sábado, 17 de novembro de 2012

Foi a Traição que Te Encheu


Outra culpa não tem quem ama o que é seu;
Culpa de trazer, com amor, o gemer da Pátria às costas.
Conta-lhes, diz aos teus que não foste tu,
Diz quantos o fizeram antes e refizeram sem pudor.
Maldição repetida por este, pelo que vem e pelo antecessor,
Tormento habituado sem redentor.

Esmorece-te mas não abras a porta à humilhação;                                                                                        
Que alento feliz é esse que à tua expressão dá sustento
E que força é essa que diante da ofensiva, contempla a paz da Lezíria?
Porventura enjeitaste o hábito, o adaptar dos ventos,
O caiar da casa e a reconquista dos aldeamentos?

A chaga que te expõe mas não esqueceu
E a lembrança que trazes no rosto,
Oh, semelhante semblante na calma de Agosto,
Não é esta a persistência de quem tanto padeceu?

Braços erguidos em afronta à traição
Não chegam para agonizar os vendidos que tanto enriqueceste
Nem que se abra agora o chão e engula os traidores,
Desleais de tanta respiração e suor agreste
Portadores de tantas perfuradas dores.

Que morte lenta concede ir à algibeira
Do amor que proteges à tua beira?
Doce descanso esse em que dormes a meio da invasão
Compras e vendes pisando o sangue na ladeira
Nasces a abraçar a armadilha da rendição.

Não te deixes embalar como quem é expulso;
A ruína das pontes que pisas, num pisar derradeiro de agonia e ingratidão,
Geme o passado límpido de quem te deu o pulso
E esse génio de uso que o estrangeiro usurpa porque vê que estás cheio.
Não lhes confesses o anseio, não reveles a memória amada,
Cuida do teu celeiro como da honra estilhaçada,
Guarda-o, esconde-o do alheio e confia que estás cheio,
De confiança, de centeio.
Bem sei, coração fraterno, que estás cheio.


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