É por gostar de ser chata, incoveniente e por rejubilar quando reúno pormenores sacanas e demonstrações factuais esquecidas, escondidas ou negligenciadas que gosto sempre de voltar com conversas que não estão na ordem do dia. Não que eu fique obcecada quando não levo a minha avante e fique a roer nos assuntos até encontrar algo espectacular que me dê alguma razão ou a razão toda mas simplesmente na tentativa de aproveitar quando a poeira baixa e quando a berraria da esquerdalha omnisensibilitas, supra-condescendente e liberto-matadora, pau-pra toda a moca, descansa depois de explorar as prioridades gritantes da sociedade civil e de esgotar algumas das batalhas que encabeça.
Quem diz a berraria da esquerdalha, diz também a berraria da facção que vive numa vida azul, verde, com gotas de orvalho e papoilas e que se faz representar, nomeadamente pelo partido Portugal Pró Vida, o qual eu deduzo que proponha alternativas originais como a Viver a Vida e outras multivariadas medidas muito abrangentes e sistemáticas. É a triste e arreigada mania portuguesa de restringir a representação de interesses pela criação de partidos políticos "por dá cá aquela palha" em vez de se livrarem de preconceitos ignorantes e de assumirem lobby's. Mas adiante.
Passou o choque de ocasião dos mais recatados nos costumes e passou também a histeria daqueles que tinham a banalização do aborto como estandarte de uma mulher não-conformista, "livre", (dona de si, independente, teimosa, do "quem manda aqui no meu sou eu", do "tira a mão", do "fiz tudo sozinha",) e que apimentava esta visão de vanguarda ética com pinceladas emotivas de estupro que pareciam sugerir Portugal como berço da profanação adolescente e dos remediados sem escolha ou à beira da risco de vida materna. Era urgente legislar portanto, porque esta gente só respira se existir uma lei a autorizar tal acção. Agora sim, o nosso país parece ser um calmo e agradável nicho de procriação desejada e que caminha nas veredas do planeamento familiar rumo aos partos plenos de alegria.
Esqueçamos as imagens de estupro que vitimavam as jovens portuguesas (deviam ser centenas, calculo) e esqueçam a ideia de um Portugal analfabeto que realiza abortos num sítio todo badalhoco sem condições nenhumas, como ironizava o Gato Fedorento na famosa imitação de Marcelo Revelo de Sousa. O que aqui apresento, passado o tempo dos sensacionalismos bem engendrados, passada a sensibilização do povo português e concretizado o objectivo final: realização de mortes assistidas em estabelecimentos públicos à conta dos contribuintes (até dos mais religiosos), é o perfil da prática recorrente no quotidiano normalizado. Temos então senhoras, maioritariamente, com idades compreendidas entre os 20 e os 40 (longe vai a adolescência), com altos níveis de escolaridade (consideráveis vá) e que apresentam como justificação à interrupção o motivo "por opção da mulher". Com esta lei a mulher pode abortar porque sim! Pode abortar porque sim! Vou ao cinema, olha está esgotado, vou abortar.
É por abundarem estas discrepâncias entre argumentos na praça pública e as práticas reais dos realmente interessados que o preferível nestes momentos é não pactuar com debates acessos e manter uma opinião contida e céptica. Resta gozar com grande parte dos mais entusiastas mais exacerbados e com os parvos facilmente convencidos que repetem a argumentação por tópicos numerados e doutrinalmente memorizados.
Fonte: Relatório dos Registos das Interrupções da Gravidez, 1º semestre de 2009. Direcção Geral de Saúde . (Mas quem é que tem paciência para ir ler isto?)
Todos merecemos uma segunda oportunidade, e tal. Sobretudo se tivermos alguém que nos pague a conta.
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