quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Barroso, muda-me o pneu!


Sempre pioneira na divulgação das notícias mais frescas que nos chegam de Bruxelas, a imprensa britânica deu a conhecer, na primeira semana de Setembro, a intenção da Comissão Europeia submeter veículos clássicos e modificados ao teste de licenciamento nos vários Estados-membros para manter as estradas mais seguras e proteger o ambiente. [1]

Esta uniformização das regras de licenciamento vem pesar sobretudo, ao que parece, nas viaturas que são definidas pela UE como “veículos históricos”. Um “veículo histórico” segundo a definição da FIVA (Fédération Internationale des Véhicules Anciens) é um veículo rodoviário de propulsão mecânica fabricado há pelo menos 30 anos, preservado e mantido em estado historicamente correcto, que não é utilizado como meio de transporte diário, e que faz parte do nosso património técnico e cultural (ou conforme consta na proposta: «vehicle of historic interest’ means any vehicle which fulfils all the following conditions : It was manufactured at least 30 years ago; It is maintained by use of replacement parts which reproduce the historic components of the vehicle; It has not sustained any change in the technical characteristics of its main components such as engine, brakes, steering or suspension and It has not been changed in its appearance.» [2]) Comovam-se todos, a UE está preocupada com a conservação do seu património cultural - talvez esteja a tentar redimir-se dos domínios em que o destrói. 

Dentro dos referidos parâmetros, percebemos que muitos carros deixarão de estar isentos dos testes e haverá ampla possibilidade das viaturas serem chumbadas devido à panóplia de justificações e complicações, no momento do teste, que decorrem da introdução de componentes distintos dos originais e da impossibilidade de ter acesso aos dados detalhados de origem.

Em especial no caso inglês (onde o alarme eurocéptico depressa disparou), a ser aprovada como lei, esta mudança irá incidir nas regras da inspecção nacional dos transportes, MOT (Ministry of Transport) test, acrescendo-se à já rigorosa exigência que tem aumentado ao longo dos anos, tanto na regularidade temporal das inspecções, como nos aspectos técnicos verificados. A indústria dos “carros históricos” emprega 28 mil pessoas e contribui com 4,3 mil milhões de libras no Reino Unido. [3] Os especialistas nestas lides garantem que as modificações aplicadas aos veículos não afectam a sua segurança, contudo, é impossível demover a ávida actividade legislativa de normas supérfluas que consomem tempo e dinheiro. 

Quem tem carinho especial pela sua relíquia automóvel, estima-a tanto que quase não sai com ela à rua; prefere puxar-lhe o lustro do que propriamente acelerar. Se o automobilista sabe que está a conduzir um carro novo com o máximo de conforto e segurança garantidos, mesmo inconscientemente é levado a arriscar e a dar-se a um maior desleixo que pode levar, paradoxalmente, a uma maior probabilidade de incorrer em acidentes de viação. Pelo contrário, num chaço barulhento e instável só assume comportamentos de risco quem não tiver amor à vida. Mas numa viatura antiga e mimada todos os dias, seria irracional o proprietário não se certificar da própria segurança – certamente, terá rendimentos suficientes para esse efeito. Mas, como de costume, os legisladores estão-se marimbando para a cautela e inteligência das pessoas. O perigo pode estar em todo o lado, portanto temos de apertar a regulamentação e temos de apertar a regulamentação porque o perigo pode estar em todo o lado. 

Mas não sejamos pessimistas. Se entretanto deixar de ser viável despender dinheiro na paixão por carros antigos com a criatividade que lhe é inerente, podem apostar em outras actividades; por enquanto ainda não ouvi falar de nenhuma proposta para regulamentar a construção e uso de carrinhos de regulamentos – embora seja mais um dos resquícios de brincadeiras tradicionais que urge ilegalizar, dada a incapacidade de muitos progenitores em protegerem a integridade física dos filhos, perante a violência iminente a que estão expostos. Aguarda-se regulamento europeu para colmatar esta falha; brinquem enquanto nenhum eurocrata vem aqui buscar-me a ideia. 

[1] http://www.telegraph.co.uk/motoring/news/9526693/Motorists-face-EU-ban-for-modifying-cars.html
[2] http://ec.europa.eu/transport/doc/roadworthiness-package/com%282012%29380.pdf
[3] http://www.dailymail.co.uk/news/article-2199311/Millions-modified-classic-cars-banned-roads-meddling-European-Union-try-shake-MOT-rules.html

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