sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sempre de pé atrás com a democracia

O pesadelo irremediável e decorrente da própria democracia é sempre o mesmo: escolher para todos o que a maioria acha que “faz bem à saúde”. Quem sabe como a democracia funciona não se espanta disto. O espantoso é ver alguns críticos da democracia a usarem-se do mesmo método de arrastão e aceitarem que a população fique a comer bolotas, 10 ou 20 anos, se a carência do país assim o ditar. O alvoroço de alguns que tentam assumir uma posição responsável, leva-os a incorrerem no mesmo problema e a não hesitarem em passar uma receita a toda a população, subscrevendo opções políticas com a desculpa de que não há nenhuma opção melhor. Tanta coragem junta deve ser demonstração de virilidade súbita causada pelo esforço de contenção que viciou estas pessoas a despojarem-se de tudo quanto têm para entregar ao governo de mão beijada. Outra possibilidade é estes preconizadores da austeridade ainda não lhe terem sentido o cheiro na própria casa e assim conseguem verbalizar coisas enquanto ignoram o país real.

O perigo é generalizarem sobre um povo para se revoltarem contra ele. Existem uns tipos que não querem pagar dívidas somente porque têm nostalgia da farra do passado; sim, é verdade e esses já os conhecemos. Mas, por outro lado, há quem sempre tenha rejeitado a usura; até quem deu o corpo às balas contra o sistema, reconhecendo sempre que isto não tinha nada para dar certo. Se uma percentagem considerável da população vai, ou quer, algum dia aprender, é impossível prever. Sei que existem muitos que nunca precisaram de lições para seguir uma conduta que pensa no dia seguinte.

Nesta lição do “pagamento da dívida faz bem à saúde” vale de tudo, inclusive oprimir minorias: quem nunca se identificou com as práticas dos governos; quem os ignorou ou quem os detestou; quem se isolou ou baixou os braços por saber que teimando no centralismo, qualquer esforço por reformar seria sempre frustrante; os mais velhos que descontaram e calaram durante as últimas décadas enquanto assistiram  à sua expropriação pelo rotativo espectáculo destes partidos; quem fez tudo por viver uma vida independente daquilo que o Estado apresenta de bandeja, entre outros.

Lá porque é hora de acertar contas, já é legítimo pisar estas e outras minorias e matar tudo numa só cajadada? A receita que têm para livrar um país da herança socialista é fazer um braço de ferro entre o vingativo e o caprichoso? Ainda ousam afirmar que existe consenso de todos para avançar e sacrificar. Uma razão para desgostar (eufemismo) da democracia: invariavelmente, “paga o justo pelo pecador” porque ir a tribunal agora parece que é desonra.


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