quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Espécies a Aniquiliar na Rede Social


Eu sei que não é nada original fazer teses sobre fenómenos que decorrem no Facebook mas importa aqui discorrer sobre três tipos de manifestações escritas que são perturbadoras. A categorização é minha e limito-me a enumerar os tipos mais frequentes e dolorosos.

1 - O “Activista Compulsivo Implacável”, faz terrorismo visual em Caps Lock num interminável grito mudo: “EM 1990, NASCI E VIM AO MUNDO, APÓS A REVOLUÇÃO DE ABRIL. EM 2008 ENTREI PARA OS FUZILEIROS. ESTE MUNDO É FEIO E O GOVERNO DEVIA BAIXAR OS IMPOSTOS, CARAGO! É UMA CAMBADA DE LADRÕES, GATUNOS E COISO E TAL. TENHO SAUDADES TUAS! QUANDO PASSAS CÁ COM OS MIÚDOS? JÁ DEI DE COMER AOS CÃES E AGORA VOU FAZER O ALMOÇO. BEIJOS À FAMÍLIA, ÉS MUITO LINDA.”

2 - O “Mestre do Suspense”, prende-nos a atenção numa perpétua reticência para fazer render a fruta. Geralmente só tem banalidades a transmitir: “Agora que dizes isso, lembrei-me de muitas coisas que podia exemplificar…Tem muito que se lhe diga…realmente. Bem, não concordo com tudo, claro…admito…mas é interessante…Não podemos estar sempre de acordo…não é…? Mas fez-me pensar…já foi bom por isso. Acho que não devias era meter essas coisas…aqui. Que tal irmos beber um café?…Sim…?...”

3 - “O Iletrado Omnipresente”, é aquela pessoa que nos faz tremer sempre que surge uma notificação referente a ela. Esta espécie pode encontrar a sua causa numa irremediável inimizade com o teclado ou num período alargado de emigração que varreu as réstias de bom português que lhe inculcaram na infância: “olà qrida! Està moitu bom!! O videu é um bucadu cinistro mas engrazadu. Já extive a ver as voças fôtos do Luxamburgo e nem todo vai bêm. Mas desejovos toda a forca do mundo!!! Gosta-va de darvos um abraso ainda neste Natál. Beijinhus prá famìlia! E desculpa os errus, estou a esquever num teclado difrente”

domingo, 16 de dezembro de 2012

Festas Boas - Entre a Gula e o Grotesco

Mais deprimente que um “Natal dos hospitais”, só mesmo o Natal dos “Centros comerciais”. Tão intragáveis templos da modernidade, atulhados de ateuzinhos frenéticos e desesperados, fazendo equilibrismo com a caixa das farófias a pingar nos rebordos, os 6€ de Bolo-Rei estandardizado, as bonecas descabeladas e os telecomandados infernais que oferecem aos seus rebentos. Ainda mais cautelosos em aprimorar o laicismo da metódica mensagem de “boas festas” do que na escolha do bacalhau ideal, desfilam humilhantes com o barrete reles enquanto improvisam a pergunta simuladamente preocupada em conhecer o comportamento dos putos ao longo do ano. Não tenham tanta pressa; vão ver que adormecem ainda mais estéreis do que quando acordaram. Encham o bandulho com calma para poupar no ENO e não esbanjem tudo em presentinhos de conveniência porque em Janeiro costuma haver subida dos combustíveis. 


sábado, 1 de dezembro de 2012

New Dawn Fades

A merecida recompensa nunca chega tarde. Chega quando está pronta para ser recebida. No terreno já aplanado.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Esticar a corda


Agora há por aí uma tendência para sustentar qualquer opinião, com base do maniqueísmo entre lado protestante e lado católico. Em prejuízo do primeiro que é coisa que até me agrada. Mas quando repetido até à exaustão, com certo oportunismo e por “dá cá aquela palha”, começa a dar tédio e a perder seriedade e impacto. Eu não gosto de favas, ora portanto, devo concluir que as favas revelam um amargo muito protestante e o meu rico chocolate é claramente católico. 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Solidariedade Planetária

Tive uma visão do paraíso na terra. Um exército planetário, pois só assim evitaremos facções e crispações em defesa de interesses rivais. Para além de mantermos a paz intacta, reuniremos poderio bélico capaz de fazer frente a qualquer marciano que nos ameace. Este exército permanente será financiado, naturalmente, pela boa vontade e impostos de todos os homens da Terra. Os mesmos impostos que servirão para nivelar a riqueza dos territórios, tão assimétrica e injustamente dotados pelo Criador. Contribuintes da Noruega a pagarem maquinaria agrícola para o Gabão; empreendimento de obras, no Alentejo, à conta de impostos cobrados no Texas. Só assim o egoísmo dos povos será abolido e atingiremos a plenitude da solidariedade. 

Penso que isto foi um toque inspirado pela opinião da Ana Gomes. Dizia ela, ontem à noite, que os europeus são “mesquinhos” porque não têm a visão do benefício para “um todo” e não são solidários. Entristece de facto (esta senhora deve ser a maior lá do bairro; solidária como só ela sabe.) Às vezes surpreendo-me com estas visões, apocalípticas mas lindas; depois lamento que não apareça ninguém, com regularidade, a convencer as pessoas que isto só vai lá com um orçamento único, bem atilado por gente genial que não se misture com o povo grunho que está cá em baixo a trabalhar, sentir, preferir e escolher coisas. Não costuma aparecer ninguém, pois não? Huum. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Lynyrd Skynyrd - That aint my America


It's to the women and men in their hands they hold a bible and a gun
And they aint afraid of nothing when they're holding either one, oh uhh
Now theres kids that cant pray in school, hundred dollar tanks of gas,
I can tell you right now this country aint, aint supposed to be like that

No, that aint my America, that aint this country's roots
You want to slam ol Uncle Sam but I aint lettin you
Yeah I'm mad as hell and you know I still, bleed red white and blue
That aint us, that aint my, that aint my America, oh no, That Aint My America


Ontem, até entornavas o champagne


Foram só 11,71%. Certo. Até podiam ter sido apenas 8% ou 5%. Qualquer saudável pessimista sabe que o partido seria sempre tímido no peso decisório; e depois lá surgem os fatais arranjinhos de coligação que dão sabor amargo a qualquer eleitor que ainda guarda sinceridade na intenção de voto. A democracia, suja como é, não traz grandes novidades - apesar de alguns resquícios de fé renovada que lá aparecem de tempos a tempos – mas a benevolência de alguns militantes, o culto do chefão de partido e a luta contra a realidade por recurso ao simples engrandecimento face ao outro (que é pior do que nós e isso dá um jeitão), revelam bem o lado mais sinistro do clubismo partidário português. 

Se não queriam humilhar o nome que vos marca a fachada, os princípios em que se alicerçam, os célebres discursos do passado, a confiança dos simpatizantes que reuniram pelo país sempre que os cidadãos sentiam mais um golpe fiscal a apertar…Se já estavam fartos de saber que só vos queriam na coligação para juntar o número de carneiros necessários para sentar e levantar, então nunca aceitavam! Era preferível fazer pressão por fora do que alinhar com chantagens de suposta estabilidade, fazendo figura de ursos. Ter preferência por deitar borda fora tudo o que venderam a quem vos deu votos, optar pela traição completa para ajudar a enterrar o país, fazer este “belo” serviço? Desculpabilizam-se porque não conseguem ser mais do que lacaios do PSD, dado que foram só 11,71%. Bem, quando entraram no "monstro" já sabiam. Não merecem qualquer consideração, nem perdão. Não peçam moderação nas críticas que vos são dirigidas.


domingo, 18 de novembro de 2012

"A modernidade vai no sentido errado" - João Gabriel

Isto é deveras preocupante.
João Gabriel, (9 anos).
Análise Comparativa de Escola Primária herdada do Estado Novo e Escola Primária inaugurada em 2011:
“Não gosto da escola nova porque está muito longe de casa, o escorrega é pequeno, o campo de futebol é muito rijo, os mosaicos estão totalmente mal colocados, tem más instalações perante a chuva, o corredor único junta o barulho de todos, tem cores enjoativas na cantina, janelas mal pensadas porque as senhoras precisam de uma vara para abri-las, as pedras que enfeitam o telhado precisam de manutenção quando a chuva ou o vento são fortes, o polivalente é pequeno e eu preferia ir ao Palácio dos Desportos de Torres Novas, a escola tem fácil acesso para assaltantes, há fortes correntes de ar no recreio porque a construção está mal desenvolvida, as grelhas da vedação são feias e existe um muro de três metros que coloca as crianças em perigo porque algumas saltam à pressa quando toca a campainha.
Gostava da escola antiga porque a sala era bem organizada, os cabides e arrumação eram perfeitos, o recreio era enorme e divertido, o escorrega era funcional, estávamos livres de correntes de ar, tínhamos árvores de fruto e plátanos grandes, a vedação era bonita, o chão estava bem nivelado e resistente, as janelas eram práticas, os bancos eram confortáveis, as cores eram agradáveis e a temperatura, no Verão ou Inverno, era sempre amena.”

sábado, 17 de novembro de 2012

Militância em Foco


Certamente implica inúmeros custos, decepções, cabeçadas, críticas pessoais e, sobretudo, deve ser sempre acautelado por cepticismo e firmeza nos valores pessoais. 

Mas se existem vantagens a ponderar na decisão pessoal de arriscar a militância num partido político a nível local, elas passam por: possibilidade de sentir, sem rodeios, tensões internas em vez de silêncios de ocasião, como acontece a nível nacional; regressar regularmente ao nosso “ninho natal” e esquecer algumas abstracções que tão confortáveis são no nosso dia-a-dia profissional; sentir alguma vergonha pelos nossos momentos de crítica fácil quando, finalmente, paramos para ouvir o testemunho vincado de autarcas que sempre se debateram por contrariar os embaraços de Lisboa e priorizar o bem da comunidade; observar vontade genuína de encontrar formas alternativas de financiamento e de promoção do bem-estar; sentir cumplicidade entre os nossos conterrâneos quando concordamos na necessidade de um policiamento de proximidade porque nos desleixámos em cima das pedras que os nossos antepassados se bateram por pacificar; despertar para atentados feitos à população, tais como, mapas judiciais que desmembram o contacto do povo com a Justiça e manipulação burocrática que desmotiva as capacidades produtivas da agricultura e da indústria; entender, em dimensões palpáveis, a factura que os sucessivos governos nos legaram, naquilo que é nosso; e apreciar que as ideias e sugestões concretas, muitas vezes, suplantam pacotes ideológicos. 

Apesar de ser um problema, como alguém dizia hoje, “um autarca poder trocar tigelas de sopa por votos”, acrescento eu: ainda é mais perigoso um poder central organizar matanças do porco e churrascadas para todos. 

Cada um desempenha o seu papel onde se sente confortável; se as expectativas esbarrarem com a realidade, podemos dar-nos ao luxo de tirar daí um ensinamento, por conta própria, que ninguém nos contou.

Foi a Traição que Te Encheu


Outra culpa não tem quem ama o que é seu;
Culpa de trazer, com amor, o gemer da Pátria às costas.
Conta-lhes, diz aos teus que não foste tu,
Diz quantos o fizeram antes e refizeram sem pudor.
Maldição repetida por este, pelo que vem e pelo antecessor,
Tormento habituado sem redentor.

Esmorece-te mas não abras a porta à humilhação;                                                                                        
Que alento feliz é esse que à tua expressão dá sustento
E que força é essa que diante da ofensiva, contempla a paz da Lezíria?
Porventura enjeitaste o hábito, o adaptar dos ventos,
O caiar da casa e a reconquista dos aldeamentos?

A chaga que te expõe mas não esqueceu
E a lembrança que trazes no rosto,
Oh, semelhante semblante na calma de Agosto,
Não é esta a persistência de quem tanto padeceu?

Braços erguidos em afronta à traição
Não chegam para agonizar os vendidos que tanto enriqueceste
Nem que se abra agora o chão e engula os traidores,
Desleais de tanta respiração e suor agreste
Portadores de tantas perfuradas dores.

Que morte lenta concede ir à algibeira
Do amor que proteges à tua beira?
Doce descanso esse em que dormes a meio da invasão
Compras e vendes pisando o sangue na ladeira
Nasces a abraçar a armadilha da rendição.

Não te deixes embalar como quem é expulso;
A ruína das pontes que pisas, num pisar derradeiro de agonia e ingratidão,
Geme o passado límpido de quem te deu o pulso
E esse génio de uso que o estrangeiro usurpa porque vê que estás cheio.
Não lhes confesses o anseio, não reveles a memória amada,
Cuida do teu celeiro como da honra estilhaçada,
Guarda-o, esconde-o do alheio e confia que estás cheio,
De confiança, de centeio.
Bem sei, coração fraterno, que estás cheio.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O que o tempo ensina

Se a vontade dos governos fosse feita para vergar com facilidade, não teriam sido enviadas pragas, por terra e mar. Para despertar a humildade e quebrar alguma altivez de certezas perante os aparentes grandes feitos humanos, impõe-se,  por vezes, a necessidade de sacrificar uma geração de primogénitos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

domingo, 4 de novembro de 2012

Inimitável

Não sei como deixei passar, mas ainda venho a tempo. O comentário de Pedro Mexia, na Lei Seca, ao soberbo concerto de Leonard Cohen, com o fascínio e reverência com que poucos o conseguiriam descrever. Eu reduzo-me a ficar imóvel na cadeira enquanto a voz do bom velho faz o tempo parar na entoação de sabedoria inabalável e polida humildade.

Quatro concertos em cinco anos, Cohen compensou-nos, e bem, da longa ausência dos palcos e do mundo, quase diríamos «bendito desfalque», aquele que o fez ter de andar de novo em digressão, vir até nós. Dos concertos portugueses, um foi excepcional (o de Algés: comunicativo, desapontado, divertido), mas nenhum foi mau, não é possível, com aquele catálogo, com aquela presença.

De fato escuro («a lazy bastard living in a suit») e chapéu, magro, envelhecido, impecável, Cohen é sóbrio, educadíssimo, afável, apresenta e elogia demoradamente os músicos, trata-nos por «friends», fecha os olhos, dobra-se, ajoelha-se, saltita, curva-se, agradece-nos, abençoa-nos. É romântico, lascivo, místico, cáustico, um charmeur de cinismo brando, agora pacificado, e de crenças antigas, de ideias velhas, actuais. Aos 78 anos, deu-nos três horas e meia de espectáculo, que ouvimos com reverência, festa, emoção, e há muito que Cohen tem direitos a coros femininos e a solos virtuosos, ganhou o direito de fazer o que quiser com a sua música e com a sua poesia. 

Desta vez, tocou canções de todos os álbuns que contam: «Suzanne» (um hino improvável), «Sisters of Mercy» (a mais casta das canções impúdicas), «So Long, Marianne» (a mais feliz das despedidas tristes), «Hey, That’s No Way to Say Goodbye» (e eu bem sei); «Bird on the Wire» (a simplicidade total), «The Partisan» (numa calorosa interpretação, a política abstractizada, comunitária, instintiva); «Famous Blue Raincoat» (a mais adulta, mais terrível, canção de amor de mão em mão); «I Tried to Leave You» (bom tema para encores e sarcasmos), «Who by Fire» (o mais polissémico verso de Cohen: «And who shall I say is calling?»): «The Guests» e «The Gipsy Wife» (canções «étnicas», etnomusicais); «Dance Me to the End of Love» (passe a redundância), «Coming Back to You» (Cohen deu voz às «sublime Webb Sisters», e de facto são), «Hallelujah» (e o Atlântico tornou-se bíblico); «First We Take Manhattan» («e depois Berlim», cantaram as massas), «Everybody Knows» (as males pessoais e os males do mundo, isto anda tudo ligado), «I’m Your Man» (masculinidade para homens inteligentes), «Take This Waltz» (Lorca vive), «Tower of Song» (Cohen pensionista da canção); «The Future», (um tratado de conservadorismo apocalíptico), «Waiting for the Miracle» (com a sardónica: «The Maestro says it’s Mozart / but it sound like bubblegum»), «Closing Time» (ideal para um falso final de concerto), «Anthem» (talvez o melhor verso de Cohen: «There is a crack in everything / That’s how the light gets in»), «Democracy» (whitmaniana, paradoxal); «In My Secret Life» (quem é que não tem uma?), «Alexandra Leaving» (com a possante Sharon Robinson). E do novo álbum, que ainda não ouvi suficientes vezes, «Going Home», «Amen», «Darkness», «Come Healing» (os títulos dizem tudo, é quase uma despedida).

Embora tenha falado pouco, Leonard Cohen disse-nos: «Espero encontrar-vos mais vezes no futuro». Ainda que não volte, fica prometido.  

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Tomás Luis de Victoria (1548-1611) Responsori

Daquilo que permanece

Apesar de tudo, é tranquilizante saber que os mais perniciosos e desequilibrados experimentalismos humanos não prevalecem, com resistência que lhes valha, aos eixos da natureza e do tempo mais imponente.  Tal como o homem que menospreza o valor da camaradagem termina os seus dias a lamentar a evidência que andou perdida nas suas loucuras: ninguém depende do outro por ser incompetente mas porque o aperfeiçoamento só se alcança pela conjugação confiante e habitual das aptidões.

Nenhum ousado consegue   aguentar-se como eterna carta fora do baralho e cai na humilhação da própria arrogância. Por muito devastador que seja, cai no esquecimento e toma lugar a rendição ao equilíbrio inicial. Assim também, existem ideias que são tornados; conhecem-se à distância e são assustadoras aos olhos de quem respeita e protege os bens e valores erigidos. Aquelas ideias são passageiras e nada abalam se existe a base robusta, tão duradoura quanto refinada e polida.

(William Bouguereau, La leçon difficile)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Complexo

(Simulação) Contributos valiosos de alguns investigadores das relações internacionais nos noticiários; ou velhos ressentimentos com colegas de ciências da comunicação porque eu percebo de tudo em geral e de nada em particular:

- Ouçaaa…eu sei que vocês jornalistas gostam de encontrar uma resposta linear para tudo mas eu não posso dar-lhe isso aqui. Não quero cometer imprecisões e avançar com cenários futuros porque tudo é muito incerto e existem muitas tensões entre agentes e blocos e massas. O que lhe posso dizer é que é preciso ter cuidado com os preconceitos quando avaliamos cenários destes; o futuro é nebuloso e está tudo em aberto. Até tenho algumas possibilidades que podia aqui partilhar convosco mas não é o lugar apropriado porque as pessoas lá em casa não vão perceber. Nunca estiveram num observatório político; nunca viram os acontecimentos com olhos de ver, está a ver? A minha opinião também não a posso dar porque a minha profissão é guiada pela isenção e rigor. Mas estamos a viver tempos interessantes, sem dúvida. Vamos aguardar. 

Não é para parecer arrogante porque Relações Internacionais nunca foram bem a minha praia. Mas é por isso mesmo que fico na expectativa de uma luz orientadora. Mas “sai sempre mais confuso do que o que entrou”, como dizia o artista. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Barroso, muda-me o pneu!


Sempre pioneira na divulgação das notícias mais frescas que nos chegam de Bruxelas, a imprensa britânica deu a conhecer, na primeira semana de Setembro, a intenção da Comissão Europeia submeter veículos clássicos e modificados ao teste de licenciamento nos vários Estados-membros para manter as estradas mais seguras e proteger o ambiente. [1]

Esta uniformização das regras de licenciamento vem pesar sobretudo, ao que parece, nas viaturas que são definidas pela UE como “veículos históricos”. Um “veículo histórico” segundo a definição da FIVA (Fédération Internationale des Véhicules Anciens) é um veículo rodoviário de propulsão mecânica fabricado há pelo menos 30 anos, preservado e mantido em estado historicamente correcto, que não é utilizado como meio de transporte diário, e que faz parte do nosso património técnico e cultural (ou conforme consta na proposta: «vehicle of historic interest’ means any vehicle which fulfils all the following conditions : It was manufactured at least 30 years ago; It is maintained by use of replacement parts which reproduce the historic components of the vehicle; It has not sustained any change in the technical characteristics of its main components such as engine, brakes, steering or suspension and It has not been changed in its appearance.» [2]) Comovam-se todos, a UE está preocupada com a conservação do seu património cultural - talvez esteja a tentar redimir-se dos domínios em que o destrói. 

Dentro dos referidos parâmetros, percebemos que muitos carros deixarão de estar isentos dos testes e haverá ampla possibilidade das viaturas serem chumbadas devido à panóplia de justificações e complicações, no momento do teste, que decorrem da introdução de componentes distintos dos originais e da impossibilidade de ter acesso aos dados detalhados de origem.

Em especial no caso inglês (onde o alarme eurocéptico depressa disparou), a ser aprovada como lei, esta mudança irá incidir nas regras da inspecção nacional dos transportes, MOT (Ministry of Transport) test, acrescendo-se à já rigorosa exigência que tem aumentado ao longo dos anos, tanto na regularidade temporal das inspecções, como nos aspectos técnicos verificados. A indústria dos “carros históricos” emprega 28 mil pessoas e contribui com 4,3 mil milhões de libras no Reino Unido. [3] Os especialistas nestas lides garantem que as modificações aplicadas aos veículos não afectam a sua segurança, contudo, é impossível demover a ávida actividade legislativa de normas supérfluas que consomem tempo e dinheiro. 

Quem tem carinho especial pela sua relíquia automóvel, estima-a tanto que quase não sai com ela à rua; prefere puxar-lhe o lustro do que propriamente acelerar. Se o automobilista sabe que está a conduzir um carro novo com o máximo de conforto e segurança garantidos, mesmo inconscientemente é levado a arriscar e a dar-se a um maior desleixo que pode levar, paradoxalmente, a uma maior probabilidade de incorrer em acidentes de viação. Pelo contrário, num chaço barulhento e instável só assume comportamentos de risco quem não tiver amor à vida. Mas numa viatura antiga e mimada todos os dias, seria irracional o proprietário não se certificar da própria segurança – certamente, terá rendimentos suficientes para esse efeito. Mas, como de costume, os legisladores estão-se marimbando para a cautela e inteligência das pessoas. O perigo pode estar em todo o lado, portanto temos de apertar a regulamentação e temos de apertar a regulamentação porque o perigo pode estar em todo o lado. 

Mas não sejamos pessimistas. Se entretanto deixar de ser viável despender dinheiro na paixão por carros antigos com a criatividade que lhe é inerente, podem apostar em outras actividades; por enquanto ainda não ouvi falar de nenhuma proposta para regulamentar a construção e uso de carrinhos de regulamentos – embora seja mais um dos resquícios de brincadeiras tradicionais que urge ilegalizar, dada a incapacidade de muitos progenitores em protegerem a integridade física dos filhos, perante a violência iminente a que estão expostos. Aguarda-se regulamento europeu para colmatar esta falha; brinquem enquanto nenhum eurocrata vem aqui buscar-me a ideia. 

[1] http://www.telegraph.co.uk/motoring/news/9526693/Motorists-face-EU-ban-for-modifying-cars.html
[2] http://ec.europa.eu/transport/doc/roadworthiness-package/com%282012%29380.pdf
[3] http://www.dailymail.co.uk/news/article-2199311/Millions-modified-classic-cars-banned-roads-meddling-European-Union-try-shake-MOT-rules.html

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sempre de pé atrás com a democracia

O pesadelo irremediável e decorrente da própria democracia é sempre o mesmo: escolher para todos o que a maioria acha que “faz bem à saúde”. Quem sabe como a democracia funciona não se espanta disto. O espantoso é ver alguns críticos da democracia a usarem-se do mesmo método de arrastão e aceitarem que a população fique a comer bolotas, 10 ou 20 anos, se a carência do país assim o ditar. O alvoroço de alguns que tentam assumir uma posição responsável, leva-os a incorrerem no mesmo problema e a não hesitarem em passar uma receita a toda a população, subscrevendo opções políticas com a desculpa de que não há nenhuma opção melhor. Tanta coragem junta deve ser demonstração de virilidade súbita causada pelo esforço de contenção que viciou estas pessoas a despojarem-se de tudo quanto têm para entregar ao governo de mão beijada. Outra possibilidade é estes preconizadores da austeridade ainda não lhe terem sentido o cheiro na própria casa e assim conseguem verbalizar coisas enquanto ignoram o país real.

O perigo é generalizarem sobre um povo para se revoltarem contra ele. Existem uns tipos que não querem pagar dívidas somente porque têm nostalgia da farra do passado; sim, é verdade e esses já os conhecemos. Mas, por outro lado, há quem sempre tenha rejeitado a usura; até quem deu o corpo às balas contra o sistema, reconhecendo sempre que isto não tinha nada para dar certo. Se uma percentagem considerável da população vai, ou quer, algum dia aprender, é impossível prever. Sei que existem muitos que nunca precisaram de lições para seguir uma conduta que pensa no dia seguinte.

Nesta lição do “pagamento da dívida faz bem à saúde” vale de tudo, inclusive oprimir minorias: quem nunca se identificou com as práticas dos governos; quem os ignorou ou quem os detestou; quem se isolou ou baixou os braços por saber que teimando no centralismo, qualquer esforço por reformar seria sempre frustrante; os mais velhos que descontaram e calaram durante as últimas décadas enquanto assistiram  à sua expropriação pelo rotativo espectáculo destes partidos; quem fez tudo por viver uma vida independente daquilo que o Estado apresenta de bandeja, entre outros.

Lá porque é hora de acertar contas, já é legítimo pisar estas e outras minorias e matar tudo numa só cajadada? A receita que têm para livrar um país da herança socialista é fazer um braço de ferro entre o vingativo e o caprichoso? Ainda ousam afirmar que existe consenso de todos para avançar e sacrificar. Uma razão para desgostar (eufemismo) da democracia: invariavelmente, “paga o justo pelo pecador” porque ir a tribunal agora parece que é desonra.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Direitos e Antropomorfismo da Bicharada

“Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência”. Esta frase insultuosa e opressora é o 1º Artigo da Declaração Universal dos Direitos do Animal, proclamada pela UNESCO em 1978. E insultuosa porque começa por ignorar hierarquia entre as espécies e é opressora porque legisla sobre aqueles que nem têm uma palavra a dizer. Quem defende “direitos do homem”, argumenta que estes emanam da sua racionalidade e livre escolha; logo aqui, fazer crer que os animais têm direitos é esvaziar os direitos do homem porque aos animais é impossível ter esse ponto de partida.Por arrastamento devíamos questionar porque é que ninguém defende deveres para os animais. Ou estamos numa brincadeira legislativa unilateral?

Quando alguns protectores dos direitos dos animais intimidam com recurso a analogias directas com as sensações e atributos humanos, sujeitam-se a um ridículo tal como o de eu afirmar: “Devia ser proibido beber leite de vaca; o senhor também gostava que eu fosse com um balde ou uma bombinha tirar leite à sua esposa para dar de beber aos meus cães?”

Fazem um corpo de direitos atribuídos com as excepções que o homem está disposto a aceitar com presunção legislativa que tudo abarca. Se o homem tiver consagrado o direito à vida, ninguém aceitará excepções como: “tem direito à vida, excepto se a carne dele puder saciar-me a fome numa ilha deserta ou se for morto de modo instantâneo e indolor”. Mas é isto que é feito na tal declaração e toda a argumentação é uma completa contradição porque, querendo decalcar toscamente os “direitos do homem”, depara-se com as forças da natureza que nenhuma ficção consegue persuadir.


O primeiro problema óbvio é a delimitação entre as espécies e a gravidade das violações dos supostos direitos dos animais. Já percebemos que isto fica ao critério de quem desenha os tais direitos e simplificam desde logo partindo do pressuposto de que todos os animais são iguais. Quem nega que um gato é mantido para passar o dia a roçar-se nos sofás e a aquecer os pés ao dono, enquanto um cavalo é criado como força de trabalho, de transporte ou treinado com finalidades desportivas?

Mas mais grave do que não reconhecer as diferenças intrínsecas entre as animais, é querer igualar todos os animais ao ser humano. E querem mais extremo ainda? Achar que o homem tem a obrigação de servir os animais. Em última instância, que será legítimo incriminar e punir alguém por violação de direitos dos animais. Se um peixe come peixes mais pequenos, se uma águia rasga e devora a presa sem piedade e se o homem tem a tradição de matar o porco, nada disto é crueldade mas são necessidades banais da natureza.

Há também o facto de aos animais não pode ser atribuída culpa ou inocência. Se um homem ficar frente ao ataque eminente de um urso e estiver na posse de uma arma, o melhor que faz é disparar. Vamos questionar se foi comprovadamente em legítima defesa? Claro que não. O urso nunca iria encher-se de compaixão ou acobardar-se, a menos que estivesse com pouca fome. O instinto, sua única bússola de acção, levá-lo-ia a fazer a escolha acertada de devorar um tenrinho naco de carne humana. Ninguém pode atribuir culpa a um urso porque este não tem livre-arbítrio, mas também ninguém pode incriminar um homem por beneficiar da sua superioridade diante das outras espécies. Todo o instinto de sobrevivência dita a constante batalha para ver quem primeiro corta a cabeça a quem: o homem à galinha, a cobra ao pardal ou o homem à cobra. Não acredito que um animal fique mais “ressentido” por ser morto para diversão do que para ser transformado numa travessa de entremeadas. Ainda assim, existem comportamentos cruéis que podemos censurar pessoalmente, contudo não podemos expandir a moralidade a seres amorais. Quem o faz, certamente viu demasiadas vezes as lágrimas do “Porquinho Babe”. Levar um coice, uma mordidela ou uma cornada são mais eficazes na defesa de maus-tratos do que uma sanção do governo e a intromissão em cada casota e em cada arena. Cada pessoa deve agir para punir ou apoiar na sua zona de influência os comportamentos que conhece.

Quando um animal quiser responder em tribunal podemos voltar a conversar. Por último, convém lembrar a importância da propriedade privada como melhor forma de usar e proteger os recursos com sabedoria. A propriedade privada é óptima para os animais porque ninguém cuida daquilo que não possui. A rotina de matar animais, seja para consumo ou para outras finalidades como a caça em geral, beneficia a espécie no seu todo pois assegura a sua continuidade. Pensem nisso na próxima vez que comerem canja de galinha. O número irrisório de pessoas que faz luta a este facto ridiculariza-se a si mesmo; algo hilariante seria imaginar o simples amor aos animais conseguir garantir o abastecimento de carne nos supermercados, em vez do interesse dos criadores de animais. E um bom exemplo dessa insustentabilidade sem o interesse do proprietário reflecte-se na criação de touros que são utilizados nos espectáculos tauromáquicos. A contrapor ao argumento da preservação da espécie, a única resposta dos preconizadores dos direitos dos animais é que se estes criadores “egoístas” fossem proibidos de usar os touros na arena, a extinção do animal nem faria assim tanta mossa no ecossistema. Parece bastante sensibilizador.



Mesmo assim, poderá não ser convincente a distinção que temos feito, por referência aos “direitos do homem” porque muitos consideram que não existem direitos universais atribuídos ao homem e que também estes serão uma ficção. Neste caso, a aversão à tentativa de universalizar e proteger os animais na referida declaração mantém-se, não por não se verificarem os atributos de racionalidade e livre-arbítrio, mas porque a condição dos animais dita as suas próprias regras num dado espaço, em determinada comunidade e aqueles direitos continuam a ser absurdos. Isto vai novamente ao encontro da protecção mais eficaz das espécies. Em cada comunidade, as complementaridades entre o homem e os animais ditaram uma própria hierarquia e as suas próprias convenções, seja pelas práticas religiosas, pelos animais enquanto factores de produção, hábitos alimentares ou espectáculos tradicionais. É neste ambiente local que a preservação das espécies revela os próprios equilíbrios internos, equilíbrios que a população entende e faz prevalecer e que nenhuma legislação geral jamais pode tocar sem ferir.

In taming, domesticating, and training animals man often displays appreciation for the creature’s psychological peculiarities; he appeals, as it were, to its soul. But even then the gulf that separates man from animal remains unbridgeable. An animal can never get anything else than satisfaction of its appetites for food and sex and adequate protection against injury resulting from environmental factors.

Ludwig von Mises, Human Action, p. 628

Bom Comportamento com a Dívida ao Pescoço


A triste figura a que o pé pesado do governo subjuga os portugueses quando os obriga a trabalhar “sol a sol” para pagar aos credores, recorda-me a cena clássica que sempre me perturbou no Natal. Aliás, não é no Natal, é durante o ano todo. Os pais têm, ou tinham, o hábito de sujeitar as crianças a uma fácil chantagem para domar maus comportamentos e outras inconveniências: “Porque é que tens de comer a sopa? Ora, para o Pai Natal ver! E respeitar a professora. E mudar a lâmpada da sala. E trazeres o jornal ao pai. E ficares calado à mesa e parares de dar opinião. Se não te portas bem o Pai Natal vê e não recebes prendinha.”

Gabo-me de nunca ter acreditado no Pai Natal (embora me tenham criticado por destruir a magia no Natal) e também não me apetece acreditar que a dívida seja para pagar. Não me impressiona que aqueles meninos mais mimados que capturam a autoridade e os rendimentos aos papás cedam um bocadinho na maturidade e tentem acreditar que o tal senhor existe. O que chateia é ver que até os miúdos espertos que, em certa hora, enfrentaram os pais – “deixa-te lá de histórias que eu sei que o Pai Natal é mentira e não preciso cá de prendas para me dares a volta”, – acabem por defender a disciplina de pulso de ferro quando o pai lhes diz: “Olha, o Pai Natal vai morrer… agora tens mesmo de te esforçar”.

Isto é o que acontece com muitos liberais que fazem frente à parasitagem e não querem compactuar com a quadrilha estatal mas depois não se importam de fazer a vénia ao monstro quando ele diz que é preciso pagar uma dívida – fisicamente impagável se quisermos continuar vivos. É literalmente trabalhar para aquecer; seria mais fácil o Pai Natal passar pela chaminé – ou até um camelo passar no buraco de uma agulha – do que Portugal pagar a dívida. Mas enquanto ninguém contrariar este discurso viciado que acorrenta a produtividade e a própria soberania nacional, os indivíduos vão continuar a agonizar para seguir a disciplina que é ditada do exterior. Alguns dirão que só no aperto é que muitos compreendem e aceitam a necessidade de implementar reformas. O meu pessimismo obriga-me a concordar. Contudo, parece-me que mais facilmente as pessoas aprendem do que os governos, pois estes facilmente dão a volta por onde mais agrada, conforme temos testemunhado.

Acreditar e apregoar as respostas que o governo e os meios de comunicação nos dão é de todo incoerente. A quem mantém a saudável desconfiança face às intenções dos governos, com perseverança até em tempo de vacas gordas, não fica bem lavar-se em lágrimas quando finalmente o próprio Estado rebola na lama e é punido por perder toda a credibilidade internacional. Deixem de fingir que os defaults não fazem parte da história; a essência mais imoral do Estado é que deve ir colher os frutos dos seus próprios vícios. Abomino endividamento mas não estarei na fila da frente a limpar a festa que os outros deixaram. Expliquem de uma vez por todas à criançada as vantagens de ser responsável e não os comprem com falsas prendas.

Juventudes Partidárias: O Caminho para a Má Vida


Valerá a pena um jovem liberal filiar-se num partido político? E quem tem tédio e completo cepticismo face a partidos, deve sentir-se culpado? Aquele tipo de culpa que nos atiram se dizemos que somos o gangue dos “abstencionistas, brancos ou nulos”.
É muito frequente o dilema: mantenho-me inteiramente honesto e fico à margem dos partidos ou vou ceder um bocadinho e apostar na via partidária porque “vamos lá ver se faço a diferença”. Bem, para a generalidade da população, a militância em partidos resume-se à romaria e ao amiguismo que se mantém num nível mais próximo porque lá na freguesia sempre foram “laranjas” ou sempre foram “rosas”. Depois em partidos de dimensão mais tímida, ou temos a paixão ferrenha comunista ou temos os restantes partidos cujos encontros são quase tão estimulantes como uma reunião da tupperware.
Este quadro tosco pintado à pressa pode dar-nos jeito para entender que num país centralizado como o nosso, a pasmaceira das sedes partidárias ao longo do território é um reflexo valioso, semelhante ao comportamento abstencionista, e que a fraca vontade de um liberal participar é racional e até desejável. Já tivemos oportunidade de falar da relação do liberal com o estado.[1] Não é meu propósito fazer aqui um auto de fé a ninguém para dar um prémio a quem conseguir apartar-se mais do Estado; também tenho um cartão de militante sem que daí venha grande mal ao mundo.
Em contraste com o cepticismo da população, temos uma certa militância de jovens que descobriram a política e funciona como a vaidade da vizinha que escolhe o melhor vestido para ir às urnas e escarnece de quem fica em casa porque não percebe a sabedoria da abstenção. Dizem que quem se recusa a meter a mão na massa não tem moral para se pronunciar porque são inexperientes e não se preocupam com o mundo que os rodeia.
Poderá ser útil elucidar alguns desses jovens – e muita gente madura, igualmente iludida – para a racionalidade de não investir tempo na militância de partidos:
- Não há diferença substancial para a comunidade. O mais produtivo que pode acontecer é um militante inteirar-se mais dos assuntos regionais em que actua e advir daí experiência pessoal e competências práticas (quiçá alguns desgostos e calos);
- A forma de financiamento deixa-o encurralado porque, ou começa a olear bem a máquina para aprender a captar receitas públicas e a dar cotoveladas aos vizinhos, ou conserva a honestidade e percebe que “sem ovos não se fazem omeletes”;
- É tão producente e atractivo a um alentejano comparecer numa reunião do CDS da sua concelhia (mero exemplo), como é atractivo ao eleitor vulgar ir ler o contracto de concessão do projecto do TGV (não aquece, nem arrefece);
- Assiste-se à invariável ascensão dos menos capazes a altos cargos com real poder de decisão;
- A superficialidade das discussões em reuniões de partidos da oposição é quase um dado adquirido, dada a obscuridade das informações concedidas por quem está em funções;
- Só investe num partido quem tem a eleição garantida e quem espera tirar vantagem do Presidente da Câmara – é a mesma lógica evidente do nível nacional. Os interesses mais dispersos vão desperdiçar tempo, por muita realização pessoal que esse activismo proporcione: discutir a forma mais poupadinha de alcatroar a estrada, enquanto o President faculta terrenos na zona industrial ao amigalhaço.
Tudo isto incentiva a aprender, desde pequenino, a sujar as mãos e a abraçar o endividamento para finalidades que os contribuintes desconhecem – porque a fonte que jorra de Lisboa não incentiva ninguém a procurar financiamento alternativo. Nada aqui é novidade para aquele militante que se envolve por mero interesse carreirista. Mas quanto ao jovem liberal que não se queira conspurcar com algumas rotinas mais sujas, fica este breve alerta. Porque o tempo é precioso e não merece ser desperdiçado em vias sem poder vinculativo que estão viciadas à partida.
[1] O Liberal e o Estado

sábado, 8 de setembro de 2012

Daqui ninguém sai vivo


Nada melhor do que uma boa noite de sono para acalmarem ânimos depois dos “dois minutos de ódio” em que dá para rasgar as vestes. O grito em uníssono de guerra aos impostos vai moderar-se, ramificando-se gradualmente até ocupar a posições originais das várias sensibilidades ideológicas. Já todos tiveram tempo para dar um murro na tromba do vizinho que se aproveitou mais do sistema, já insultaram o
s grupos de interesse todos e arrependeram-se de não terem aproveitado mais.

Amanhã já podem fazer as contas, perceber que o nosso PM tem muita lábia ou não perceber muito bem o que muda mas que é sempre o fundo do poço. Vão acreditar que é mau mas que é impossível ser pior. Amanhã a execrável Constituição vai continuar cravada em todos os corações. Amanhã todos aceitarão que nos penhorem a pátria toda pelo bem do nosso posicionamento regional e pela manutenção do nosso status quo porque, pronto, sem estabilidade...nem dá para ir tirando uns apontamentos da História.


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Objectivamente

Minha garôta mi tomô p'ra dançá e eu falei:
Deixa dji bobagem! Ayn Randji fála qui isso é colectjivismo!

domingo, 2 de setembro de 2012

Tolerance


"Tolerance is the last virtue of a depraved society. When an immoral society has blatantly and proudly violated all the commandments, it insists upon one last virtue, tolerance for its immorality. It will not tolerate condemnation of its perversions. It creates a whole new world in which only the intolerant critic of intolerable evil is evil."

Hutton Gibson

Rubber Ring


“Not the free individual but the lost individual; not Independence but isolation; not self-discovery but self-obsession; not the conquer but to be conquered; these are major states of mind in contemporary imaginative literature.”

― Robert A. Nisbet, The Quest For Community: A Study In The Ethics Of Order And Freedom

sábado, 1 de setembro de 2012

O Bob Constructor Vai à Psicóloga


Em 1912 :

- Filho, estás um homem feito! Queres vir comigo para a carpintaria?

- Ena, é para já!

Em 2012:

- Filho, a professora diz que andas com um ar desanimado. Queres vir comigo para a carpintaria?

- Criminoso! Destruidor de sonhos. Não sei… Esta semana tenho reunião com a psicóloga.

Algumas opiniões fazem questão de perpetuar a ideia de que as profissões mais práticas correspondem sempre ao beco dos eternos enjeitados e pobrezinhos. Este discurso da segmentação social simplista aparece quando se fala em valorizar o ensino profissional. Quem se horroriza com o ensino profissional tem horror a quem lhe repara a máquina de lavar, a quem lhe faz os sapatos, a quem lhe monta a estante da sala. Não concebem a ideia de um soldador alcançar remuneração superior a um engenheiro civil, com base no ser mérito, nem a possibilidade de um jovem escolher uma profissão destas por autêntica motivação e talento para a coisa. Na mente dos benfeitores do costume, até o Bob Constructor deve ter sido vítima de um contexto familiar problemático e foi parar às engenhocas devido ao pesado background social. Aquilo que testemunhei foi diferente. Vi colegas abastados a chumbarem e “patinarem” graças à torneira financeira e paciência incansável dos pais e vi alunos de origens mais modestas com resultados de excelência. Estes últimos percebem melhor quanto custa andar com indecisões, ser calão ou confiar demasiado na sorte. Mas o meu testemunho vale o que vale.


Os missionários das soluções estatizantes gostam de cultivar pessoas débeis sem capacidade de decisão sobre a própria vida. Passam um atestado de negligência e de ignorância aos alunos e às famílias e até accionam o alarme se as crianças que não entram no infantário – porque os petizes poderão sofrer de exclusão e retrocessos na opressora companhia dos pais.

Desta vez o governo vem defender o aumento de alunos no ensino profissional. Eis que se apressa o bastonário da ordem dos psicólogos a agarrar biscates para todos os colegas para que não seja descurado o acompanhamento dos jovens. Não é estranha a atracção pelos psicólogos que ganham hoje o estatuto que era reservado ao padre da aldeia. Se a criancinha difere dos colegas, em alguns meses, na capacidade de pronunciar na perfeição todas as sílabas, chama-se a psicóloga. Se o colega matulão do recreio lhe gamou os biscoitos e o empurrou para a caixa de areia…chama-se a psicóloga. O estado é incansável ao “ensinar a criança no caminho em que deve andar” porque o mundo está repleto de perigos e a obrigação dos contribuintes é andar a pagar para manter os indivíduos numa bolha gigante almofadada de imunidades.

O resultado é o raquitismo dos alunos, ilusão de que um país somente de doutores é viável e esquecemos que o ensino profissional é uma prioridade em qualquer economia decente que busca interacção entre oportunidades empresariais e oferta lectiva local (de preferência privada, financiada por quem está interessado na competência e não nas estatísticas).

O governo não pode impingir a ninguém um percurso académico e profissional. Talvez isto seja óbvio para todos. As pessoas ignoram é a outra face da moeda: acham positivo deitar dinheiro à rua com o ensino obrigatório estandardizado e ad eternun. Podemos andar aqui a desfrutar o momento sem que a vida nos chame à responsabilidade porque a vida ainda é uma criança. Desperdiçam-se os recursos nos caprichos igualitários que querem manter os alunos muito tempo no sistema, ninguém pensa muito no que visa atingir e andam a “patinar” como se fossem todos filhos de pai rico. Se algo correr mal no nivelamento dos novatos, chamamos a psicóloga.

Sétima Legião - A Voz do Deserto

domingo, 26 de agosto de 2012

Caça ao Piropo



Era uma vez uma menina que só saía à rua na companhia do Estado. Estamos prestes a assistir a mais uma modalidade de legislação e punição assente na retórica de vitimização feminina. Desta vez o exemplo parte da Bélgica e vem no seguimento de um pequeno documentário [1] realizado por uma estudante belga, nas ruas de Bruxelas. No vídeo que está a lançar debate e alarmismo, Sofia Peeters testemunha como as mulheres são abordadas com muita frequência naquilo que as queixosas denominam “ataque sexista”.
Sendo uma realidade que incomoda muitas mulheres, parece uma iniciativa interessante e pertinente. Mas como seria de esperar, o documentário converteu-se rapidamente num apelo político. A autarquia aprovou que a partir de Setembro, quem lançar “piropos” fica sujeito a multas que podem ir até 250€ [2].
Ao que parece as mulheres emancipadas estão dispostas a abdicar de formas típicas de protecção e reacção às peripécias sociais mais constrangedoras mas só se o Estado vier com elas. Se fosse o pai, irmão, namorado, marido ou amigo do sexo masculino a lançarem-se em sua defesa, isso jamais! Seria uma afronta à igualdade de géneros. A realidade acaba por provar às mulheres que há humilhações maiores a que não sabem resistir sozinhas – quiçá uma injecção de testosterona pudesse ajudá-las a dar uma sova aos tais malandros.
Pela boa receptividade da opinião pública a este tipo de medidas e tendo em conta a orientação dos políticos em busca de popularidade, isto promete ser um antecedente muito “inspirador” para outros governos copiarem. Porque os governos – e aqui as mulheres – têm aversão ao comportamento rebelde e imprevisível dos seres humanos de carne e osso. O tempo será testemunha desta ânsia de controlar.
Não querendo subestimar o fenómeno em Bruxelas (que parece destacar-se pela especial incidência destes comportamentos), não sejamos ingénuos quanto às intenções; um exemplo extremo é o ingrediente muito pertinente que funciona como rampa de lançamento para a perseguição à liberdade de expressão. Multiplicam-se as punições para tudo e mais alguma coisa e as supostas vítimas ficam com margem para queixas e até para uso abusivo da lei – até vinganças pessoais. Mas afinal, como se define um “piropo”? Quais os limites para aplicar as várias sanções? Vai-se pela agradabilidade do galanteio?


Um das particularidades que também fica evidente no documentário – mas que a estudante depressa procura desmistificar para não ofender susceptibilidades – é que a grande maioria dos homens que actua de forma mais intimidatória e insinuante é de origem marroquina e outras comunidades imigrantes na zona. [3]
Estarão estas moças a atacar o inimigo errado? Se estão sempre prontas a denunciar “sexismo” e a manchar o prestígio aos homens, porque evitam tanto referir minorias étnicas se essas as incomodam com mais frequência? É mais um daqueles paradoxos do marxismo cultural que arremessa legislação em favor daqueles que define como “vítimas” e contra os que define como “opressores”, graças a muita acrobacia argumentativa.
Elas até confessam que iam tomando providências na forma de vestir, nos percursos escolhidos, etc…Mas a interacção social, cedências e cautelas que sempre fizeram parte da convivência continuam a incomodá-las porque não podem parar a realidade e deixar tudo constante.
Por fim, percebemos que o costume milenar do piropo pode estar em declínio. Prevemos que esta seja mais uma intervenção estatal a produzir as distorções de mercado do costume, pois vão ser perdidos muitos “piropos” à excelência e os que existirem tenderão a ser mais indiferenciados, falseando a percepção das qualidades.

1 http://www.youtube.com/watch?v=ESdZDwcA5iM&feature=player_embedded
2 http://www.euronews.com/2012/08/24/belgium-responds-to-sexual-harrassment-film/
3 http://www.guardian.co.uk/world/2012/aug/03/belgium-film-street-harassment-sofie-peeters
Publicado no Movimento Libertário

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

defesa dos animais dos outros



Ai, olhem para mim a censurar atrrrrocidades tauromáquicas das gentes provincianas. Deixo o fofo Nemo 10 anos às voltas num aquário de 30cm de diâmetro, enquanto levo o béu-béu  a dejectar a calçada aos meus vizinhos.  O bichano fica com a tripa apertada 12 horas (e não suja a carpete) dentro do meu apartamento lisboeta “avant-garde”  mas calha bem levá-lo a aliviar-se de vez em quando, quando faço o meu jogging matinal. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

E se nacionalizássemos as discotecas?


Em vez de seguranças corpulentos em todos os cantos, teríamos uma polícia pública mais amigável, com a devida percentagem de agentes do sexo feminino como bem manda a moda progressista das quotas. Afinal, quem quer contar com uma força bruta e intransigente, em cima do acontecimento, sempre pronta a socorrer-nos? Estamos todos prontos a trocar essa hostilidade por uma força policial de acção sensibilizadora, de preferência desarmada, que compreenda os traumas e motivos dos agressores. Certo?

Poderiam existir multas nesses espaços com o objectivo de moderar o consumo de bebidas alcoólicas e minimizar comportamentos de risco. Além de instruir os indivíduos, seria uma promissora fonte de receita pública.

A música passaria a ser seleccionada por uma entidade especializada que promoveria a diversidade de ritmos e estilos de forma aleatória, mas rigorosamente repartida, com espaço para jazz, kizomba, reggae, clássica e por aí adiante…Quem quer escolher uma discoteca em função do estilo de música ou das companhias que o frequentam, quando pode ter o próprio Estado a “girar do disco” e a acabar com esse flagelo que é a discriminação e rejeição de pessoas à porta do estabelecimento? Assim, deixava também de haver preocupação permanente com a aparência, reputação e com aquilo que a conduta poderia indiciar porque já ninguém precisaria de defender-se sozinho nem conquistar confiança. Não era agradável?

Não existiria cartão de consumo obrigatório com os acertos finais consoante o consumo individual. Em lugar disso, seriam feitas estimativas para dividir a despesa de todos os clientes da noite em contas mais justas, com uma progressividade em função dos rendimentos. Isto, sem contar ainda com a percentagem incluída na factura da electricidade de todos os cidadãos, para suportar o digno investimento cultural.

Já conhecemos a técnica de esconder dinheiro de reserva em sítios estratégicos como o interior do sapato. Que cautela mais arcaica e poupadinha face ao risco! Não seria melhor contar com indemnizações do estabelecimento cada vez que a descontracção abrisse oportunidade a um assalto ou perda?

Se repararmos nos critérios que orientam as nossas escolhas numa simples saída à noite, talvez fique evidente que afinal tendemos a privilegiar espaços privados de entrada controlada, com preferências homogéneas, onde cada um tem atenção redobrada ao seu corpo e bens, valoriza a segurança inflexível, desperta reacções instintivas face ao perigo, acciona o radar de preconceitos em terreno desconhecido, desespera quando não encontra um rosto familiar e segue os hábitos que lhe dão conforto. Com dinheiro para ir e regressar vivo a casa, sem esperar o milagre de um táxi grátis pelo caminho.

Publicado inicialmente no Movimento Libertário.

Satisfação

Entro na biblioteca municipal em pleno mês de Agosto. Vejo só umas três pessoas sentadas aqui e ali. Consigo ouvir os grilos.
Vou pesquisar o livro, anoto a cota de identificação e dirijo-me à estante. Não está lá e penso "ups...já houve alguma Amélia que tirou o livro do sítio. Sacanas." O funcionário está sentado na secretária da entrada a ler uma revista e lá vou eu:
- Bom dia. Olhe...eu estava ali a pesquisar este livro mas não o encontro.
- (Olhar contrariado e intimidatório)...Não está??...ppppffffff
- Pois...(ai que estou a incomodar) alguém deve ter trocado o sítio...digo eu (encolhida).
O homem dirige-se à estante sem dirigir a palavra, lá encontra o livro na estante do lado - "aqui está!" - e atira-me o livro para a mão.
- Isso é para registar na recepção!!!

Ui, mas quem é te paga o ordenado, oh camelo?! Estou um pouco confusa agora.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Lido numa caixa de comentários...


"Já agora, os fetos deviam ter direito a escolher os pais para não lhes calhar um burgesso qualquer na rifa."

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Falta de moderação. Ou apenas a tendência de cortar os pulsos

Não é de admirar que uma artista do calibre dessa tal Adele vingue tão bem nos nossos tempos. É o protótipo da mulher moderna, orgulhosa do permanente desequilíbrio mental e da falsa independência. Condensa os vícios daquele tipo de perdedor que humilha o inimigo ao desbarato para se compensar a si mesmo. Usa-se das suas particularidades físicas para promover uma imagem de vítima que tem a vingança na própria gula, no frigorífico e no ódio aos bem-sucedidos e saudáveis. Concebe as pessoas e as relações como descartáveis. Envergonha-se das suas fragilidades e esconde-as com uma emancipação agressiva. Deleita-se em incendiar a casa ao homem. Enfim. E acho que também usa unhas de gel. 

domingo, 19 de agosto de 2012

A Gaivota



Se um português marinheiro,
Dos sete mares andarilho,
Fosse quem sabe o primeiro
A contar-me o que inventasse,
Se um olhar de novo brilho
No meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
No meu peito bateria,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
As aves todas do céu,
Me dessem na despedida
O teu olhar derradeiro,
Esse olhar que era só teu,
Amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
Morreria no meu peito,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde perfeito
Bateu o meu coração.

Alexandre O'Neill

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Para nunca deixar a desejar...

Há uma espécie de falso simpatizante que fica à margem para não se sujar. Apoia para não ofender e mantém distância para não ser confundido. 

Dos seus próximos, aprecia somente os nascimentos e as mortes. Gosta de baptizados e dos funerais, das inaugurações e das despedidas. Apoia todas as intenções de mudança e as histerias de transições sem tomar conhecimento dos entretantos. Nunca contamos com a colaboração e força de braços dele mas eis que aparece em todas as efemérides, localizado onde não seja visto em caso de fracasso ou irrelevância mas em que seja identificado quando existam retrospectivas a remexer em acontecimentos significativos. 

Acompanha com atenção os êxitos, comemora datas esvaziadas e impessoais, felicita estreias de projectos, oferece prendas de casamento e dá umas palmadas nas costas, assobiando para o ar, enquanto os outros varrem os vestígios da farra. 

Esta espécie vive a desejar que os inícios augurem algo de bom nunca antes de visto, e que os finais limpem da lembrança os passados imperfeitos e tragam descanso de meia dúzia de compromissos. Quem vive assim é infalível e a palavra “ceder” não consta no seu dicionário. 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A lenta e estranha queda do Império da Patagónia

“Um dia, no Império da Patagónia, o avô Constantino comentava com os seus doze filhos ao serão: há 40 anos só nos aguentámos graças a eles…para além de nos protegerem lá dentro durante alguns meses de incursões violentas, os Justinos conseguiram salvar 500 volumes do incêndio, de um total de 1200 que foram copiados com tanta dedicação ao longo de 150 anos. Alguns dos originais que eles copiavam já tinham mais de um milénio e eram quase ilegíveis. Valendo-nos isso, ainda conseguimos reerguer tudo no território circundante. Não foi a primeira vez nem será a última, longe esteja o agouro! Conseguimos concertar os moinhos, refazer o sistema hídrico, os fornos, a mina e voltar a cultivar os cereais na hora e dose certa com os truques que só estes livros sabiam. Claro que algumas pessoas mais velhas também sabiam mas nem todos ficaram para contar a história. Tivemos perdas mas elas teriam sido maiores sem as técnicas que usámos para os pôr a mexer daqui para fora! Em meio de tanta confusão e violência pouco calculada, ninguém se teria lembrado daqueles pormenores valiosos.” – e dizendo isto, Carlos impressionara os filhos com o relato guardado de um dos seus antepassados que vivera tempos de maior escassez e os usuais, mas duros, desafios militares. Carlos sabia que aquilo que os mantinha inseparáveis e resistentes era tão indescritível como merecedor de respeito. Uma sabedoria que esmagaria a petulância do mais insignificante e insano exemplar de uma simples geração; porque a própria geração é insignificante e simples. E confunde-se ainda mais quando despreza a experiência e abraça retrocesso.


Passado cerca de século e meio, um bisneto de Carlos aplicara o que ouvira mas aplicara mal. Em tardes de frustração e pouco talento para actividades típicas de um homem da sua idade e condição, deleitava-se na crítica pela crítica e orgulhava-se dos próprios becos de raciocínio em que se enfiava. Deu largas à imaginação e deturpou os ensinamentos recebidos, dando-lhes nova roupagem. As propostas que ele passara para o papel eram imediatamente chocantes porque qualquer contemporâneo lhes sentia o potencial destrutivo. O autor do livro era Francisco Patego e a aventura insana entristeceu o seu pai e toda a vizinhança. Mas foi a própria inutilidade do escrito e desconexão com a realidade que a reduziu ao esquecimento. Foi suplantada por tudo o que existia de bom antes do Patego nascer. A aberração, mais que evidente, escrita pelo inconsequente Francisco Patego, não impediu porém que ela fosse reproduzida e lida por outros curiosos ao longo dos anos. Convém lembrar que, como qualquer outro, também o escrito do Patego estava imbuído do espírito herdado, mesmo que a intenção fosse contrariá-lo. A criatividade não pode escapar ou deturpar coisas que sempre existiram.

Um dos incautos que leu aquele escrito insignificante foi António Inteligentis, um homem que gostava de pensar sozinho. Tinha olhado com desdém para o que a família lhe ensinara, largou os estudos e fixou-se no livro do Francisco Patego que tinha já 200 anos desde que fora escrito. Uma obra clássica memorável aos olhos de Inteligentis e que transmitia os vícios do seu tempo, dizia ele. Usou-a como base para criticar e menosprezar tudo aquilo que sempre desgostou no mundo. A verdade é que as ideias do livro já tinham influenciado a geração do António Inteligenstis e ele precisava de culpar alguém de forma convincente. Seus curtos 45 anos de vida, para muitos de uma inteligência inquestionável e messiânica, deixaram algumas obras e a maioria debruçava-se na vida de Francisco Patego, suas origens e influências. A grande conclusão de Inteligentis foi: os Justinos mataram a civilização em que vivia e que tinha recebido influência do Francisco Patego que, por sua vez, foi beber inspiração ao antigo Império da Patagónia. O assunto ficou arrumado.  

domingo, 12 de agosto de 2012

"Revolutionise"

But the new rebel is a Sceptic, and will not entirely trust anything. He has no loyalty; therefore he can never be really a revolutionist. And the fact that he doubts everything really gets in his way when he wants to denounce anything. For all denunciation implies a moral doctrine of some kind; and the modern revolutionist doubts not only the institution he denounces, but the doctrine by which he denounces it. Thus he writes one book complaining that imperial oppression insults the purity of women, and then he writes another book (about the sex problem) in which he insults it himself. (...)

As a politician, he will cry out that war is a waste of life, and then, as a philosopher, that all life is waste of time. A Russian pessimist will denounce a policeman for killing a peasant, and then prove by the highest philosophical principles that the peasant ought to have killed himself. The man of this school goes first to a political meeting, where he complains that savages are treated as if they were beasts; then he takes his hat and umbrella and goes on to a scientific meeting, where he proves that they practically are beasts. In short, the modern revolutionist, being an infinite sceptic, is always engaged in undermining his own mines.

G.K. Chesterton, Orthodoxy


terça-feira, 7 de agosto de 2012

De quem não se devem ouvir conselhos


I - Os que fazem da carreira profissional uma "corrida de estafetas",concedida pelo costume ou desejo da família, hesitam pouco. Limitam-se a passar um testemunho que significa pouco ou nada. Há um cumprimento escrupuloso de alvos sucessivos e irrelevantes e o sucesso que daí vem consome-se numa simples aprovação pelos seus próximos numa glória tão pouco merecida porque foi mal e porcamente conquistada e valorizada. 

II - Num segundo patamar estão os indecisos com a confiança e vontade própria vergadas. Estes lançam a rede a um indefinido mar de possibilidades e evitam todas as que possam criar atritos, resistência, inimizade. Nada que os canse muito, portanto. Quando as oportunidades começam a escassear e os lugares a serem ocupados num jogo de cadeiras mais sério, o desprezo pelos mais audazes e autónomos transforma-se num desespero que tenta agarrar alguma coisa como sua e fingir agrado. Dar crédito à opinião e censura de pessoas como estas - quando ainda falam em idade de folga e fraca experiência - é entregar a vida às fileiras da fraca sabedoria e das aparências. A eficácia em convencerem-se a si próprios é débil, mas o esforço visto de fora, então...chega a ser cómico. 

III - Em terceiro, estão aqueles que devem rejeitar os conselhos dos dois primeiros. Arriscar a pele compensa nem que seja preciso mudar várias vezes de pele conforme mudam as incertezas, inquietações e desejos próprios. É muito fácil ser coerente ao decorar coreografias que não são interpretadas e questionadas. Mais fácil ainda é repetir graves e descaradas incoerências que são assimiladas pela maioria, aprovadas e aplaudidas. O complicado, sim, é montar uma coerência própria, mas é isso mesmo que este terceiro grupo persegue; para ele, a honestidade de cada afirmação é a condição para um sono descansado. E que consideração recebem os indivíduos do terceiro grupo, diante dos outros?

Aos olhos dos profissionais de “corrida de estafetas”, passam ao lado ou são olhadas com desconfiança e espanto porque, enfim, existirão formas mais seguras de ter um currículo e levar o pão para a mesa. 

Aos olhos dos segundos - indecisos, vendidos, falsos neutros - são uma eterna "pedra no sapato". Invejam que a capacidade de teimar em remar contra maré possa lograr mais respeito do que uma vida de vénias e de fuga ao confronto. 

sábado, 4 de agosto de 2012

Order

But you have disposed all things by measure and number and weight. For great strength is always present with you; who can resist the might of your arm?

Wisdom, chapter 11; 20-21

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Localism and Patriotism

Chesterton again highlights the connection between localism and patriotism. The geographical qualities that separate one group of people from another provide an isolation that encourages similar experiences. These common experiences foster the development of a common identity, leading to local loyalties and patriotism. The land that sustained the local people was naturally an object of affection and, having given life to the local population, it would be natural for them to defend it with their own lives. The lord of the land became a lord through his feats of arms in defending the locality. His hold on the loyalty to the local people was proportionate to how well he organized their defense in time of need. For the most part, the people remained loyal because through him they were able to defend and sustain their terrain.

In banding together and organizing the defense of the terrain that sustained them, the countrymen of the Middle Ages were setting down the foundations for society. After defense would come affirmation expressed through common worship and celebration. These two are tied together because of the intrinsic connection between the goodness of the created order and the thanksgiving given to the Creator. 

The celebrations that marked the rhythm of communal life found their cause in thanks giving to the Creator and commemoration of important dates in the history of the locality. Examples would be deliverance from an  invader through their own hard fighting and the intercession of a patron  saint, or the successful harvesting of a crop despite difficult weather conditions. The local religious bond was manifested in the form of parishes that provided the venue for both common worship and regular occasions for the people to meet and foster relationships. As the countryside became more settled and people began to perform more specialized functions, it was also natural to form various guilds that provided regulations of the trades and exchange of knowledge of the crafts. In this way, what began as a sharing of a common local terrain grew into a multi-faceted exchange of the most valued human interests; work, religion, and festivity. The deep attachment of these human goods together with an attachment to the local land that nourished them explained the closely defended love that goes by the name of patriotism.

Initiative-taking was a dominant characteristic of the medieval man who provided the foundation for this local self-government. The very origins  of the  noble families who comprised the local lordships came from those who took initiatives in feats of arms and organizing the local people into a system of vassals and loyal retainers. Perhaps this quality of planning was partially to rectify the lack of formal infrastructure in society that Chesterton alludes to when he speaks of the roadless Dark Ages. It certainly seems true that it was a time of building not only the structures of self-rule and religious life, but also the building of visible structures such as churches and halls that served as meeting places for communal activity and bore witness to the unity of the local people, if only because the cooperation of so many people was required to build them.

The Historical Imagination of G.K. Chesterton: Locality, Patriotism, and Nationalism
Joseph R. McCleary

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Aborto

Já a partir de Janeiro de 2013, todas as mulheres que quiserem usufruir do serviço público de interrupção voluntária da gravidez, para além de estarem isentas de taxas moderadoras (situação actual), terão ainda direito a talão de desconto em combustíveis e de descontos de 50% em higiene e na secção dos frescos. A cadeia de supermercados contava em incluir descontos no talho mas o director declarou em entrevista "felizmente as pessoas têm cada vez maior aversão a comer carne, tanto pelas preocupações com uma alimentação saudável como também pela repulsa em matar animais para satisfazer os egoísmos alimentares que as gerações nos inculcaram, por ignorância, ao longo dos anos". Num inquérito de viabilidade realizado via telefone, uma senhora comentou ainda: "O que vem mesmo a calhar para mim é essa dos combustíveis. Acho muito bem porque uma pessoa às vezes tem de se deslocar e nem sempre há um hospital à porta de casa, né' verdade? Os nossos governantes que ponham os olhos nisso que é de louvar...iniciativas dessas, venham mais!"



sexta-feira, 20 de julho de 2012

Televisão Pública: O Programa Que Ninguém Quer Ver



Conhecendo as despesas associadas à segurança social, saúde, educação e infraestruturas, poderíamos pensar: “porquê falar na televisão pública?”. Mas acreditamos que quando toca a depredação de recursos dos cidadãos, cada tostão merece atenção porque não é uma questão de gravidade consoante a quantidade mas sim de imoralidade em absoluto. Importa ainda mais se estamos perante a “vaca sagrada” da comunicação nacional que é um peso morto de prejuízo, um verdadeiro novelo interminável de prejuízo enrolado e embaraçado por actores políticos e grupos de interesse à sombra do Estado.

Passemos em vista alguns dos contributos da estimada televisão pública: debates inconclusivos, moderados por apresentadores enviesados e de mente tacanha, cujas intervenções são provas sistemáticas da fraca habilitação para comentar seja o que for; escamotear problemas regionais pintando um quadro incompleto e enfadonho nos programas matinais com mais oportunismo do que uma agência turística fraudulenta; desproblematizar casos de pequena e média criminalidade; falsear estabilidade política e omitir fracassos e escândalos que viriam confirmar a aptidão da democracia em favorecer e premiar os mais degenerados e corruptíveis. A lista seria longa.

Os acérrimos defensores da televisão estatal que confessem quanto tempo diário se expõem à educação e entretenimento que consideram imprescindível a esse público passivo e amorfo que tanto gostam de moldar e instruir. Que apontem onde está a especialização e a oferta que nenhum operador privado estaria disposto a oferecer. Apesar da debilidade de justificações em favor do serviço público, a efectiva privatização continua encalhada entre a influência dos operadores instalados que esperneiam e a resistência democrática que declara ser demasiado caro privatizar e reestruturar.

O público não é passivo como alguns legisladores gostariam que fosse – por curiosidade, recorde-se a recente manifestação do Bloco de Esquerda em Parlamento no sentido de proibir a exibição televisiva de espectáculos de tauromaquia – e privar o acesso ao que é definido como “mau”, “impróprio”, em favor da agenda promovida como “progressista”, “saudável”, “educativa” é cada vez mais uma tarefa impossível quando existe a soberania do zapping. Não só a escolha distribui-se agora por um leque alargado de 100 ou 200 canais temáticos, como também, é inegável a prevalência da internet como meio privilegiado da informação bidirecional, pois as pessoas não se sujeitam a perder tempo com interesses mal correspondidos e pouco apelativos. Aqueles que temem o comportamento de um ser humano com o comando na mão são os mesmos que ousam restringir as opções de um consumir, num supermercado, em dia de promoções. Se na série de ficção exibida pela RTP, “Conta-me Como Foi”, toda a família ficava, impávida e serena, exposta aos conteúdos que o Estado lhes apresentava, não julguem os legisladores que, em pleno século XXI, ficará alguém na sala, para além da avó.

Talvez os danos mais destrutivos não se fiquem pela factura que é apresentada todos os anos aos portugueses mas sim, a um maior alcance: algum isolamento nacional fica evidente quando a discussão de alternativas que são o “pão nosso de cada dia” em outros países, ainda são motivo de escândalo, silêncio ignorante e olhos arregalados no nosso país.
Não chega privatizar um, ou alguns canais. Não se trata de mudança meramente justificada por contenção orçamental (embora seja mais urgente do que nunca). Se a situação fosse de grande folga financeira já poderíamos aceitar a existência de rádio e televisão estatais que estão imunes à concorrência na captação de audiências e que contam com financiamento garantido à sua inviabilidade? Obviamente que não, como tal, defendemos a extinção por inteiro.

Há também aquele argumento de que se não fosse a RTP2 (canal de minorias, por definição), muitos programas culturalmente relevantes cairiam no esquecimento e não haveria oportunidade de os visionar. Parece um argumento fraco, pois quem tem muito interesse num determinado bem educativo, entretenimento ou informação, está disposto a um esforço adicional para aceder-lhe, ou adiar e até privar-se dele quando os meios pessoais não são suficientes (meios cada diversificados e acessíveis). Não existem almoços grátis…nem concertos, nem concursos, nem filantropia de pacotilha apresentada por apresentadoras generosamente remuneradas, nem filmes mudos às 2h da manhã. Tudo tem o seu preço e os portugueses estão a pagá-lo por meio das indemnizações compensatórias e da contribuição audiovisual cobrada na factura da EDP. Se algum de nós tiver um estábulo e quiser aproveitar ao máximo aquilo que paga pela electricidade, faz bem em deixar as vacas verem a Praça da Alegria. Em 2012, aponta-se agora para um gasto na ordem dos 508 milhões, suportado pelo Estado [1]. Acreditar em contenção é ignorar a natureza expansionista dos gastos públicos, pois em 2011: “Os gastos operacionais atingiram os 306,6 milhões de euros, crescendo 17,0 milhões de euros face a 2010”. A RTP acumula, por exemplo, responsabilidades que passam pelos “benefícios pós-emprego – reforma” e “plano de assistência médica – privados”, apoios que abrangem saídas voluntárias dos seus funcionários. Só em “férias e subsídios de férias foram gastos mais de 10 milhões e meio, no ano passado. Falamos numa média de 2.183 empregados [2] e de um salário médio anual que ronda os 40.000€ [3].

A viabilidade de produzirem conteúdos diferenciados é nula, embora no contrato de concessão da RTP esteja enunciada, entre outros itens, a obrigação de “combater a uniformização da oferta televisiva, através de programação efectivamente diversificada, alternativa, criativa e não determinada por objectivos comerciais”. O país dispensa a existência deste canal mesmo que interesses de outros operadores privados afirmem que não há espaço para mais canais comerciais; estes temem descobrir que afinal não são tão rentáveis e que afinal só subsistem através de chantagem e de barreiras ao avanço de rivais, potenciais captadores das cobiçadas receitas publicitárias. Se não há espaço para todos, alguém terá de sair “borda fora” e sairão invariavelmente os mais incapazes. Neste, como em todos os casos, a desconsideração pelo cidadão e a fraca qualidade do serviço acontece onde existe a subsidiação, directa da RTP e indirecta dos restantes canais. 

Os telespectadores preferem uma análise posterior ao relato dos factos e os canais públicos vêem-se também compelidos a acompanhar essa tendência. Esta forma de fundar uma opinião imediata e generalista sobre os assuntos é valorizada cada vez mais, para o bem e para o mal; pensar na fonte de reforço diário de poder que um canal público pode constituir, é razão suficiente para desejar a sua extinção.
Imparcialidade e independência não distinguem o serviço público, ao contrário do comumente afirmado em sua defesa. É preferível estarmos cientes de que a neutralidade não existe e o interesse dos accionistas vai ter sempre impacto na informação veiculada. Cabe a cada um escolher os conteúdos que terão sempre alguma subjectividade incluída mas ninguém pode forçar todos os cidadãos a pagarem a farsa imposta e consagrada na Constituição (nº5 do Artigo 38º). A experiência habituou-nos a intuir que quando uma oposição política levanta a voz para denunciar manipulação política dos meios de comunicação públicos, fá-lo somente por inconformismo face à desvantagem que depressa compensariam depois de uma eleição favorável.

Em suma, defendemos que a preservação de meios de comunicação tutelados pelo Estado é incompatível com um ambiente de difusão livre de informação em que cada indivíduo é responsável pelas suas escolhas de lazer, educação e informação; rejeitamos a delapidação de recursos com vista em alimentar uma máquina condicionadora de opiniões, de comportamentos e de ofertas culturais seleccionadas pelos intelectuais do estado para a “ralé”. E se nos questionarem sobre a coesão nacional? Bem, os laços identitários entre portugueses nasceram muito antes da fundação da Emissora Nacional em 1935 e nunca dependeram de estímulos engendrados por decisores políticos e de programas televisivos que ofendem a sanidade mental de qualquer um. Pelo contrário, a nacionalidade foi, muitas vezes, a força motriz da destituição de governos não consentidos e de projectos fúteis dos seus governantes, como é o caso da RTP.

[1]http://www.agenciafinanceira.iol.pt/media-e-comunicacoes/rtp-miguel-relvas-estado-relvas-ar-privatizacoes/1360644-5239.html
[2]http://ww1.rtp.pt/wportal/grupo/informacao_financeira/rc_anual.php
[3]http://economico.sapo.pt/noticias/salario-medio-na-rtp-supera-40-mil-euros-por-ano_127371.html