Adoro os prazeres simples. São o último refúgio das pessoas complicadas.
O irrepreensível Oscar Wilde adorava e eu sigo-lhe o exemplo. Todo o sincero e complicado indivíduo admite que concentra toda a sua actividade, permanentemente na rota de colisão com esse estímulo, o perceptível galardão que segue o esforço. O subjectivo sentido de dever sofre menos de falta de persistência do seu sujeito consoante a distância do cobiçado gozo. De todas os critérios de acção, diria pois que o prazer é a imposição mais leve e infalível ao dar sentido ao empenho tantas vezes abalado pela inconstância pessoal ou pela paralela desonestidade alheia.
São os momentos de pausa, livre de fardos rotineiros, dos que amassam a espontânea actividade dos instintos sem data nem hora marcada, que nos facultam compreender quão animalesca é a previsibilidade dos nossos fins. E fazê-lo com o distanciamento e discernimento necessários já que em meio de trabalhos podemos correr o risco de ignorar os sinais da mente e do corpo, chegando mesmo a achar que estaremos a atingir um grau de loucura e cançanso muito particulares e inconfessáveis.
O que muitas pessoas não terão percepcionado ainda, (porque no fundo a tese é minha e nunca a partilhei) é o carácter rotativo da Hierarquia de Necessidades de Maslow. Ingénuos os que alimentem o ego e se julguem atingir um nirvana onde superabunda a auto-realização intelectual, negando a incessante procura de refúgio e alívio normalizador nas necessidades que deixaram para trás. Declarando ou não publicamente, cedendo à vontade própria ou admoestando-a, o facto é que quem está consciente de ter subido ao patamar da auto-realização e de ter esgotado a inesgotável panóplia de aptidões a explorar gradualmente, consegue vislumbrar o fatal destino de recorrer ao apetecível e evasivo. Porque a nossa natureza não dita que nos restrinjamos ao topo da pirâmide de necessidades. Enclausurar-se neste topo de labor e êxtase temporário terá rápidas repercussões na disposição da pessoa, no seu equilíbrio mental e emocional. É nesta lógica que me recuso a aceitar qualquer tipo de disciplina colectiva e ordenada de cima, como boa defensora da disciplina que sou. A disciplina é antes de tudo, personalizada, intransmissível, individualizada, ficando ao critério de cada um a hora do intervalo.
É com certo orgulho que devemos constatar portanto que quanto maior é a busca de libertação em prazeres simples, maior tem sido o desafio a que nos temos proposto e mais árdua tem sido a jornada e provação à resistência intelectual e física. Para todos aqueles que não ficaram convencidos ou, pura e simplesmente ousaram a divergir no meu coerente e invejável pensamento, começo por fazer notar que são pessoas num nível de simplicidade humilhantemente raso e, em segundo lugar aconselho que me contactem para eu providenciar uma experiência alucinante em meio académico, na semana que antevê o curto e denso período de exames. Coisas do meu passado…e do meu futuro, já que as regras ditam período de férias neste preciso momento de refrigério estatal e academicamente definido. Entretanto gozem de prazeres simples na medida do tédio profissional a que estão expostos.
Ps: Boa escolha o quadro do Dali ;)
ResponderEliminar