incorrer em acidentes de viação. Pelo contrário, num chaço barulhento e instável só assume comportamentos de risco quem não tiver amor à vida. Mas numa viatura antiga e mimada todos os dias, seria irracional o proprietário não se certificar da própria segurança – certamente, terá rendimentos suficientes para esse efeito. Mas, como de costume, os legisladores estão-se marimbando para a cautela e inteligência das pessoas. O perigo pode estar em todo o lado, portanto temos de apertar a regulamentação e temos de apertar a regulamentação porque o perigo pode estar em todo o lado. 

Mas não sejamos pessimistas. Se entretanto deixar de ser viável despender dinheiro na paixão por carros antigos com a criatividade que lhe é inerente, podem apostar em outras actividades; por enquanto ainda não ouvi falar de nenhuma proposta para regulamentar a construção e uso de carrinhos de regulamentos – embora seja mais um dos resquícios de brincadeiras tradicionais que urge ilegalizar, dada a incapacidade de muitos progenitores em protegerem a integridade física dos filhos, perante a violência iminente a que estão expostos. Aguarda-se regulamento europeu para colmatar esta falha; brinquem enquanto nenhum eurocrata vem aqui buscar-me a ideia. 

[1] http://www.telegraph.co.uk/motoring/news/9526693/Motorists-face-EU-ban-for-modifying-cars.html
[2] http://ec.europa.eu/transport/doc/roadworthiness-package/com%282012%29380.pdf
[3] http://www.dailymail.co.uk/news/article-2199311/Millions-modified-classic-cars-banned-roads-meddling-European-Union-try-shake-MOT-rules.html

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sempre de pé atrás com a democracia

O pesadelo irremediável e decorrente da própria democracia é sempre o mesmo: escolher para todos o que a maioria acha que “faz bem à saúde”. Quem sabe como a democracia funciona não se espanta disto. O espantoso é ver alguns críticos da democracia a usarem-se do mesmo método de arrastão e aceitarem que a população fique a comer bolotas, 10 ou 20 anos, se a carência do país assim o ditar. O alvoroço de alguns que tentam assumir uma posição responsável, leva-os a incorrerem no mesmo problema e a não hesitarem em passar uma receita a toda a população, subscrevendo opções políticas com a desculpa de que não há nenhuma opção melhor. Tanta coragem junta deve ser demonstração de virilidade súbita causada pelo esforço de contenção que viciou estas pessoas a despojarem-se de tudo quanto têm para entregar ao governo de mão beijada. Outra possibilidade é estes preconizadores da austeridade ainda não lhe terem sentido o cheiro na própria casa e assim conseguem verbalizar coisas enquanto ignoram o país real.

O perigo é generalizarem sobre um povo para se revoltarem contra ele. Existem uns tipos que não querem pagar dívidas somente porque têm nostalgia da farra do passado; sim, é verdade e esses já os conhecemos. Mas, por outro lado, há quem sempre tenha rejeitado a usura; até quem deu o corpo às balas contra o sistema, reconhecendo sempre que isto não tinha nada para dar certo. Se uma percentagem considerável da população vai, ou quer, algum dia aprender, é impossível prever. Sei que existem muitos que nunca precisaram de lições para seguir uma conduta que pensa no dia seguinte.

Nesta lição do “pagamento da dívida faz bem à saúde” vale de tudo, inclusive oprimir minorias: quem nunca se identificou com as práticas dos governos; quem os ignorou ou quem os detestou; quem se isolou ou baixou os braços por saber que teimando no centralismo, qualquer esforço por reformar seria sempre frustrante; os mais velhos que descontaram e calaram durante as últimas décadas enquanto assistiram  à sua expropriação pelo rotativo espectáculo destes partidos; quem fez tudo por viver uma vida independente daquilo que o Estado apresenta de bandeja, entre outros.

Lá porque é hora de acertar contas, já é legítimo pisar estas e outras minorias e matar tudo numa só cajadada? A receita que têm para livrar um país da herança socialista é fazer um braço de ferro entre o vingativo e o caprichoso? Ainda ousam afirmar que existe consenso de todos para avançar e sacrificar. Uma razão para desgostar (eufemismo) da democracia: invariavelmente, “paga o justo pelo pecador” porque ir a tribunal agora parece que é desonra.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Direitos e Antropomorfismo da Bicharada

“Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência”. Esta frase insultuosa e opressora é o 1º Artigo da Declaração Universal dos Direitos do Animal, proclamada pela UNESCO em 1978. E insultuosa porque começa por ignorar hierarquia entre as espécies e é opressora porque legisla sobre aqueles que nem têm uma palavra a dizer. Quem defende “direitos do homem”, argumenta que estes emanam da sua racionalidade e livre escolha; logo aqui, fazer crer que os animais têm direitos é esvaziar os direitos do homem porque aos animais é impossível ter esse ponto de partida.Por arrastamento devíamos questionar porque é que ninguém defende deveres para os animais. Ou estamos numa brincadeira legislativa unilateral?

Quando alguns protectores dos direitos dos animais intimidam com recurso a analogias directas com as sensações e atributos humanos, sujeitam-se a um ridículo tal como o de eu afirmar: “Devia ser proibido beber leite de vaca; o senhor também gostava que eu fosse com um balde ou uma bombinha tirar leite à sua esposa para dar de beber aos meus cães?”

Fazem um corpo de direitos atribuídos com as excepções que o homem está disposto a aceitar com presunção legislativa que tudo abarca. Se o homem tiver consagrado o direito à vida, ninguém aceitará excepções como: “tem direito à vida, excepto se a carne dele puder saciar-me a fome numa ilha deserta ou se for morto de modo instantâneo e indolor”. Mas é isto que é feito na tal declaração e toda a argumentação é uma completa contradição porque, querendo decalcar toscamente os “direitos do homem”, depara-se com as forças da natureza que nenhuma ficção consegue persuadir.


O primeiro problema óbvio é a delimitação entre as espécies e a gravidade das violações dos supostos direitos dos animais. Já percebemos que isto fica ao critério de quem desenha os tais direitos e simplificam desde logo partindo do pressuposto de que todos os animais são iguais. Quem nega que um gato é mantido para passar o dia a roçar-se nos sofás e a aquecer os pés ao dono, enquanto um cavalo é criado como força de trabalho, de transporte ou treinado com finalidades desportivas?

Mas mais grave do que não reconhecer as diferenças intrínsecas entre as animais, é querer igualar todos os animais ao ser humano. E querem mais extremo ainda? Achar que o homem tem a obrigação de servir os animais. Em última instância, que será legítimo incriminar e punir alguém por violação de direitos dos animais. Se um peixe come peixes mais pequenos, se uma águia rasga e devora a presa sem piedade e se o homem tem a tradição de matar o porco, nada disto é crueldade mas são necessidades banais da natureza.

Há também o facto de aos animais não pode ser atribuída culpa ou inocência. Se um homem ficar frente ao ataque eminente de um urso e estiver na posse de uma arma, o melhor que faz é disparar. Vamos questionar se foi comprovadamente em legítima defesa? Claro que não. O urso nunca iria encher-se de compaixão ou acobardar-se, a menos que estivesse com pouca fome. O instinto, sua única bússola de acção, levá-lo-ia a fazer a escolha acertada de devorar um tenrinho naco de carne humana. Ninguém pode atribuir culpa a um urso porque este não tem livre-arbítrio, mas também ninguém pode incriminar um homem por beneficiar da sua superioridade diante das outras espécies. Todo o instinto de sobrevivência dita a constante batalha para ver quem primeiro corta a cabeça a quem: o homem à galinha, a cobra ao pardal ou o homem à cobra. Não acredito que um animal fique mais “ressentido” por ser morto para diversão do que para ser transformado numa travessa de entremeadas. Ainda assim, existem comportamentos cruéis que podemos censurar pessoalmente, contudo não podemos expandir a moralidade a seres amorais. Quem o faz, certamente viu demasiadas vezes as lágrimas do “Porquinho Babe”. Levar um coice, uma mordidela ou uma cornada são mais eficazes na defesa de maus-tratos do que uma sanção do governo e a intromissão em cada casota e em cada arena. Cada pessoa deve agir para punir ou apoiar na sua zona de influência os comportamentos que conhece.

Quando um animal quiser responder em tribunal podemos voltar a conversar. Por último, convém lembrar a importância da propriedade privada como melhor forma de usar e proteger os recursos com sabedoria. A propriedade privada é óptima para os animais porque ninguém cuida daquilo que não possui. A rotina de matar animais, seja para consumo ou para outras finalidades como a caça em geral, beneficia a espécie no seu todo pois assegura a sua continuidade. Pensem nisso na próxima vez que comerem canja de galinha. O número irrisório de pessoas que faz luta a este facto ridiculariza-se a si mesmo; algo hilariante seria imaginar o simples amor aos animais conseguir garantir o abastecimento de carne nos supermercados, em vez do interesse dos criadores de animais. E um bom exemplo dessa insustentabilidade sem o interesse do proprietário reflecte-se na criação de touros que são utilizados nos espectáculos tauromáquicos. A contrapor ao argumento da preservação da espécie, a única resposta dos preconizadores dos direitos dos animais é que se estes criadores “egoístas” fossem proibidos de usar os touros na arena, a extinção do animal nem faria assim tanta mossa no ecossistema. Parece bastante sensibilizador.



Mesmo assim, poderá não ser convincente a distinção que temos feito, por referência aos “direitos do homem” porque muitos consideram que não existem direitos universais atribuídos ao homem e que também estes serão uma ficção. Neste caso, a aversão à tentativa de universalizar e proteger os animais na referida declaração mantém-se, não por não se verificarem os atributos de racionalidade e livre-arbítrio, mas porque a condição dos animais dita as suas próprias regras num dado espaço, em determinada comunidade e aqueles direitos continuam a ser absurdos. Isto vai novamente ao encontro da protecção mais eficaz das espécies. Em cada comunidade, as complementaridades entre o homem e os animais ditaram uma própria hierarquia e as suas próprias convenções, seja pelas práticas religiosas, pelos animais enquanto factores de produção, hábitos alimentares ou espectáculos tradicionais. É neste ambiente local que a preservação das espécies revela os próprios equilíbrios internos, equilíbrios que a população entende e faz prevalecer e que nenhuma legislação geral jamais pode tocar sem ferir.

In taming, domesticating, and training animals man often displays appreciation for the creature’s psychological peculiarities; he appeals, as it were, to its soul. But even then the gulf that separates man from animal remains unbridgeable. An animal can never get anything else than satisfaction of its appetites for food and sex and adequate protection against injury resulting from environmental factors.

Ludwig von Mises, Human Action, p. 628

Bom Comportamento com a Dívida ao Pescoço


A triste figura a que o pé pesado do governo subjuga os portugueses quando os obriga a trabalhar “sol a sol” para pagar aos credores, recorda-me a cena clássica que sempre me perturbou no Natal. Aliás, não é no Natal, é durante o ano todo. Os pais têm, ou tinham, o hábito de sujeitar as crianças a uma fácil chantagem para domar maus comportamentos e outras inconveniências: “Porque é que tens de comer a sopa? Ora, para o Pai Natal ver! E respeitar a professora. E mudar a lâmpada da sala. E trazeres o jornal ao pai. E ficares calado à mesa e parares de dar opinião. Se não te portas bem o Pai Natal vê e não recebes prendinha.”

Gabo-me de nunca ter acreditado no Pai Natal (embora me tenham criticado por destruir a magia no Natal) e também não me apetece acreditar que a dívida seja para pagar. Não me impressiona que aqueles meninos mais mimados que capturam a autoridade e os rendimentos aos papás cedam um bocadinho na maturidade e tentem acreditar que o tal senhor existe. O que chateia é ver que até os miúdos espertos que, em certa hora, enfrentaram os pais – “deixa-te lá de histórias que eu sei que o Pai Natal é mentira e não preciso cá de prendas para me dares a volta”, – acabem por defender a disciplina de pulso de ferro quando o pai lhes diz: “Olha, o Pai Natal vai morrer… agora tens mesmo de te esforçar”.

Isto é o que acontece com muitos liberais que fazem frente à parasitagem e não querem compactuar com a quadrilha estatal mas depois não se importam de fazer a vénia ao monstro quando ele diz que é preciso pagar uma dívida – fisicamente impagável se quisermos continuar vivos. É literalmente trabalhar para aquecer; seria mais fácil o Pai Natal passar pela chaminé – ou até um camelo passar no buraco de uma agulha – do que Portugal pagar a dívida. Mas enquanto ninguém contrariar este discurso viciado que acorrenta a produtividade e a própria soberania nacional, os indivíduos vão continuar a agonizar para seguir a disciplina que é ditada do exterior. Alguns dirão que só no aperto é que muitos compreendem e aceitam a necessidade de implementar reformas. O meu pessimismo obriga-me a concordar. Contudo, parece-me que mais facilmente as pessoas aprendem do que os governos, pois estes facilmente dão a volta por onde mais agrada, conforme temos testemunhado.

Acreditar e apregoar as respostas que o governo e os meios de comunicação nos dão é de todo incoerente. A quem mantém a saudável desconfiança face às intenções dos governos, com perseverança até em tempo de vacas gordas, não fica bem lavar-se em lágrimas quando finalmente o próprio Estado rebola na lama e é punido por perder toda a credibilidade internacional. Deixem de fingir que os defaults não fazem parte da história; a essência mais imoral do Estado é que deve ir colher os frutos dos seus próprios vícios. Abomino endividamento mas não estarei na fila da frente a limpar a festa que os outros deixaram. Expliquem de uma vez por todas à criançada as vantagens de ser responsável e não os comprem com falsas prendas.

Juventudes Partidárias: O Caminho para a Má Vida


Valerá a pena um jovem liberal filiar-se num partido político? E quem tem tédio e completo cepticismo face a partidos, deve sentir-se culpado? Aquele tipo de culpa que nos atiram se dizemos que somos o gangue dos “abstencionistas, brancos ou nulos”.
É muito frequente o dilema: mantenho-me inteiramente honesto e fico à margem dos partidos ou vou ceder um bocadinho e apostar na via partidária porque “vamos lá ver se faço a diferença”. Bem, para a generalidade da população, a militância em partidos resume-se à romaria e ao amiguismo que se mantém num nível mais próximo porque lá na freguesia sempre foram “laranjas” ou sempre foram “rosas”. Depois em partidos de dimensão mais tímida, ou temos a paixão ferrenha comunista ou temos os restantes partidos cujos encontros são quase tão estimulantes como uma reunião da tupperware.
Este quadro tosco pintado à pressa pode dar-nos jeito para entender que num país centralizado como o nosso, a pasmaceira das sedes partidárias ao longo do território é um reflexo valioso, semelhante ao comportamento abstencionista, e que a fraca vontade de um liberal participar é racional e até desejável. Já tivemos oportunidade de falar da relação do liberal com o estado.[1] Não é meu propósito fazer aqui um auto de fé a ninguém para dar um prémio a quem conseguir apartar-se mais do Estado; também tenho um cartão de militante sem que daí venha grande mal ao mundo.
Em contraste com o cepticismo da população, temos uma certa militância de jovens que descobriram a política e funciona como a vaidade da vizinha que escolhe o melhor vestido para ir às urnas e escarnece de quem fica em casa porque não percebe a sabedoria da abstenção. Dizem que quem se recusa a meter a mão na massa não tem moral para se pronunciar porque são inexperientes e não se preocupam com o mundo que os rodeia.
Poderá ser útil elucidar alguns desses jovens – e muita gente madura, igualmente iludida – para a racionalidade de não investir tempo na militância de partidos:
- Não há diferença substancial para a comunidade. O mais produtivo que pode acontecer é um militante inteirar-se mais dos assuntos regionais em que actua e advir daí experiência pessoal e competências práticas (quiçá alguns desgostos e calos);
- A forma de financiamento deixa-o encurralado porque, ou começa a olear bem a máquina para aprender a captar receitas públicas e a dar cotoveladas aos vizinhos, ou conserva a honestidade e percebe que “sem ovos não se fazem omeletes”;
- É tão producente e atractivo a um alentejano comparecer numa reunião do CDS da sua concelhia (mero exemplo), como é atractivo ao eleitor vulgar ir ler o contracto de concessão do projecto do TGV (não aquece, nem arrefece);
- Assiste-se à invariável ascensão dos menos capazes a altos cargos com real poder de decisão;
- A superficialidade das discussões em reuniões de partidos da oposição é quase um dado adquirido, dada a obscuridade das informações concedidas por quem está em funções;
- Só investe num partido quem tem a eleição garantida e quem espera tirar vantagem do Presidente da Câmara – é a mesma lógica evidente do nível nacional. Os interesses mais dispersos vão desperdiçar tempo, por muita realização pessoal que esse activismo proporcione: discutir a forma mais poupadinha de alcatroar a estrada, enquanto o President faculta terrenos na zona industrial ao amigalhaço.
Tudo isto incentiva a aprender, desde pequenino, a sujar as mãos e a abraçar o endividamento para finalidades que os contribuintes desconhecem – porque a fonte que jorra de Lisboa não incentiva ninguém a procurar financiamento alternativo. Nada aqui é novidade para aquele militante que se envolve por mero interesse carreirista. Mas quanto ao jovem liberal que não se queira conspurcar com algumas rotinas mais sujas, fica este breve alerta. Porque o tempo é precioso e não merece ser desperdiçado em vias sem poder vinculativo que estão viciadas à partida.
[1] O Liberal e o Estado

sábado, 8 de setembro de 2012

Daqui ninguém sai vivo


Nada melhor do que uma boa noite de sono para acalmarem ânimos depois dos “dois minutos de ódio” em que dá para rasgar as vestes. O grito em uníssono de guerra aos impostos vai moderar-se, ramificando-se gradualmente até ocupar a posições originais das várias sensibilidades ideológicas. Já todos tiveram tempo para dar um murro na tromba do vizinho que se aproveitou mais do sistema, já insultaram o
s grupos de interesse todos e arrependeram-se de não terem aproveitado mais.

Amanhã já podem fazer as contas, perceber que o nosso PM tem muita lábia ou não perceber muito bem o que muda mas que é sempre o fundo do poço. Vão acreditar que é mau mas que é impossível ser pior. Amanhã a execrável Constituição vai continuar cravada em todos os corações. Amanhã todos aceitarão que nos penhorem a pátria toda pelo bem do nosso posicionamento regional e pela manutenção do nosso status quo porque, pronto, sem estabilidade...nem dá para ir tirando uns apontamentos da História.


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Objectivamente

Minha garôta mi tomô p'ra dançá e eu falei:
Deixa dji bobagem! Ayn Randji fála qui isso é colectjivismo!

domingo, 2 de setembro de 2012

Tolerance


"Tolerance is the last virtue of a depraved society. When an immoral society has blatantly and proudly violated all the commandments, it insists upon one last virtue, tolerance for its immorality. It will not tolerate condemnation of its perversions. It creates a whole new world in which only the intolerant critic of intolerable evil is evil."

Hutton Gibson

Rubber Ring


“Not the free individual but the lost individual; not Independence but isolation; not self-discovery but self-obsession; not the conquer but to be conquered; these are major states of mind in contemporary imaginative literature.”

― Robert A. Nisbet, The Quest For Community: A Study In The Ethics Of Order And Freedom

sábado, 1 de setembro de 2012

O Bob Constructor Vai à Psicóloga


Em 1912 :

- Filho, estás um homem feito! Queres vir comigo para a carpintaria?

- Ena, é para já!

Em 2012:

- Filho, a professora diz que andas com um ar desanimado. Queres vir comigo para a carpintaria?

- Criminoso! Destruidor de sonhos. Não sei… Esta semana tenho reunião com a psicóloga.

Algumas opiniões fazem questão de perpetuar a ideia de que as profissões mais práticas correspondem sempre ao beco dos eternos enjeitados e pobrezinhos. Este discurso da segmentação social simplista aparece quando se fala em valorizar o ensino profissional. Quem se horroriza com o ensino profissional tem horror a quem lhe repara a máquina de lavar, a quem lhe faz os sapatos, a quem lhe monta a estante da sala. Não concebem a ideia de um soldador alcançar remuneração superior a um engenheiro civil, com base no ser mérito, nem a possibilidade de um jovem escolher uma profissão destas por autêntica motivação e talento para a coisa. Na mente dos benfeitores do costume, até o Bob Constructor deve ter sido vítima de um contexto familiar problemático e foi parar às engenhocas devido ao pesado background social. Aquilo que testemunhei foi diferente. Vi colegas abastados a chumbarem e “patinarem” graças à torneira financeira e paciência incansável dos pais e vi alunos de origens mais modestas com resultados de excelência. Estes últimos percebem melhor quanto custa andar com indecisões, ser calão ou confiar demasiado na sorte. Mas o meu testemunho vale o que vale.


Os missionários das soluções estatizantes gostam de cultivar pessoas débeis sem capacidade de decisão sobre a própria vida. Passam um atestado de negligência e de ignorância aos alunos e às famílias e até accionam o alarme se as crianças que não entram no infantário – porque os petizes poderão sofrer de exclusão e retrocessos na opressora companhia dos pais.

Desta vez o governo vem defender o aumento de alunos no ensino profissional. Eis que se apressa o bastonário da ordem dos psicólogos a agarrar biscates para todos os colegas para que não seja descurado o acompanhamento dos jovens. Não é estranha a atracção pelos psicólogos que ganham hoje o estatuto que era reservado ao padre da aldeia. Se a criancinha difere dos colegas, em alguns meses, na capacidade de pronunciar na perfeição todas as sílabas, chama-se a psicóloga. Se o colega matulão do recreio lhe gamou os biscoitos e o empurrou para a caixa de areia…chama-se a psicóloga. O estado é incansável ao “ensinar a criança no caminho em que deve andar” porque o mundo está repleto de perigos e a obrigação dos contribuintes é andar a pagar para manter os indivíduos numa bolha gigante almofadada de imunidades.

O resultado é o raquitismo dos alunos, ilusão de que um país somente de doutores é viável e esquecemos que o ensino profissional é uma prioridade em qualquer economia decente que busca interacção entre oportunidades empresariais e oferta lectiva local (de preferência privada, financiada por quem está interessado na competência e não nas estatísticas).

O governo não pode impingir a ninguém um percurso académico e profissional. Talvez isto seja óbvio para todos. As pessoas ignoram é a outra face da moeda: acham positivo deitar dinheiro à rua com o ensino obrigatório estandardizado e ad eternun. Podemos andar aqui a desfrutar o momento sem que a vida nos chame à responsabilidade porque a vida ainda é uma criança. Desperdiçam-se os recursos nos caprichos igualitários que querem manter os alunos muito tempo no sistema, ninguém pensa muito no que visa atingir e andam a “patinar” como se fossem todos filhos de pai rico. Se algo correr mal no nivelamento dos novatos, chamamos a psicóloga.

Sétima Legião - A Voz do Deserto