quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ryan Adams - Desire


Num acordar demorado e descomprometido, ergueu-se hesitante nas horas e arrastou-se no pijama num pequeno-almoço sem pressas. O bocejo da satisfação matinal é interrompido pelos ecos da memória que tratam de tornear mais um dia de alusões íntimas e vãs. As janelas parecem hoje mais baças do que nunca como num incentivo gélido que confunde o impulso movido de necessidade certa com um racionamento de forças repleto de medo e cobardia. Mais uma repetida sucessão de imagens inscritas na mente reclamam num apelo ensurdecedor ao corpo para que vá à varanda.
Um arrepio e sente o banco de baloiço onde se senta sob o átrio e, ainda assim, protegido. Passaram-se meses desde que não se sentava no banco de baloiço…A manhã estava mais fria que nunca e pensava suficientemente corajoso sair à rua, chegando-se somente até ao átrio. Uma vez no átrio, depressa se fartou da compensação de sentir a lufada renovada nos pulmões e fitou a vedação amuralhada, a escassos metros, que lhe circunscrevia a propriedade. A passos largos viu-se já chegado ao muro, e procurou debruçar-se nesse limite que erguera no passado para sua segurança, fortificação que permaneceu inamovível no curso do tempo e que fixou a sua área de desempenho disponível.
Abraçado ao muro, conheceu a vastidão em volta em ainda em pijama, mirados os campos em redor, o rio por explorar, as árvores tornadas voluptuosas, a montanha por escalar, o aglomerado habitacional que despertara ali bem perto e, ainda em pijama, sacudiu as mangas já vencido pelo muro, baixou-se para arrancar umas poucas ervas em volta, apertou com afinco o cinto do robe e voltou para casa. O banco de baloiço continuaria a servir o propósito de que não se apercebera ainda. Entreter o tempo, confortar um espaço de inércia com a impressão de movimento. Esperança é a insistência em esperar, a condição teimosa dos que esperam. Esperam num fundo de equívoco bem engendrado e fechado, culpando terceiros por não invadirem a sua propriedade, essa propriedade jamais revelada.

sábado, 25 de dezembro de 2010

We're all faced throughout our lives with agonizing decisions, moral choices. Some are on a grand scale, most of these choices are on lesser points.

But we define ourselves by the choices we have made. We are, in fact, the sum total of our choices. Events unfold so unpredictably, so unfairly, Human happiness does not seem to be included in the design of creation.

It is only we, with our capacity to love that give meaning to the indifferent universe. And yet, most human beings seem to have the ability to keep trying and even try to find joy from simple things, like their family, their work, and from the hope that future generations might understand more.

Professor Levy
Crimes and Misdemeanors, Woody Allen



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

na época mais "altruísta" do ano

Altruism does not mean mere kindness or generosity, but the sacrifice of the best among men to the worst, the sacrifice of virtues to flaws, of ability to incompetence, of progress to stagnation - and the subordinating of all life and of all values to the claims of anyone's suffering.The man who produces while others dispose of his product is a slave. The smallest minority on earth is the individual. Those who deny individual rights cannot claim to be defenders of minorities.

-I feel it. I don't go by my head, but by my heart. You might be good at logic, but you're heartless.

- Madame, when we'll see men dying of starvation around us, your heart won't be of any earthly use to save them. And I'm heartless enough to say that when you'll scream, "but I didn't know it", you will not be forgiven.

Ayn Rand, Atlas Shrugged, 385


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

it's over


A mesma inquietação vem, repentina e fatal. Envolve com a mesma música até os membros ficarem dormentes. Agora sim, é impossível movê-los ao encontro ao trabalho interrompido. Enrola numa anestesia indesejada mas não recusada. Apodera-se da mente toda, a mente já cansada abala-se agora com o mais impenetrável pensamento. A ressentida lacuna afirma agora a vontade de vingar a não concretização dos desejos, da recompensa em falta. A lacuna desarticula o crânio numa implosão invisível e silenciosa que cobre todo o corpo e anula intentos durante minutos, horas ou dias. Durante o tempo que o espírito considera justo e suficiente para saciar a falta de compensação, sacrificar o bem-estar, oprimindo alguém com sobrecarga de constrangimentos inflexíveis com a recordação do que tem falhado, de quem lhe falhou, das falhas que o perseguem e não lhe perdoam. A desilusão perante os outros, o tédio de comunicar ou não ser comunicado caí-lhe sobre a alma na mais injusta das doses que não faz adormecer, nem esquecer num sono reparador longo o suficiente mas anula os movimentos, erradica o entusiasmo e gera um vício na auto-flagelação num atroz ciclo vicioso. Quem lhe chame preguiça, não entendeu nada do que atrás foi dito.


confusão

Uma tristeza de crepúsculo, feita de cansaços e de renúncias falsas, um tédio de sentir qualquer coisa, uma dor como de um soluço parado ou de uma verdade obtida. Desenrola-se-me na alma desatenta esta paisagem de abdicações – áleas de gestos abandonados, canteiros altos de sonhos nem sequer bem sonhados, inconsequências, como muros de buxo dividindo caminhos vazios, suposições, como velhos tanques sem repuxo vivo, tudo se emaranha e se visualiza pobre no desalinho triste das minhas sensações confusas.

Fernando Pessoa

Let Down - Radiohead



Let down and hanging around
Crushed like a bug in the ground
Let down and hanging around

Shell smashed, juices flowing
Wings twitch, legs are going
Don't get sentimental
It always ends up drivel

One day I'm going to grow wings
A chemical reaction
Hysterical and useless
Hysterical and ...

Pausas Violentas

O encerramento de etapas longas e duras, através de travagens bruscas e vitoriosas, são geralmente seguidas de pausas demoradas e plenamente gozadas não tanto com sentimento de realização inquestionável mas antes por uma súbita sensação de queda pessoal e inutilidade da energia empreendida nesse intervalo de tempo passado, em acções mecanicamente responsáveis desenvolvidas por meio de um entusiasmo agressivo ou da irracionalidade e perda de autonomia em meio de compromissos compressores.

Silenciado


Gere o silêncio, certifica-se de que o ganho em calar compensa. Sustenta a segurança falseada por um atalho de inacção. O valor das palavras, transfere-o para o plano da imaginação, criatividade vã e solitária. Descapitaliza a força das emoções, perde o ímpeto do que fica por mencionar. As palavras omitidas, transfere-as para a abstracção inútil e fechada que ele instrumentaliza para, por fim, tornar-se o instrumento do próprio medo da reacção externa. A reacção como efeito da interacção detida pela teimosia mental em ousar prever a reacção por sua vez detida

Amarrado na já vasta película de cenários na mente e auto-convencido pelo orgulho na sua racionalidade, raciona as palavras, esconde-as no domínio do inviável, fecha-as numa arca e sustem a fé na ausência de riscos. Conforta-se na sua convenção do aceitável, do recomendável e detêm-se de veredas onde alguém o aguarda encontrar. Criam vácuo de recíproca gestão de silêncios e perpetuam a aflição da pausa agitadora num rumo perceptível de desconforto em que o arrependimento se agudiza no eterno adiar.

Todos escondem o que alguém espera ouvir. Esperam todos o momento certo para acertar contas com o tempo mas são os momentos que marcam a traição dos que esperam. Ficam despojos do tempo e da luta assente em previsões desfavoráveis. Essa ficção, a percepção segura de uma reacção a evitar, engana-o com a força tal que lhe sussurra também a expectativa passada e arrastada de uma troca que ficou pendente em mútua abstinência e silenciada vontade.


Perdi os Meus Fantásticos Castelos

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los?
– Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

The Smiths - Is It Really So Strange




I left the south
I travelled north
I got confused - I killed a horse
I can't help the way I feel
Oh yes, you can punch me
And you can hurt me
And you can break my spine
But you won't change the way I feel
'Cause i love you

And is it really so strange ?
Oh, is it really so strange ?
Oh, is it really so, really so strange ?
I say no, you say yes
(but you will change your mind)

Why is the last mile the hardest mile ?
My throat was dry, with the sun in my eyes

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

now my heart is full

É como se fosses indiferente a uma deteminada embalagem de chocolates. Chega o dia em que provas o que está la dentro. Ficas "wuuoo nunca provei nada assim!" Vais à procura da embalagem e aquela imagem fica gravada na memória como algo que desejas consumir para toda a vida. Amas a embalagem porque sabes o que está lá dentro e passas a ter vontade de procurar a embalagem nas prateleiras do supermercado e ficas em extâse quando vês a cor, as letras, lá está ela! Não sao lindas as letras ?? E todos olham indignados para ti. Quase devoras sem abrir só de lembrar o que te aguarda.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Please, please, please, let me get what I want



It's these cards and the movies and the pop songs, they're to blame for all lies and the heartache, everything. People buy cards 'cause they can't say how they feel, or they're afraid to. We provide the service that lets them off the hook.People should be able to say how they feel - how they really feel - not, you know, some words that some strangers put in their mouths. Tom, 500 Days of Summer

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Life isn't like in the movies. Life... is much harder."

Alfredo: Living here day by day, you think it's the center of the world. You believe nothing will ever change. Then you leave: a year, two years. When you come back, everything's changed. The thread's broken. What you came to find isn't there. What was yours is gone. You have to go away for a long time... many years... before you can come back and find your people. The land where you were born. But now, no. It's not possible. Right now you're blinder than I am.

domingo, 31 de outubro de 2010

fifteen minutes with you

Fifteen minutes with you
Well, I wouldn't say no
Oh, people said that you were virtually dead
And they were so wrong
Fifteen minutes with you
Oh, well, I wouldn't say no
Oh, people said that you were easily led
And they were half-right
(...)
Fifteen minutes with you
Oh, I wouldn't say no
Oh, people see no worth in you
Oh, but I do.

Patti Smith - Privilege (Set me free)



Give me something.
Give me something to give.
Oh, god, give me something:
A reason to live.
My body is aching.
Don't want sympathy.
Come on. Come and love me.
Come on. Set me free.
Set me free.

The lord is my shepherd. I shall not want.
He maketh me to lie down in green pastures.
He leadeth me beside the still waters.
He restoreth my soul.
He leadeth me through the path of righteousness for his name's sake.
Yea, though I walk through the valley of the shadow of death,
I will fear no evil, for thou art with me.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

The Psychology of Pleasure

Pleasure, for man, is not a luxury, but a profound psychological need.

Pleasure (in the widest sense of the term) is a metaphysical concomitant of life, the reward and consequence of successful action—just as pain is the insignia of failure, destruction, death.
Through the state of enjoyment, man experiences the value of life, the sense that life is worth living, worth struggling to maintain. In order to live, man must act to achieve values. Pleasure or enjoyment is at once an emotional payment for successful action and an incentive to continue acting.

Further, because of the metaphysical meaning of pleasure to man, the state of enjoyment gives him a direct experience of his own efficacy, of his competence to deal with the facts of reality, to achieve his values, to live. Implicitly contained in the experience of pleasure is the feeling: “I am in control of my existence”—just as implicitly contained in the experience of pain is the feeling: “I am helpless.” As pleasure emotionally entails a sense of efficacy, so pain emotionally entails a sense of impotence.

Thus, in letting man experience, in his own person, the sense that life is a value and that he is a value, pleasure serves as the emotional fuel of man’s existence. Just as the pleasure-pain mechanism of man’s body works as a barometer of health or injury, so the pleasure-pain mechanism of his consciousness works on the same principle, acting as a barometer of what is for him or against him, what is beneficial to his life or inimical. But man is a being of volitional consciousness, he has no innate ideas, no automatic or infallible knowledge of what his survival depends on. He must choose the values that are to guide his actions and set his goals. His emotional mechanism will work according to the kind of values he chooses. It is his values that determine what a man feels to be for him or against him; it is his values that determine what a man seeks for pleasure.

If a man makes an error in his choice of values, his emotional mechanism will not correct him: it has no will of its own. If a man’s values are such that he desires things which, in fact and in reality, lead to his destruction, his emotional mechanism will not save him, but will, instead, urge him on toward destruction: he will have set it in reverse, against himself and against the facts of reality, against his own life. Man’s emotional mechanism is like an electronic computer: man hasthe power to program it, but no power to change its nature—so that if he sets the wrong programming, he will not be able to escape the fact that the most self-destructive desires will have, for him, the emotional intensity and urgency of lifesaving actions. He has, of course, the power to change the programming—but only by changing his values.

A man’s basic values reflect his conscious or subconscious view of himself and of existence. They are the expression of (a) the degree and nature of his self-esteem or lack of it, and (b) the extent to which he regards the universe as open to his understanding and action or closed—i.e., the extent to which he holds a benevolent or malevolent view of existence.

Thus, the things which a man seeks for pleasure or enjoyment are profoundly revealing psychologically; they are the index of his character and soul. (By “soul,” I mean: a man’s consciousness and his basic motivating values.) There are, broadly, five (interconnected) areas that allow man to experience the enjoyment of life: productive work, human relationships, recreation, art, sex.

The Psychology of Pleasure
by Nathaniel Branden
in Ayn Rand – THE VIRTUE OF SELFISHNESS

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

we used to wait



Now our lives are changing fast
Now our lives are changing fast
Hope that something pure can last
Hope that something pure can last

It seems strange
How we used to wait for letters to arrive
But what's stranger still
Is how something so small can keep you alive

We used to wait
We used to waste hours just walking around
We used to wait
All those wasted lives in the wilderness downtown

oooo we used to wait
oooo we used to wait
oooo we used to wait
Sometimes it never came

Não há Tempo

Os compromissos aceleram o tempo e os interesses tão aguardados estancam-me o calendário. A canseira da responsabilidade regular, quando desagradável, não me pede permissão para fazer sucumbir horas, angustiar a minha dose de sossego diária…Horas daquelas…prefiro queimá-las e não pensar em nada; olhar para o tecto é mais compensador que ouvi-los falar. Não vou marcar hora, não vou chegar atrasada, nem antes da hora porque a hora não existe, foi marcada por alguém; vou chegar.

Posso controlar o tempo porque sei que não há tempo, há sucessão de acções e inacções que consomem mais ou menos energia, que são vividas com maior ou menor entusiasmo e depois, existem longos intervalos de ansiedade que tardam a ver chegar a parte boa, a que se quer e que, por sua vez, quando vem, revela-se veloz e fugitiva. O tempo é doloroso porque impõem a ilusão de uma indesmentível perda daquilo que já foi, obrigação de gula no presente e tédio pela incerteza do sucesso correspondido no futuro. O tempo é doloroso porque se traz leveza pensar na chegada dos bons momentos, esse pensamento retarda o passar de cada minuto e pode tornar o anseio mais frustrado ou mais fortalecido, lembra-nos também que se nos tornamos servos da agenda laboral e ordinária, isso consumirá a margem de manobra dos nossos afazeres, embora nos livre mais depressa do seu peso e nos faça chegar ao tal bom momento que teria tardado mais se tivesse o pensamento fixo nele permanentemente.

______________________,,________________________,,______________________
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.

Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.

Alberto Caeiro

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Denúncias Intemporais

56. Os tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionadas e nem suficientemente conhecidos na Igreja de Cristo.
66. Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.
67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores com a mais sublime graça decerto assim são considerados porque lhes trazem grandes proventos.
71. Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.
86. Ainda: Porque o papa, cuja fortuna hoje é a mais principesca do que a de qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de São Pedro do seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres ?
95. E assim esperem mais entrar no reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados diante de consolações infundadas.

Martinho Lutero, 95 Teses Contra as Indulgências.

Nada mau para 1517...

Martinho Lutero in Largo do Rato, 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

Neil Diamond - Girl, You'll Be A Woman Soon (1972)



I love you so much, can't count all the ways
I'd die for you girl, and all they can say is
"He's not your kind"

They never get tired of puttin' me down
And I never know when I come around
What I'm gonna find
Don't let them make up your mind
Don't you know

Girl, you'll be a woman soon
Please come take my hand
Girl, you'll be a woman soon
Soon you'll need a man

sábado, 16 de outubro de 2010

No dia da entrega da Pen Drive

Conformity is the jailer of freedom and the enemy of growth.
John F. Kennedy


Magnifying Glass On Businessman, Peter Bono



Pipe In Dollar Sign Formation, John Berry

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Perpétua Regeneração

Afinal era a mentira, uma tal etapa da vida em que rejeitaríamos definitivamente o contacto com as entidades desejadas que nos desiludem. Não nos desiludem, algumas...desencontram-se com os nossos desígnios pela obra do acaso, às vezes, e inocentes. Andamos à mercê das oscilações entre o pico da empatia/correspondência e o extremo da indiferença e da negligência cortante e, sendo assim, caminhamos na intermitência de períodos de nojo a que se sucedem, incrivelmente, imediatos e sinceros períodos de encantamento absoluto, cego e renovado, através de um mecanismo de formatação da memória pessoal que apaga registos da experiência. Porque a experiência é a torre que se eleva alicerçada em impressões dos factores externos não esclarecidos, desgostos do ego, acções irreflectidas e efeitos perversos sem intenção do sujeito que os perpetrou, lapsos de memória e interpretações unilaterais que induzem em arrogância solitária e no sucumbir das esperanças.

(Isto amanhã pode ser mentira. Ando só a especular ao sabor dos ventos, e das tempestades)

domingo, 10 de outubro de 2010

Hábitos e Segurança

Detesto ter hábitos. Habitualmente, é agir assim porque há uma força viciada que nos incute a fazer dessa forma e não de outra porque já tentámos daquela uma vez e resultou, foi uma boa sensação, não corremos riscos e confirmámos que por ali sentíamos certa segurança.

A segurança, essa também, uma aliada ameaçadora, pois cria uma dependência bem recebida pelo agente da acção mas no fundo oculta o seu sentido de amarra, incerta e até fictícia, que se mostra um bom recurso que vai subornando e corrompendo a liberdade. Tenho vindo a notar que hábitos e a noção de segurança andam de braço dado, para o bem e para o mal. Não gosto de hábitos, não gosto de ser convencida e manipulada pela pressão da necessidade de segurança porque nada é certo e é bem melhor ser surpreendida ao colher pela aleatoriedade lógica efeitos das causas que vou semeando. Levar com o resultado das minhas combinação de acções pensadas ou não, e de escolhas necessárias, arrependidas ou não.

Não gosto de hábitos nem da supremacia da segurança que teima em escolher a direcção sem eu ter força e tempo de escolher. E porque não gosto de hábitos e da sensação de ser orientada pela segurança vaga (toda ela é vaga)? Porque tenho plena consciência da sua persistência quando na verdade nem sempre paro para notar que está lá...

É genial demais atingir a barreira da descompressão em que não seremos mais cativos da regra diária, da recompensa previsível, da presença pontual, da troca mútua, da suposta protecção sinceramente infalível e de confiança.

O pior do hábito é ser geralmente alicerçado num mito e quando nos predispomos a encarar o mito como tal, cai por terra a vã segurança e emancipa-se o desconforto diante das horas empenhadas nos hábitos, repetidos em dias, semanas e meses...Antes acordar cedo para a necessidade da desconfiança que embora mal encarada como isolada e pessimista, leva de avanço a experiência amarga que não se abre a embelezamentos que abrir novas oportunidades à cínica da segurança e à força do hábito, traidora que queima as minhas horas.

Whiskeytown - Sit and Listen to the Rain

O aguardado som da chuva enquadra agora: reorientação laboral, desorientação social, memória repetitiva, alguma carência de estímulos e surpresas, motivação rotineira e moléstia em largos momentos de doutrinamento indesejado, retrospectivas insistentes, certezas improváveis, transporte até à atmosfera arquitectada minuciosamente na minha selecção instintiva de requisições/rejeições mentais, a morosidade na concretização de desígnios imaginários. E o dia só tem 24 horas, uma provação violenta, multiplicada 30 dias ao mês. Bem-aventurados os equilibrados que são tão fustigados. Use the rain to feel so much!



I’ll never understand this emptiness
I’ll never really try and understand, I guess
I’ll never understand this emptiness
I’ll never really try and understand,
Try and understand, I guess

Sit around, dream away the place I’m from
Used to feel so much, now I just feel dumb
Could go out tonight, but I ain’t sure what for
Call a friend or two I don’t know anymore

Sit and listen to the rain
Sit and listen to the rain

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Entre Aspas - O PERFUME

Queria agarrá-lo,

metê-lo no meu frasco,

fechá-lo bem p'ra não fugir... P'ra não fugir... p'ra não fugir...P'ra não fugir... p'ra não fugir...

Howard Roark Defense

Thousands of years ago the first man discovered how to make fire. He was probably burned at the stake he had taught his brothers to light, but he left them a gift they had not conceived of, and he lifted darkness off the earth. Through out the centuries there were men who took first steps down new roads, armed with nothing but their own vision. The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won.

No creator was prompted by a desire to please his brothers. His brothers hated the gift he offered. His truth was his only motive. His work was his only goal. His work, not those who used it, his creation, not the benefits others derived from it. The creation which gave form to his truth. He held his truth above all things, and against all men. He went ahead whether others agreed with him or not. With his integrity as his only banner. He served nothing, and no one. He lived for himself. And only by living for himself was he able to achieve the things which are the glory of mankind. Such is the nature of achievement.

Man cannot survive except through his mind. He comes on earth unarmed. His brain is his only weapon. But the mind is an attribute of the individual, there is no such thing as a collective brain. The man who thinks must think and act on his own. The reasoning mind cannot work under any form of compulsion. It cannot not be subordinated to the needs, opinions, or wishes of others. It is not an object of sacrifice.

The creator stands on his own judgment. The parasite follows the opinions of others. The creator thinks, the parasite copies. The creator produces, the parasite loots. The creator's concern is the conquest of nature - the parasite's concern is the conquest of men. The creator requires independence, he neither serves nor rules. He deals with men by free exchange and voluntary choice. The parasite seeks power, he wants to bind all men together in common action and common slavery. He claims that man is only a tool for the use of others. That he must think as they think, act as they act, and live is selfless, joyless servitude to any need but his own. Look at history. Everything thing we have, every great achievement has come from the independent work of some independent mind. Every horror and destruction came from attempts to force men into a herd of brainless, soulless robots. Without personal rights, without personal ambition, without will, hope, or dignity. It is an ancient conflict. It has another name: the individual against the collective.

Our country, the noblest country in the history of men, was based on the principle of individualism. The principle of man's inalienable rights. It was a country where a man was free to seek his own happiness, to gain and produce, not to give up and renounce. To prosper, not to starve. To achieve, not to plunder. To hold as his highest possession a sense of his personal value. And as his highest virtue, his self respect. Look at the results. That is what the collectivists are now asking you to destroy, as much of the earth has been destroyed.

I am an architect. I know what is to come by the principle on which it is built. We are approaching a world in which I cannot permit myself to live. My ideas are my property. They were taken from me by force, by breach of contract. No appeal was left to me. It was believed that my work belonged to others, to do with as they pleased. They had a claim upon me without my consent. That is was my duty to serve them without choice or reward. Now you know why I dynamited Cortlandt. I designed Cortlandt, I made it possible, I destroyed it. I agreed to design it for the purpose of seeing it built as I wished. That was the price I set for my work. I was not paid. My building was disfigured at the whim of others who took all the benefits of my work and gave me nothing in return.

I came here to say that I do not recognize anyone's right to one minute of my life. Nor to any part of my energy, nor to any achievement of mine. No matter who makes the claim. It had to be said. The world is perishing from an orgy of self-sacrificing. I came here to be heard. In the name of every man of independence still left in the world. I wanted to state my terms. I do not care to work or live on any others. My terms are a man's right to exist for his own sake.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

The Divine Comedy - If I Were You

A complexa arte de ser altruísta activo

Nestes últimos dias, tem desfilado, parece-me que com intensa regularidade, a moda da contestação organizada. Aquelas manifestações frente a embaixadas, praças centrais nas grandes cidades, avenidas, numa infinidade de espaços que se abrem a todos aqueles que entendem dever marcar presença nesses eventos. Não me cabe a mim julgar sensibilidades sociais e humanitárias que eu cá categorizo como sendo noções insondáveis que favorecem muita vaidade e presunção de alguns integrantes dos tais eventos.

Prefiro não revelar publicamente a interpretação que faço de certos arranjos de exibicionismo altruísta e de práticas de contestação que marcam a daily rotine de pessoas que conheço, e prefiro não alargar aqui os meus juízos porque não gosto que me julguem por não serem descritíveis os instintos mais apurados e pessoais que vamos criando face à realidade que vamos suportando (tal como visão 3D que detecta superficialidade, hipocrisia, idealismo de ocasião…). Nem é estranho fazer-se da contestação um modo de vida; uma pessoa acostuma-se, cria laços de amizade, cria hábitos, cria dependências e, acima de tudo, constrói uma imagem e consegue influência. Pode assemelhar-se, por exemplo à regularidade das reuniões de tappawares que preenchiam muito tempo de senhoras ocupadas ou às jantaradas entre caçadores, ou às congregações em torno das paróquias.

O mais mediatizado evento do género, recentemente tem sido a Manifestações em 100 cidades contra as lapidações no Irão . Ainda estou a tentar livrar-me do sentimento de culpa por não ter estado presente pois assim não contribui de forma alguma para impedir a condenação de uma mulher por crime de adultério. A integridade inquestionável que se destaca nos que organizaram e participaram é de tal forma distinta que nem pretendo lançar nenhum ataque assim muito directo para não me sentir de consciência pesada ou do lado do mal. Já me basta uma certa sensação de estar a pactuar (fruto do maniqueísmo que entorpece e embrutece todo o pensamento e acção) com a mentalidade jurídica iraniana e com aquela teocracia escravizante e abominável (não estou a ser irónica, agora expresso mesmo repulsa!).

Neste momento prefiro tentar descortinar a posição de muitos eurofóbicos ateístas que abominam as raízes judaico-cristãs mas que são sensíveis à intolerância religiosa face ao Islão mais teocrático e compadecem-se com todos os seus caprichos em estado puríssimo. Porém, têm de engolir em seco quando confrontados com a praxis dessas mesmas sociedades (que não podem jamais ser apelidadas de retrógradas, claro, são velocidades diferentes de evolução em conjunturas particulares). É uma ginástica incrível que alguns activistas têm de fazer para se livrarem da mancha de sujidade que segue o Islão tão protegido; uma ginástica assim parecida à que um português faz quando diz que é socialista mas não é apoiante deste líder, não querendo enfrentar e suportar o peso da fama socrática, no fundo a praxis que não querem ver (pequeno aparte descontextualizado e sacana, completamente estúpido, adiante). Não digam que estou de má vontade porque se há pessoa que não pensa duas vezes antes de condenar grande parte das práticas abusivas que Islamismo promove, essa pessoa sou eu. Entristece-me eu não estar errada quando, quase sem dúvida, desconfio de qualquer repercussão eficaz destas boas intenções apregoadas nestas ruas ocidentais contra os assuntos internos do Irão.

Eu sei que nestes momentos, o que menos devia importar seriam dependências partidárias ou ideológicas mas é precisamente por esses acontecimentos estarem minados delas que se revela o desinteresse de pessoas como eu que assistem a tudo no verdadeiro palco que lhes interessa a eles, a blogosfera. Foi na blogosfera que se evidenciaram as motivações dos empreendedores da manifestação (refiro-me ao caso português, claro está) porque pouco ou nada se falou da mulher em concreto ou de detalhes jurídicos em questão. Como os pormenores legais e os contextos culturais, nacionais, blá blá blá, vão interessando pouco nos tempos que correm, também a adesão às causas é regida pela sede consumista acelerada que ignora os pormenores; é nos pormenores que geralmente reside a diferença. Outro evento que se avizinha nestes moldes é uma Concentração, contra as expulsões de ciganos em França, junto à Embaixada de França, no próximo dia 4 de Setembro. Os entusiastas somarão pontos à medida que ignoram normas internas do Estado Francês e por cada frase mesclada com as seguintes expressões: multiculturalismo, livre circulação, ilegalidade, compaixão, igualdade, protecção e imunidade. No final as pontuações serão multiplicadas em função do nº de ciganos romenos que os manifestantes se proponham a acolher nas suas próprias casas.
(- E a propósito:
1. Quem está a ser expluso de França não o está a ser por ser cigano: está a sê-lo porque se encontra em situação ilegal independentemente da etnia a que pertence.

2. A Roménia e a Bulgária ainda não são membros de pleno direito da União Europeia e por isso o tratado de Schengen não se aplica.

3. Qualquer cidadão Europeu pode ser expulso de qualquer outro país Europeu se não cumprir uma série de requisitos mínimos impostos por cada país. (via 31 da sarrafada) )

À parte destes frames que vão passando na ordem do dia, regozijando uns e desiludindo outros, prefiro deter-me a pensar numa frase de Ayn Rand (frequente e fanaticamente citada por mim):

There are two moral questions which altruism lumps together into one 'package-deal': (1) What are values? (2) Who should be the beneficiary of values? Altruism substitutes the second for the first; it evades the task of defining a code of moral values, thus leaving man, in fact, without moral guidance."

sábado, 28 de agosto de 2010

But please tell me who I am, who I am


When I was young
It seemed that life was so wonderful
A miracle, oh it was beautiful, magical
And all the birds in the trees
Well they'd be singing so happily
Oh joyfully, oh playfully watching me
But then they sent me away
To teach me how to be sensible
Logical, oh responsible, practical
And they showed me a world
Where I could be so dependable
Oh clinical, oh intellectual, cynical

There are times when all the world's asleep
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am

Now watch what you say
Or they'll be calling you a radical
A liberal, oh fanatical, criminal
Oh won't you sign up your name
We'd like to feel you're
Acceptable, respectable, oh presentable, a vegetable

The Logical Song, Supertramp

I'm Through With Love - Jane Monheit

Para que me fique bem claro e ninguém entenda

Acho insuficiente, pouco, nada, resquícios de tempo sumido.

Passa a sufocante, indescritível, um querer intransponível, inconfessável por previsível descrédito a receber, incipiente compreensão e negligente partilha…

Fora mal revelada, inacabada, uma desonestidade despretensiosa, verdade abatida, fugaz, perdida.

Ficara o insondável vazio no espaço, o perpétuo conforto ficcionado na sucessão das desistências. Maquinação cerebral devastadora. Intromissão orgânica subsistente, omnipresença ilegal, receptividade ao auto-engano que lhe furta a alma.

Não haverá regresso ao sítio certo que lhe fugiu. Culpa de quem o ergueu? Efémero vislumbre, mal de quem o perdeu. Não há retoma à rota dos não anunciados. Intempérie dos cerrados punhos e grilhões que incomodam como o não ver nada novo perante a face insaciada.

Ainda que incomodem, persistem. Os omitidos e acelerados mitos da mente. Um cárcere imaginário e regenerador de memórias venturosas, poucas, de recalcamentos tormentosos, muitos. A dose compensatória da imaginação, aliada à confissão consecutiva e exaustiva dos fracassos. Lamentável idealidade que repercute no devaneio de gueto. A repetida melodia que ecoa sozinha, sublimemente composta, e perfaz todo o resto que faltou, numa compensação incompleta mas árdua de sol a sol.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

The Go-Betweens - Finding you

Don't know where I'm going
Don't know where it's flowing
But I know it's finding you

But then the lightning finds us
Burns away our kindness
We can't find a place to hide
Come the rainy season
Surrender to our treasons
Can we even find our tears?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Para os Tomés de Portugal


Para quem precisa de relatórios para descobrir que lhe estão a tapar o sol com uma peneira, para os mais teimosos que não aceitam "larachas" (esta foi para ti, tu sabes). Fica aqui um excerto de um relatório com a nossa realidade vista de fora (são sempre os relatórios mais interessantes e, no caso português, são a única esperança de ouvir comentários credíveis e, até certo ponto, livres de enviesamentos e favoritismos internos).

However, government weight (46.5% of GDP in 2008 and rising), imbalances, bureaucracy and tax policy, manifesting themselves in cumbersome labour laws, high taxes and lengthy cases, threaten any economic recovery, even when the European markets recover. Although some measures have been approved, and a major report was produced on the problems and respective solutions for the fiscal apparatus, the apparent lack of political will signals that a major plan to tackle the issues, though highly needed, is not likely in the immediate future. Portuguese best hope is that the crisis will force the government into action.

Institut de Recherches Économiques et Fiscales

O panorama fiscal e a competitividade em Portugal

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Véspera de Despertar

Cada vez que o meu propósito se ergueu, por influência de meus sonhos, acima do nível quotidiano da minha vida, e um momento me senti alto, como a criança num baloiço, cada vez dessas tive que descer como ela ao jardim municipal, e conhecer a minha derrota sem bandeiras levadas para a guerra nem espada que houvesse força para desembainhar.

----

Foi-se hoje embora, diz-se que definitivamente, para a terra que é natal dele, o chamado moço do escritório, aquele mesmo homem que tenho estado habituado a considerar como parte desta casa humana, e, portanto, como parte de mim e do mundo que é meu. Foi-se hoje embora. No corredor, encontrando-nos casuais para a surpresa esperada da despedida, dei-lhe eu um abraço timidamente retribuído, e tive contra-alma bastante para não chorar, como, em meu coração, desejavam sem mim meus olhos quentes.

Cada coisa que foi nossa, ainda que só pelos acidentes do convívio ou da visão, porque foi nossa se torna nós. O que se partiu hoje, pois, para uma terra galega que ignoro, não foi, para mim, o moço do escritório: foi uma parte vital, porque visual e humana, da substância da minha vida. Fui hoje diminuído.

Já não sou bem o mesmo. O moço do escritório foi-se embora. Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se passa. Tudo que cessa no que vemos é em nós que cessa. Tudo que foi, se o vimos quando era, é de nós que foi tirado quando se partiu. O moço do escritório foi-se embora.

Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Motivações Coerentes de Alguma Esquerda

Via: O Cachimbo de Magritte

As proposições que se seguem são uma lista avulsa de algumas das «posições» que são muito comuns aos entes de esquerda à entrada da segunda década do século XXI. Não precisa de as subscrever todas; mesmo porque, verá, se subscrever uma multiplazinha (duas seguidas, por exemplo), é muito provável que subscreva uma grande quantidade, talvez mesmo a maioria, senão a totalidade. Isto não é um sistema, como disse, mas tem um pouco a estrutura do cacho: puxa uma e caem várias. A partir da segunda pode estar quase certo e comunicar ao seu ente mais querido: «sou um ente (estou a evitar a armadilha do género) de esquerda».

- Diabolizo os mercados financeiros;
- Advogo um Estado que vive estruturalmente da emissão de dívida;
- Sou contra a discriminação dos gays;
- Flirto com o islamismo (que criminaliza os de cima);
- Sou absolutamente relativista;
- Julgo que a cultura europeia é irremediavelmente branca, falocêntrica e, portanto, racista, sexista (não sobrevive à desconstrução);
- Sou feminista sem concessões;
- Defendo a burka e o niqab;
- Tenho uma visão da história completamente a-histórica: o pecado irremissível do homem branco, para resumir;
- Considero que o comunismo cometeu alguns excessos, mas é preciso contextualizá-los (no fundo, sou um comunista hormonal);
- Tenho pavor a qualquer veleidade de existência pública de vida religiosa;
- Oponho-me a qualquer limitação da prática do islamismo (islamofobia!);
- Sou pela autodeterminação dos povos;
- Oponho-me (mesmo que muitas vezes evite dizê-lo, é uma questão táctica...) à existência de Israel (os judeus nunca existiram e, portanto, não têm nada que se autodeterminar);
- Sou, em geral, pacifista;
- Compreendo o terrorismo (é preciso estudar as suas causas profundas);
- Converti-me à democracia (liberal? Burguesa?), mas sem exageros;
- Chavez, Morales, Lula e as suas amizades com torcionários são tudo casos que se «compreendem» muito bem;
- Gosto de Obama; de Paul Krugman (é um bloguer fantástico!), de Stieglitz (alternativamente: de Michael Moore, Noam Chomsky e outros génios assim);
- Só a menção da palavra «América» dá-me brotoeja;

E, por fim,- Sou a favor da liberalização das drogas;- Oponho-me ao sal no pão, às bolas de Berlim na praia, à ginginha no Rossio, e outras javardices populares do género.

Cavalo à Solta - Mafalda Arnauth

Inigualável Ary dos Santos. O resto é conversa...



Minha laranja amarga e doce
Meu poema feito de gomos de saudade
Minha pena pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve
Breve instante da loucura
Minha ousadia, meu galope, minha rédia,
Meu potro doido, minha chama,
Minha réstia de luz intensa, de voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa
Em ti respiro, em ti eu provo
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro
Cavalo à solta pela margem do teu corpo
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha laranja amarga e doce
Minha espada, meu poema feito de dois gumes
Tudo ou nada
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sussego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Por isso canto, por isso digo
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo
Minha alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha ousadia, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Berradeiro desactualizado

É por gostar de ser chata, incoveniente e por rejubilar quando reúno pormenores sacanas e demonstrações factuais esquecidas, escondidas ou negligenciadas que gosto sempre de voltar com conversas que não estão na ordem do dia. Não que eu fique obcecada quando não levo a minha avante e fique a roer nos assuntos até encontrar algo espectacular que me dê alguma razão ou a razão toda mas simplesmente na tentativa de aproveitar quando a poeira baixa e quando a berraria da esquerdalha omnisensibilitas, supra-condescendente e liberto-matadora, pau-pra toda a moca, descansa depois de explorar as prioridades gritantes da sociedade civil e de esgotar algumas das batalhas que encabeça.

Quem diz a berraria da esquerdalha, diz também a berraria da facção que vive numa vida azul, verde, com gotas de orvalho e papoilas e que se faz representar, nomeadamente pelo partido Portugal Pró Vida, o qual eu deduzo que proponha alternativas originais como a Viver a Vida e outras multivariadas medidas muito abrangentes e sistemáticas. É a triste e arreigada mania portuguesa de restringir a representação de interesses pela criação de partidos políticos "por dá cá aquela palha" em vez de se livrarem de preconceitos ignorantes e de assumirem lobby's. Mas adiante.

Passou o choque de ocasião dos mais recatados nos costumes e passou também a histeria daqueles que tinham a banalização do aborto como estandarte de uma mulher não-conformista, "livre", (dona de si, independente, teimosa, do "quem manda aqui no meu sou eu", do "tira a mão", do "fiz tudo sozinha",) e que apimentava esta visão de vanguarda ética com pinceladas emotivas de estupro que pareciam sugerir Portugal como berço da profanação adolescente e dos remediados sem escolha ou à beira da risco de vida materna. Era urgente legislar portanto, porque esta gente só respira se existir uma lei a autorizar tal acção. Agora sim, o nosso país parece ser um calmo e agradável nicho de procriação desejada e que caminha nas veredas do planeamento familiar rumo aos partos plenos de alegria.

Esqueçamos as imagens de estupro que vitimavam as jovens portuguesas (deviam ser centenas, calculo) e esqueçam a ideia de um Portugal analfabeto que realiza abortos num sítio todo badalhoco sem condições nenhumas, como ironizava o Gato Fedorento na famosa imitação de Marcelo Revelo de Sousa. O que aqui apresento, passado o tempo dos sensacionalismos bem engendrados, passada a sensibilização do povo português e concretizado o objectivo final: realização de mortes assistidas em estabelecimentos públicos à conta dos contribuintes (até dos mais religiosos), é o perfil da prática recorrente no quotidiano normalizado. Temos então senhoras, maioritariamente, com idades compreendidas entre os 20 e os 40 (longe vai a adolescência), com altos níveis de escolaridade (consideráveis vá) e que apresentam como justificação à interrupção o motivo "por opção da mulher". Com esta lei a mulher pode abortar porque sim! Pode abortar porque sim! Vou ao cinema, olha está esgotado, vou abortar.

É por abundarem estas discrepâncias entre argumentos na praça pública e as práticas reais dos realmente interessados que o preferível nestes momentos é não pactuar com debates acessos e manter uma opinião contida e céptica. Resta gozar com grande parte dos mais entusiastas mais exacerbados e com os parvos facilmente convencidos que repetem a argumentação por tópicos numerados e doutrinalmente memorizados.

Fonte: Relatório dos Registos das Interrupções da Gravidez, 1º semestre de 2009. Direcção Geral de Saúde . (Mas quem é que tem paciência para ir ler isto?)

Todos merecemos uma segunda oportunidade, e tal. Sobretudo se tivermos alguém que nos pague a conta.

Imigração ou Turismo?


Lamentável. Pobres aqueles que transportam na sua bagagem os sonhos de uma vida melhor nas terras lusas. O título é por si só uma grande ironia do destino.

Acabo de ler no ionline uma notícia publicada, no passado dia 6 de Agosto e, ainda assim, vem fresquinha. Os imigrantes que queiram sair de Portugal vão ter a partir de agora mais apoios do governo, através do Programa de Retorno Voluntário, cujo objectivo é ajudar os cidadãos de nacionalidade estrangeira a regressar ao país de origem ou a outro Estado disposto a recebê-lo.

Por falar em imigração. Curiosamente, dei por concluído (livrei-me definitivamente), no passado fim de semana, um pequeno trabalho de investigação com o qual tive irremediavelmente a obrigação de despender alguns dias espaçados no tempo, ou não fosse o meu tema uma aventura de curiosos, enfadonha e singular na sua irrelevância científica. Talvez o resultado final até tenha alguma qualidade que não seria expectável mas algo que não é feito com plena vontade e prazer é raro passar-me nas vistas em apreciação demorada. Verificação final de olhos fechados, empacotar e...longe da vista para toda a eternidade. Mas eu não queria vir explanar sobre as minhas frustrações académicas e sobre os documentos ostracizados que já se despediram da minha reciclagem numa qualquer purga recente.

O meu precioso trabalho tinha como tema: A Integração da Imigração Paquistanesa em Portugal. A náusea já não podia ser pequena, depois de teclar dezenas de vezes a palavra integração e outras semelhantes, depois de interiorizar, mastigar e arremessar com insistência ideias carregadinhas de multi-culturalismo prudente e lindo (como se gosta), de descomplicar tensões, orientar o meu discurso para a harmonia desejável entre sociedade civil e os novos imigrantes acolhidos e, (a cereja em cima do bolo), incutir ao Estado a responsabilidade de aproveitar este tímidos contributos académicos para conhecer a fundo a realidade que se predispõem a recolher entre seus limites nacionais limitados e assim conseguir pôr em curso políticas públicas adequadas. Não vale a pena frisar que, apesar da minha habilidade de "troca tintas" costumar ser até bastante generosa com os meus intentos, o meu trabalho final, desta vez, pouco tem a ver com a minha cara e acabou por fugir ao meu registo habitual, admito com tristeza.

E onde quero chegar com esta conversa? Bem, com certeza que já sentiram incerteza a meio de determinado trabalho teórico em que se apercebem que estão a escrever fluentemente grandes certezas sem ter o mínimo de confiança no que estão a afirmar. Acontece a todos, ás vezes até num simples post nos nossos blogues; escrevemos coisas de madrugada que nos parecem ilógicas e até vergonhosas na manhã seguinte porque até parece que a noite propicia o fundamentalismo e o nascer do sol revela o relativismo do nosso pensamento. E lá seguimos nós pelo dia fora a ocupar as horas seguintes, relembrando o que se amorteceu durante as horas de sono.
Estes casos sobre imigração favorecem este sentimento na cabeça de qualquer estudioso, principalmente a um estudioso que prefira dedicar-se a objectos mais concretos e com uma aplicação prática na realidade. Essa ideia de andar a tentar sistematizar a vida privada das pessoas não me convence e os fluxos migratórios não se limitam a traços mecânicos com motivações catalogáveis; é muito mais espontâneo do que isso e até, (desculpem se vos parece mal) muito mais bruto e instintivo. Vislumbro uma análise neste campo tão inútil que parece-me mais sensato deixá-la ao critério do senso comum, entre os horizontes apetecíveis e propícios à instalação no país de acolhimento e à mercê de reacções menos benévolas que tendem a surgir. Pois boa sorte, salve-se quem puder!

O caminho de regulação dos fluxos migratórios e da concessão de autorização de residência em função da questão do trabalho, por exemplo, levou a embaraços legislativos que levaram ao efeito contrário do planeado: mais burocratização dos processos, favorecendo a crescente entrada de estrangeiros pela via ilegal. Até para os mais altruístas benfeitores que legislam no nosso país, a tarefa de saber lidar com fenómenos destes e de haver ali uma inconsciência das possibilidades que se podem oferecer a quem chega e a quem fica, não se revela tão simples quanto isso. Com receio de ficar sobre-lotado, maquinando estratégias novas de escoamento ou por simples compaixão, aqui se demonstra o verdadeiro sentido do Estado. Uma medida que visa "incentivar o desenvolvimento dos países de origem dos imigrantes" Que forma airosa que os políticos encontram para dizer coisas desagradáveis como: vai mas é trabalhar para a tua terra!

O bilhete de avião e a atribuição de um subsídio para reintegração na nova comunidade, nos primeiros dias após a saída de Portugal são totalmente custeados pelo programa.
Só em 2009, saíram de Portugal 381 estrangeiros ao abrigo deste programa, tendo aumentado 9,8% em relação ao ano anterior, revelam os dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

É por estas e por outras que uma pessoa como eu se sente apunhalada pelas costas ao pensar na idiotice que é sintetizar logicamente factos que ultrapassam o limite do imaginável e do razoável. Como deve ser lema num momento de pausa para férias, o melhor é não planear, deixar o tempo correr e logo se vê. Acho que em relação ao imigração deve ser essa a postura. Como não é suficientemente generoso acompanhar uma recepção condigna a estes recém-chegados, suportando muitos dos custos que a sua instalação comporta, vamos deixá-los usufruir por uns tempos do invejável potencial turístico de que Portugal dispõem e, mais tarde, oferecer a passagem de volta a casa, completamente à conta do dinheiro público. Isto sim é um incentivo ao fluxo de pessoas e ao multi-culturalismo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pump Up The Volume

Ano de Lançamento: 1990
Ano de Visionamento: 2010
Antes tarde que nunca. A mensagem não ficou estancada no tempo e soa-me até bastante actual. Identificar-me com este filme desde os primeiros minutos é a natural consequência da conjugação de: um vigoroso e estimulante desempenho de Christian Slater (no papel de locutor da rádio pirata); um desfilar sucessivo e incansável de frases lapidáveis e ousadamente genuínas (que eu pronunciaria num momento de inspiração semelhante à invejável de que Mark revela ser dotado); e uma banda sonora coerente e brutal que me agrada na íntegra e que envolve todo o filme, transmitindo uma contagiante e saudável necessidade de libertação individual. Não faltando também a recomendável dose de responsabilidade, claro.


- Mark Hunter: Always the same red paper, the same beautiful black writing. She's probably a lot like me, a legend in her own mind. Hehehehe. But you know what, I bet in real life she's probably not that wild. I bet she's kind of shy like so many of us briskly walking the halls, pretending to be late for some class, pretending to be distracted. Hey, poetry lady, are you really this cool? Are you out there? Are you listening?
- Nora: I'm always out here.

----
- Mark Hunter: Talk hard, I like that. It's like a dirty thought in a nice clean mind.

----
- Mark Hunter: 'Dear Harry, I think you're boring and obnoxious and have a high opinion of yourself.' Course some of you are probably thinking I sent this one to myself. 'I think school is okay if you just look at it right. I mean I like your music, but I really don't see why you can't be cheerful for one second.' I'll tell you since you asked. I just arrived in this stupid suburb. I have no friends, no money, no car, no license. And even if I did have a license all I can do is drive out to some stupid mall. Maybe if I'm lucky play some fucking video games, smoke a joint and get stupid. You see, there's nothing to do anymore. Everything decent's been done. All the great themes have been used up. Turned into theme parks. So I don't really find it exactly cheerful to be living in the middle of a totally, like, exhausted decade where there's nothing to look forward to and no one to look up to.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Morrissey - Let Me Kiss You



My daily dose of delightful songs...how I could survive without music?

There's a place in the sun for anyone
Who has the will
Chase one and I think I found mine
Yes I do believe I have found mine.
So, close your eyes
And think of someone you physically admire
And let me kiss you, oh.
Let me kiss you, oh.

Quem sabe o que é para si-mesmo


Durei horas incógnitas, momentos sucessivos sem relação, no passeio em que fui, de noite, à beira sozinha do mar. Todos os pensamentos, que têm feito viver homens, todas as emoções, que os homens têm deixado de viver, passaram por minha mente, como um resumo escuro da história, nessa minha meditação andada à beira-mar.

Sofri em mim, comigo, as aspirações de todas as eras, e comigo passearam, à beira ouvida do mar, os desassossegos de todos os tempos. O que os homens quiseram e não fizeram, o que mataram fazendo-o, o que as almas foram e ninguém disse – de tudo isto se formou a alma sensível com que passeei de noite à beira-mar. E o que os amantes estranharam no outro amante, o que a mulher ocultou sempre ao marido de quem é, o que a mãe pensa do filho que não teve, o que teve forma só num sorriso ou numa oportunidade, num tempo que não foi esse ou numa emoção que falta – tudo isso, no meu passeio à beira-mar, foi comigo e voltou comigo, e as ondas estorciam magnamente o acompanhamento que me fazia dormi-lo.


Somos quem não somos, e a vida é pronta e triste. O som das ondas à noite é um som da noite; e quantos o ouviram na própria alma, como a esperança constante que se desfaz no escuro com um som surdo de espuma funda! Que lágrimas choraram os que obtiveram, que lágrimas perderam os que conseguiram! E tudo isto, no passeio à beira-mar, se me tornou o segredo da noite e da confidência do abismo. Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amamos e perdemos e, depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o que julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que era uma memória e críamos que era uma emoção; e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à beira-mar...

Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo? Quantas coisas a música sugere e nos sabe bem que não possam ser! Quantas a noite recorda e choramos e não foram nunca! Como uma voz solta da paz deitada ao comprido, a enrolação da onda estoura e esfria e há um salivar audível pela praia invisível fora. Quanto morro se sinto por tudo! Quanto sinto se assim vagueio, incorpóreo e humano, com o coração parado como uma praia, e todo o mar de tudo, na noite em que vivemos, batendo alto, chasco, e esfriase, no meu eterno passeio nocturno à beira-mar!


Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lost and Found

A mínima distracção estendida por escassos meses, talvez anos, e algo de extraordinário, deixa de se visto antes mesmo de puder ter sido dado a explorar. O que fazemos no tempo repercute-se na eternidade (ooh não, e isto soa-me agora a cinema épico, ao estilo The Gladiator; agora não mudo). Passada a oportunidade, resta a desconfortável sensação de desperdício como quem é náufrago no meio do Pacífico, vê passar um navio ou avioneta, não lhe restando, porém, um único very light para pedir auxílio (agora foi um pouco de Lost, para equilibrar com The Gladiator).
Se ela me permite, fica aqui dedicado a todos os que andam neste mundo a deixar escapar coisas valiosas e assim moldam o futuro diariamente porque não existem destinos fatais e as correspondências e satisfações próprias e recíprocas dependem da habilidade de cada um, em função das suas escolhas, mais ou menos criteriosas.



E por falar em coisas que se perdem e outras que poderão, quiçá, ser recuperáveis; aqui fica o excerto mais sintetizador do filme Les Uns et les Autres, filme excepcional ao seu jeito, que só tive oportunidade de assistir, finalmente, na noite passada. Diria que é um filme que tem o distinto mérito de, sem comovedores e arrepiantes adornos, nos confrontar com um retrato pragmático do curso da vida que é transformada por factores externos e inesperados sem que os seus actores tenham tempo sequer de se insurgir diante da arbitrariedade do futuro.

Pony - Erin McCarley

Utilidade

La reconnaissance de la plupart des hommes n'est qu'une secrète envie de recevoir de plus grands bienfaits.

(A gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores.)

François La Rochefoucauld

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

IF - Rudyard Kipling



If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;

If you can dream - and not make dreams your master;

If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!

Inconvenientes de Dar a Voz ao Povo

O facebook revolucionou os contactos sociais e profissionais, as ligações de interdependência por referência a ciências, artes, causas, ideais, lazer, iniciativas desprovidas de sentido, e o seu valor estratégico não foi negligenciado pelas bases de poder, seja ele comercial, político, artístico...já bem o sabemos. Falo por mim; já me fartei de o saber até à exaustão, nomeadamente, em virtude de ter sido parte activa de um trabalho académico em que o docente aconselhou o grupo a explanar sobre o assunto das redes sociais (twitter e facebook) como tópico fulcral e bem delimitado no contexto do trabalho sobre campanhas eleitorais.
Como tudo na vida, este instrumento omnipreseimnte na vida das pessoas trará os seus pioneiros benefícios e algures, os danos, mais ou menos previsíveis. No caso aqui destacado será claramente identificável onde reside o problema. São apenas 3 exemplos representativos da dolorosa experiência que é ler as contribuições mais diversificadas que podem causar riso ou, às pessoas mais sensíveis, perplexida e desespero. Quem vai à guerra dá e leva e quem tem facebook estreita laços de dependência com quem lhe interessa e ainda é desprestigiado e humilhado pelos fãs mais caricatos.

Vou tentar, porém, acabar o meu comentário com uma tentativa de raciocínio que me permita concluir se é bom ou mau um partido político ter a página aberta aos militantes, simpatizantes, indiferentes, opositores e carniceiros: Se eu passo a conhecer melhor as bases de apoio de um partido, sem mistificações eleitoralistas e me deparo com a realidade bem mais desagradável do que eu poderia imaginar (ou queria/preferia ignorar), esse efeito vai ter repercussões nas motivações e firmeza de apoio de parte do eleitorado mais coerente mais esperançoso ou, genericamente, mais incauto. Neste caso sai o tiro pela colatra ao administrador de tamanha iniciativa ciberneutica. Por outro lado, é desenvolvido um mecanismo eficiente no sondar das inquietações/desejos da sociedade civil, canalizando todas as reações de imediato por toda a rede de membros o que poderá resultar numa aplicação de sugestões directas ou, por exemplo, permitir que cada um de nós fique bem ciente da natureza de gente em que se alicerça a fantochada toda. Neste último caso, incluo-me a mim mesma porque não há nada melhor que agarrar o touro pelos cornos, ridicularizar a pobreza de espírito porque não vale a pena medir todos pela mesmo bitola.

Não diga que não se nota. Clique em cima e veja maior. E clique na lupa! A qualidade da imagem original foi notoriamente corrompida pelo processo de upload mas como me têm obrigado a aprender, o que interessa é a intenção. Gracias.

domingo, 8 de agosto de 2010

O Estímulo, o Garante e a Dádiva


Adoro os prazeres simples. São o último refúgio das pessoas complicadas.

O irrepreensível Oscar Wilde adorava e eu sigo-lhe o exemplo. Todo o sincero e complicado indivíduo admite que concentra toda a sua actividade, permanentemente na rota de colisão com esse estímulo, o perceptível galardão que segue o esforço. O subjectivo sentido de dever sofre menos de falta de persistência do seu sujeito consoante a distância do cobiçado gozo. De todas os critérios de acção, diria pois que o prazer é a imposição mais leve e infalível ao dar sentido ao empenho tantas vezes abalado pela inconstância pessoal ou pela paralela desonestidade alheia.
São os momentos de pausa, livre de fardos rotineiros, dos que amassam a espontânea actividade dos instintos sem data nem hora marcada, que nos facultam compreender quão animalesca é a previsibilidade dos nossos fins. E fazê-lo com o distanciamento e discernimento necessários já que em meio de trabalhos podemos correr o risco de ignorar os sinais da mente e do corpo, chegando mesmo a achar que estaremos a atingir um grau de loucura e cançanso muito particulares e inconfessáveis.

O que muitas pessoas não terão percepcionado ainda, (porque no fundo a tese é minha e nunca a partilhei) é o carácter rotativo da Hierarquia de Necessidades de Maslow. Ingénuos os que alimentem o ego e se julguem atingir um nirvana onde superabunda a auto-realização intelectual, negando a incessante procura de refúgio e alívio normalizador nas necessidades que deixaram para trás. Declarando ou não publicamente, cedendo à vontade própria ou admoestando-a, o facto é que quem está consciente de ter subido ao patamar da auto-realização e de ter esgotado a inesgotável panóplia de aptidões a explorar gradualmente, consegue vislumbrar o fatal destino de recorrer ao apetecível e evasivo. Porque a nossa natureza não dita que nos restrinjamos ao topo da pirâmide de necessidades. Enclausurar-se neste topo de labor e êxtase temporário terá rápidas repercussões na disposição da pessoa, no seu equilíbrio mental e emocional. É nesta lógica que me recuso a aceitar qualquer tipo de disciplina colectiva e ordenada de cima, como boa defensora da disciplina que sou. A disciplina é antes de tudo, personalizada, intransmissível, individualizada, ficando ao critério de cada um a hora do intervalo.

É com certo orgulho que devemos constatar portanto que quanto maior é a busca de libertação em prazeres simples, maior tem sido o desafio a que nos temos proposto e mais árdua tem sido a jornada e provação à resistência intelectual e física. Para todos aqueles que não ficaram convencidos ou, pura e simplesmente ousaram a divergir no meu coerente e invejável pensamento, começo por fazer notar que são pessoas num nível de simplicidade humilhantemente raso e, em segundo lugar aconselho que me contactem para eu providenciar uma experiência alucinante em meio académico, na semana que antevê o curto e denso período de exames. Coisas do meu passado…e do meu futuro, já que as regras ditam período de férias neste preciso momento de refrigério estatal e academicamente definido. Entretanto gozem de prazeres simples na medida do tédio profissional a que estão expostos.