sexta-feira, 30 de setembro de 2011

comportamentos óbvios

Parece-me tudo demasiado cíclico…vou começar a simplificar as conversas para me fazer entender.

A - Porque é que as pessoas mudam? Porque não estão satisfeitas. - Porque é que as pessoas não estão satisfeitas? Porque mudam.

B - Porque é que as pessoas exigem segurança? Porque não conhecem as suas capacidades? - Porque é que não conhecem as suas capacidades? Porque as pessoas exigem segurança.

C - Porque é que as pessoas evitam fazer escolhas? Porque não sabem do que gostam. - Porque é que não sabem do que gostam? Porque evitam fazer escolhas.

D – Porque é que perdem grandes oportunidades de exteriorizar o que pensam/sentem? Porque temem o que o futuro lhes reserva. - Porque é que as pessoas temem o que o futuro lhes reserva? Porque perdem grandes oportunidades de exteriorizar o que pensam/sentem.


informações úteis

(se acham chato e parvo ler o que penso enquanto ando de comboio, tomem a liberdade e gentileza de viajar por mim) *

Nas pequenas coisas mais estúpidas percebemos como a recusa/preguiça em entender objectivamente as capacidades e limitações das pessoas normais, e as suas necessidades imediatas, fazem permanecer em vigor criações obsoletas, absurdas e disfuncionais em toda a parte.

“Com um simples movimento de corpo pode avançar o assento para uma posição de repouso”

Há anos que leio esta frase mas não me diz nada. É um enunciado simples. O adjectivo “simples”, ali utilizado, parece-me cínico porque todos já concluímos que é complicado. Está a lembrar-me como era bom repousar. Boa sugestão….Depois, “um simples movimento de corpo”, sim, mas não especifica que "corpo"… ferramenta, arma, uma bomba!...pah, qual?…Nunca tive provas palpáveis em como estes assentos se movem verdadeiramente. Também nunca vi ninguém a usufruir desse feito heróico (movê-los). Acho que a frase está só aqui para criar a ideia de que nos desejam mesmo proporcionar conforto mas para descobrirmos se conseguem passar da teoria à prática, precisamos de ter a lata de solicitar a ajuda dos que controlam a máquina. Mas os tipos estão sempre longe…Caramba, eu nunca pensei em deitar-me enquanto ando de comboio mas agora sim. Nunca pensei que fosse possível. Custava muito não sugerirem o impossível?

E que tal apagar a frase dali? Não, claro que não será necessário…de qualquer forma, quem vai querer descobrir se resulta mesmo ou não? O mais engraçado é que se eu ousar fazer aqui um esforço e umas manobras para testar, todos vão olhar e achar que sou uma barraqueira. Mas pronto, a frase fica sempre bem…para quê tornar tudo mais operacional? Bem…para a próxima venho num serviço ferroviário em que os assentos se movam! Não há outro serviço alternativo? Ah pois…é por isso que os assentos deste comboio ainda não se movem.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Libertarianismo e belicismo: uma óbvia incompatibilidade

Libertarianismo e belicismo: uma óbvia incompatibilidade It is in war that the State really comes into its own: swelling in power, in number, in pride, in absolute dominion over the economy and the society. Society becomes a herd, seeking to kill its alleged enemies, rooting out and suppressing all dissent from the official war effort, happily betraying truth for the supposed public interest. Society becomes an armed camp, with the values and the morale – as Albert Jay Nock once phrased it – of an "army on the march.
Murray N. Rothbard

A oposição inflexível face ao tom de inevitabilidade de combates indiscriminados, promovidos pelo Estado, é uma necessidade decorrente da coerência a preservar dentro do pensamento libertário. Os custos de uma guerra são evidentes e facilmente enumeráveis por qualquer pessoa, porém , não poucas vezes, são tolerados como males necessários, beneficiando de estatuto de excepção. Caso não estejam bem presentes na memória de todos, relembre-se que a guerra corresponde à forma mais robusta e rápida de depredação de riqueza e de ataque à estabilidade da sociedade, implicando uma ruptura desordenada das actividades económicas, desequilíbrios demográficos, incitamento à desordem social, prejuízos avultados, frustração de expectativas e de percursos de vida interrompidos. A estratégia de vitimização por parte do Estado serve de base a um oportuno sentimento de coesão entre os cidadãos, à medida que a classe dirigente fica empossada de maior legitimidade e diâmetro de ingerência nas liberdades individuais.

Perante as seduções que partem sempre do mesmo orador, pouco confiável - o Estado – o cepticismo deve ser uma constante, tendo em conta que a guerra constitui a expressão máxima da violência estatal ao aliar a manutenção de acções intencionais de agressão, por meio do monopólio da força, com o financiamento insaciado que parte das receitas fiscais. O Estado, inerentemente agressivo, consegue realizar a lamentável proeza de direccionar recursos originários de cidadãos oponentes do belicismo para agredir estrangeiros inocente, decidindo onde, como, porquê e com que magnitude empreende essa intervenção. Vislumbra-se, assim, a total oposição aos princípios defendidos por Rothbard no que toca a auto-defesa fundamentada na proporcionalidade da punição daquele que atenta contra as nossas liberdades, privando-se também, ele próprio, da sua liberdade na mesma proporção em que nos agride. A forma operacionalizada de enunciação de danos colaterais revela a mais rude indiferença, e o direccionar da violência somente aos criminosos e na dose exacta que é merecida, poupando a vida de terceiros, alheios aos conflitos, é algo pouco ou nada exequível, tanto porque o Estado não tem qualquer preocupação em ser selectivo nos seus alvos, como porque não o consegue fazer, dado o impacto implacável do seu apetrechamento militar. Todos estes aspectos são ignorados se estiver generalizado o dualismo necessário para suportar a guerra, numa consideração bastante linear e simplista das partes envolvidas, que descamba em efectivo colectivismo de oposição entre nações…uma conveniente abstracção e assimilação do “medo”, da “ameaça” e duma consequente “necessidade”. Contrariamente às forças que interagem espontaneamente, o Estado distingue-se por concentrar-se em falsas necessidades e forçar os tributados a financiar as suas ruínas ad eternum. Distancia-se dos indivíduos, consegue baixar o nível de exigência e consegue encobrir o despesismo e a crescente desconexão entre interesses dos governados e acção governamental, nomeadamente com enunciados que se reduzem a simples chantagem securitária. Como Hans-Hermann Hoppe enunciou, de forma inequívoca e acertiva: Rather than dynastic property disputes which could be resolved through conquest and occupation, democratic wars became ideological battles: clashes of civilizations, which could only be resolved through cultural, linguistic, or religious domination, subjugation and, if necessary, extermination. It became increasingly difficult for members of the public to extricate themselves from personal involvement in war.

Nas guerras contemporâneas, mais do que nunca, é perceptível a ausência de ponderação da utilidade dos sacrifícios de guerra, cada vez mais numerosos e incutidos nas necessidades e despesas nacionais. A própria noção de guerra preventiva reflecte a despreocupação em verificar sinais claros de iniciação de uma agressão que ameace a liberdade e propriedade de alguém. Posto isto, poucas são as barreiras às ambições expansionistas dos Estados, como é símbolo máximo disso, a presunção messiânica norte-americana que se reanima na recuperação do ideal wilsoniano, tão raras vezes dirigido a ameaças directas, respeitantes aos EUA.

Se uma pessoa, a título individual, por sua conta e responsabilidade, decide arriscar-se em infligir uma vingança em alguém por meio de violência, (independentemente de se justificar ou não, neste caso) é evidente que todos os prejuízos que possam decorrer de uma contenda, recaem sobre ela mesma, no seu corpo, em possíveis danos materiais, despesas com a saúde, etc. Se é racional atentar ao próprio bem-estar e envolver-se num conflito evitável, é uma questão que recebe resposta subjectiva, já que depende somente de propósitos e valores pessoais. Se transpusermos uma semelhante situação para a esfera do Estado, percebemos que há uma entidade bem fortalecida, de responsabilidade de curto prazo, que anda a enfrentar perigos e multiplicar inimigos, instrumentalizando o corpo e a riqueza dos seus cidadãos. Quanto maior e mais centralizado conseguir ser o Estado, mais recursos tem à sua disposição e melhor os maneja, fora do alcance das apreciações e fiscalizações dos indivíduos. O fomento da guerra é a revitalização da natureza do Estado. Num Estado vasto, diminui o horizonte de tréguas porque é mais remoto o limite em que se esgotam as receitas destinadas à defesa e mais estranha a noção de justiça. Prolongar-se-á a agressão pela agressão, a tributação como agressão e a agressão graças à tributação.

War is never economically beneficial except fot those in position to profit from war expenditures.
Ron Paul

Compactuar com estes desproporcionais conflitos implica contornar as liberdades civis, os princípios basilares como o da preservação da vida, o direito à posse e defesa da propriedade privada, a igualdade perante a lei, a não agressão, a tolerância (não interferindo com a conduta de terceiros, independentemente de a aprovarmos ou não) e o favorecimento da paz como ambiente favorável a saudáveis interacções entre os indivíduos, na base do respeito mútuo e reciprocidade.

O vergar no sentido da desumanização está intimamente ligado à aceitação e defesa da escravidão militar, da escravidão fiscal, do colectivismo militar, da imoralidade associada ao assassinato em massa de inocentes e à tolerância perante tentativas de imposição de um modelo de governação igualmente tirano, semelhante aos que pretende remover. Resumindo, entregar a liberdade e a riqueza acumulada à máquina de guerra sem questionar intenções e efeitos que, se assumidos por conta própria, nos pesariam continuamente na consciência é ser vencido pela retórica irracional de guerra, pela arbitrariedades do Estado na provisão de protecção e moralização, e acima de tudo, é esquecer a diferença entre agressão e defesa – ponto de partida de todos os excessos e violações de direitos na matéria em causa.

A solução passa por rejeitar os pesados “cavalos de Tróia” que nos consomem as provisões em aplicações violentas e nos forçam a invadir e “incendiar” comunidades alheias. A resolução de qualquer conflito passa pela resolução próxima das partes envolvidas, numa lógica de compensação equiparada aos danos, rápida e satisfatória, flexível ao sentido de justiça da parte afectada e, sempre que possível, assente na capacidade de auto-defesa, livre de intermediações burocráticas que ampliam os prejuízos de parte a parte.

It is a wonder, then, that many who favor liberty, spontaneous order, voluntary human action, free trade and markets, and as little government as humanly and practically possible, do not see the full force of both the ethical and practical arguments against an interventionist foreign policy.
Anthony Gregory

GREGORY, Anthony, The Effects of War on Liberty, 2007.
HOPPE, Hans-Hermann, Reflections on State and War, 2006.
PAUL, Ron, The Crime of Conscription, 2003.
ROTHBARD, Murray N., War, Peace, and the State, 1963.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A leftist who thinks the government is protecting him from high ATM fees, low wages, or dirty drinking water tends to feel indebted to the state and willing to take its side over liberty and the free market. A conservative who thinks the government is locking up hooligans and keeping undesirables out of society will likewise side with power over freedom in all too many cases. And anyone who believes that the government is the only barrier standing between the American Dream and the fall of civilization into the hands of fanatics, determined to convert us all to their religion and behead those of us who resist, will predictably give the government far more leeway than it deserves.

Anthony Gregory

The foundation and cornerstone of liberty is the institution of private property; and private – exclusive – property is logically incompatible with democracy – majority rule. Democracy has nothing to do with freedom. Democracy is a soft variant of communism, and rarely in the history of ideas has it been taken for anything else.

Hans-Hermann Hoppe, Reflections On State and War


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Não costumo fazer descrições da rotina, porém contudo…

Aqui à minha frente, a jovem revê as suas próprias fotos há pelo menos uns 40 minutos…vai editando as melhores partes, se as tiver. Do outro lado do corredor a morena trintona, de mão elegante no queixo finge que redige alguma coisa no word, olhando o corredor de cima a baixo de 10 em 10 segundos, enquanto exibe as pulseiras e o suposto anel de noivado, com aquele ar imponente de “vejam, não dão nada por mim, nooo entaaanto!…”. Cerca de 60% dos passageiros vão a tentar dormir e uns 10% fazem uso dos óculos escuros para topar clandestinamente as curvas, do trajecto, as curvas do trajecto. Cerca de metade dos ocupantes da carruagem trazem consigo os indispensáveis auscultadores, esses oásis da paz e da saúde mental.

Os passageiros mais velhos olham a paisagem pela janela baça, de braços cruzados em cima da barriga, enquanto são ofuscados pelos raios de sol de frente ao fim do dia, cortados em maquinais intervalos que irritam, mas que eles já toleram. Ao meu lado, uma aparentemente académica, tenta ler a Viagem do Elefante do Saramago….leu 3 páginas e fechou agora. Não acredito…como conseguiu ler tanto. Ena, movimento! Emoção na carruagem! Lá mais à frente, um discreto litígio porque um deles quer ver a paisagem e o outro quer descansar e não suporta a luz…é a disputa pelo cortinado! Este aqui mais perto, dos seus quarenta anos, ergue o jornal com ar seguro e regular, distante da multidão, um certo ar de alheamento intelectual. Eis que parou…por hoje foi tudo, amanhã absorves mais um pacote de ração informativa.

Há pessoas que apreciam a viagem despreocupadas e outras que só querem chegar rápido ao destino e perguntam até ao funcionário, a hora exacta de chegada. Para onde será que vão a seguir? Os lugares junto da janela são bastante apreciados…mais um bem escasso que faz com que os menos agraciados passem a viagem a levar cotoveladas e caneladas, contorcem-se no assento e tentam espreitar o exterior por cima do passageiro junto da janela. É aborrecido andar de comboio? Bem, reserva tanto divertimento como quase qualquer outro sítio: pouco ou nenhum. Custa menos quando não vai a engonhar, parando em todas as estações e apeadeiros.

A melhor coisa da viagem de comboio…Essa é fácil. É ver a acérrima defesa do lugar marcado pelo qual se pagou! São os melhores momentos de contacto entre os passageiros e de manifestação da instintiva e repentina defesa da propriedade. Os melhores do melhores são os que se recusam a prosseguir viagem enquanto não reaverem o lugar que lhes pertence. Raramente é preciso chamar uma autoridade e chega-se a um acordo, ali na hora, sem grande aparato. E o que mais me incomoda, (para além de quase tudo, incluindo as casas de banho, que são de todos e não são de ninguém e que não me atrevo, por isso, a visitar) é o funcionário, para cima e para baixo, com cara hostil, a justificar a utilidade, pouca claro.

Queixo-me de andar muito de comboio, é verdade. Pensando bem, acho que afinal, nunca estou fora do “comboio”.


domingo, 18 de setembro de 2011

A - olha…dá-me uma ideia. Tenho de fazer uma biografia sobre uma personagem histórica mas que não seja muito conhecida...

D - huum... não conheço nenhuma.

bons egoístas e os outros

Está acomodado com o próprio silêncio onde julga estar, para sempre, livre de oscilações e seguro de julgamentos. Em vez de alívio, isso vale-lhe remorso e hesitação permanente, envolto de inércia e desperdícios. O egoísmo, tão espontâneo e útil na distribuição eficiente de desejos, foi distorcido, sem querer, a cada dia e o bem a alcançar para própria satisfação foi adiado e remetido para o frívolo imaginário.

Não há nenhum mistério para esta inacção…tem uma explicação muito simples. Primeiro, a escala de valores em que se revia não se confirmava em nenhum exemplar real. Nessa altura o sujeito variava entre a indiferença e a náusea face às alternativas. Num segundo e inesperado momento ele deparou-se com a resposta ao seu interesse racional e sabia que não precisava de opiniões…estava confirmada para ele a existência do seu ansiado complemento, do valor mais alto que o faz de imediato repensar a sua condição e abrir a excepção, apreciar a singularidade da sua descoberta e o quebrar com a indiferença que tinha seguido até então.

Perfazia-lhe plenamente a auto-estima e agora, essa simpatia como reacção ao reconhecimento dos valores que procurava, a vontade racional de querer proteger o bem maior, a necessidade de encontrar nele satisfação própria e fonte de auto-estima… todos estes elementos ficam imobilizados. O que poderá justificar essa debilidade final? É repensar reacções, calcular demasiado custos e benefícios e fechar as acções numa rotina de ansiedade mental, de medo de fracasso. É já ter algo menor mas desejar replicar por algo maior, deitando o menor a perder. A comunicação tudo nos trouxe…é paradoxal que tantas vezes embarace e seja tão insuficiente ou pouco ágil. Como o próprio sujeito, também fraco, pouco apto à competição entre os mais fortes ou, melhor dizendo, aos mais adaptados.

Love and friendship are profoundly personal, selfish values: love is na expression and assertion of self-esteem, a response to one’s own values in the person of another. One gains a profoundly personal, selfish joy from the mere existence of the person one loves.

Não declarar abertamente o que quer não é egoísmo, mesmo que alguém tente julgar que aquele que o faz quer proteger-se da humilhação e sentir-se seguro num cenário exclusivamente idealizado. Não declarar o que sente na ordem das prioridades pessoais é prejudicar-se a si próprio ao paralisar a capacidade de escolher e avançar, de perder ou de sair compensado. É assumir a aversão ao risco. Ao esconder-se sacrifica a felicidade pois perde o valor maior e remedeia-se com o resto. Quem o faz comete um acto de irresponsabilidade por ser incapaz de perseguir contra todos os desejos secundários, aquele que lhe valeria a satisfação total. E por esse desperdício deve considerar-se culpado somente ele próprio, apesar de não faltarem pressões alheias que o acobardaram e que se enumeram, com facilidade, a cada lamentação de arrependimento. É a ideia de viver para sempre com essa culpa que assusta a cada dia e consome a força de falar mas prende também a coragem e a habilidade de lutar por aquilo que já encontrámos mas que hesitamos em dizer que procurávamos.

Remember that values are that which one acts to gain and/or keep, and that one’s own happiness has to be achieved by one’s own effort. Since one’s own happiness is the moral purpose of one’s life, the man who fails to achieve it because of his own default, because of his failure to fight for it, is morally guilty.



(citações: Ayn Rand – THE VIRTUE OF SELFISHNESS)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

And in the darkened underpass
I thought "Oh God, my chance has come at last"
But then a strange fear gripped me
And I just couldn't ask

Morrissey